O texto há muito aguardado com detalhes de um histórico acordo comercial no Pacífico apoiado pelos Estados Unidos foi divulgado nesta quinta-feira (5). O pacto visa liberar o comércio em 40% da economia do mundo, mas é criticado pela falta de transparência.
Se for ratificado, o Tratado Transpacífico (TTP) será um legado deixado pelo presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, e um ponto alto da política de seu governo para a Ásia com o objetivo de combater a crescente influência econômica e política da China.
O Ministério de Relações Exteriores e Comércio da Nova Zelândia publicou o documento em sua página na internet, afirmando que "continuará experimentando revisões jurídicas".
O ministro de Comércio e Investimentos da Austrália, Andrew Robb, aprovou a divulgação do documento, assegurando que todos os que o assinaram, ao finalizar as negociações, haviam concordado em publicá-lo o mais cedo possível.
"A divulgação honra o compromisso e oferece aos australianos a oportunidade de examinar o texto e entender mais objetivamente as áreas que são de seu interesse", disse Robb em um comunicado publicado na internet.
A China respondeu ao TTP com a Parceria Abrangente Econômica Regional (RCEP), uma proposta de área de livre comércio de 16 nações, incluindo a Índia, que seria o maior bloco do mundo nesse âmbito, abrangendo 3,4 bilhões de pessoas.
O TTP, que estabelece normas comuns sobre questões que vão desde os direitos dos trabalhadores à proteção da propriedade intelectual em 12 nações do Pacífico, foi em grande parte mantido à distância do escrutínio público, irritando defensores da transparência por causa das amplas implicações que o acordo terá.
A parceria tem a oposição de sindicatos e de muitos membros da bancada do Partido Democrata, de Obama, incluindo a candidata presidencial Hillary Clinton, que apoiava, no entanto, os trabalhos para o pacto de comércio quando era secretária de Estado durante o primeiro mandato de Obama.
Alguns congressistas republicanos pró-comercio também estão cautelosos com a parceria, o que é um prenúncio de uma dura batalha para fazer a proposta passar pelo Congresso, embora isso não deva acontecer antes de março. O candidato republicano à Casa Branca Donald Trump qualificou o pacto como um "desastre".
O acordo não inclui medidas exigidas por alguns parlamentares dos Estados Unidos, como a punição pela manipulação de moedas com sanções comerciais e a fixação de períodos de monopólio para medicamentos biológicos da próxima geração, por 12 anos.
O acordo sobre o pacto, que ficou mais de cinco anos em discussão, ganhou impulso há um mês, depois que conversações intensas em Atlanta romperam um impasse sobre o comércio de laticínios, produtos farmacêuticos e automóveis.
O TTP foi firmado por Austrália, Brunei, Canadá, Chile, Japão, Malásia, México, Nova Zelândia, Peru, Singapura, Estados Unidos e Vietnã.
MERCOSUL
O alto representante-geral do Mercosul, Dr. Rosinha, disse nesta quarta-feira à EFE em Montevidéu que considera "quase impossível" que o bloco entre no TTP.
"Acho muito difícil assinar um acordo para que o Mercosul entre no TTP, considero quase impossível por causas de suas características. O Mercosul tem que debater, mas para tomar posições tem que ter o acordo em mãos e até o momento só se conhecem algumas partes", afirmou Dr. Rosinha.
Segundo o representante-geral, o Mercosul, integrado por Brasil, Uruguai, Paraguai, Argentina, Venezuela e Bolívia (esse em processo de adesão) não tem uma posição como bloco sobre o tema porque nada foi debatido ainda. No momento, a discussão está sendo feita em cada um dos países-membros.
Além disso, o brasileiro destacou que o TTP ainda não está garantido pelos países que o assinaram e que em todos eles há "oposição" ao acordo.
Dr. Rosinha assistiu como ouvinte à conferência "Uruguai e a região frente aos megatratados do Pacífico", organizada pelo Centro de Formação para a Integração Regional, na qual diferentes especialistas analisaram a situação do país e seu entorno diante do TTP.
Entre os participantes da conferência estava o ex-diretor da Comissão Setorial para o Mercosul no Escritório de Planejamento e Orçamento (OPP) do Uruguai, José Manuel Quijano, que disse à EFE que sua percepção é que o bloco regional não terá uma postura única com relação ao TTP.
"Eu queria que tivesse uma posição única, mas o Mercosul teve muitas dificuldades para ter posições comuns em temas difíceis. A situação do Brasil é complicada e Argentina está em processo de mudança, então antecipar uma posição do Mercosul é muito difícil", comentou.
Quijano, que também foi diretor da Secretaria do Mercosul, afirmou que o TTP põe sobre a mesa "exigências e abordagens a respeito de vários temas que para o Uruguai são difíceis de admitir", como o que inclui as empresas públicas, sobre as quais o país construiu parte de seu desenvolvimento.
"O TTP não é bom para nada e, embora o Mercosul esteja em um momento de fraqueza, não acredito que precise aderir a qualquer coisa", analisou.
Outro dos conferentes, o ex-ministro de Indústria, Energia e Mineração do Uruguai Roberto Kreimerman, disse que o país "deve avançar em colocar sua produção além do Mercosul, mas em combinação" com o bloco regional.
"Para ter uma grande força nós devemos ter dentro de nosso âmbito regional uma coordenação e uma organização que nos permita ir aos fóruns internacionais", manifestou à imprensa antes de seu discurso.
O diretor do Centro de Economia, Sociedade e Empresa da Escola de Negócios de Montevidéu, Ignacio Munyo, disse à imprensa que o Uruguai tem que se perguntar se o TTPo aproxima ou afasta da China, seu principal parceiro comercial e com o qual ainda não possui um acordo de livre-comércio.