A morte do menino Aylan Kurdi reacendeu as discussões sobre a crise humanitária que está acontecendo na Síria, desde que a guerra civil começou, em 2011. Nas primeiras doze horas após a divulgação da trágica imagem do pequenino afogado, na última quarta-feira (02), o escritório da ONU em Genebra, na Suíça, recebeu 100 mil euros em doações espontâneas. A ironia maior é que a entrega de alimentos para 229 mil refugiados havia sido suspensa, há uma semana, por falta de dinheiro.
A comoção atingiu os quatro cantos do planeta e, enquanto os líderes europeus discutem soluções para lidar com o problema, muitos cidadãos resolveram agir por conta própria. Na Islândia, mais de dez mil pessoas se dispuseram a acolher refugiados em suas casas. Na Alemanha, um dos países que mais tem oferecido asilo legal, os abrigos temporários estão superlotados e alguns jovens criaram um site chamado Flüchtlinge Willkommen (“Bem-vindos, Refugiados”), que funciona como o popular Airbnb e intermedia quartos vagos com valores mais baratos. A ideia também está conquistando adeptos na Áustria.
Veja aqui como ajudar os sírios e refugiados de outras nacionalidades.
MILHARES CHEGAM AO BRASIL
Embora esteja a 10 mil quilômetros de distância da Síria, o Brasil vem mantendo uma política mais aberta aos refugiados do que a maioria dos governos da Europa. Em 2013, o Comitê Nacional para os Refugiados (Conare), órgão subordinado ao Ministério da Justiça, publicou uma normativa que facilita a concessão de vistos aos oriundos daquele País. Qualquer pessoa que se identifique como síria tem seu ingresso facilitado, sem que seja preciso análise individual, o que é uma postura incomum e vem fazendo do Brasil uma das portas principais de acesso desses refugiados à América, perdendo apenas para o Canadá.
Nossa legislação diferencia os refugiados dos imigrantes comuns pelo fato de terem sido obrigados a deixar sua terra natal por conta de perseguição ou guerra, e quem recebe asilo legal tem sua permanência regularizada em território brasileiro, fazendo jus a direitos trabalhistas e acesso aos serviços públicos de Saúde e Educação.
Os sírios são a maioria dos refugiados no Brasil, seguidos pelos angolanos e colombianos. Segundo informações do Conare, após receberem o visto, estas pessoas são livres para se instalar em qualquer lugar do País e, por isso, não há dados sobre sua distribuição regional. A maior parte reside em São Paulo e no Rio de Janeiro, onde recebem o apoio de instituições como a ONG Cáritas, ligada à Igreja Católica.
Em Pernambuco, nossa reportagem não conseguiu obter informações sobre a presença de refugiados com esta nacionalidade. De acordo com a Cáritas Nordeste II, não existe equipe local oferecendo suporte deste tipo, de forma contínua. “Sabemos que no Rio Grande do Norte há muitos haitianos, mas desconhecemos a proporção dos refugiados sírios no Nordeste”, disse o secretário geral da ONG, Ângelo Zanre.