A polícia belga realizou nesta segunda-feira (16) uma nova operação no bairro popular de Molenbeeck, em Bruxelas, para tentar encontrar Salah Abdeslam, suspeito chave dos atentados de sexta-feira em Paris, enquanto a justiça acusou dois suspeitos de "atentado terrorista".
"A operação terminou e o resultado é negativo, ninguém foi detido", declarou o porta-voz da procuradoria federal belga, Eric Van Der Sypt.
Na manhã desta segunda-feira, o porta-voz não pôde detalhar se Salah Abdeslam estava na residência cercada pela polícia.
Uma fonte francesa próxima às investigações indicou à AFP que eram realizadas verificações sobre sua presença no apartamento desta residência na comuna popular de Molenbeeckk
A operação foi organizada para deter Salah Abdeslam, um francês de 26 anos nascido na Bélgica que é alvo de um mandato de prisão internacional e apresentado como "perigoso". A imprensa belga o qualificiou de "inimigo público número um".
Na manhã de sábado, Salah Abdeslam ou alguém que apresentou seus documentos foi revistado pela polícia francesa na rodovia para Bruxelas, na altura de Cambrai (a 60 km da Bélgica).
Por não ter maiores informações sobre ele depois dos atentados que deixaram 129 mortos em Paris, na noite de sexta-feira, a polícia não tomou os procedimentos para detê-lo.
A justiça belga emitiu uma ordem de prisão internacional contra Salah, que teria alugado o veículo, um Volkswagen Polo preto, emplacado na Bélgica, que foi encontrado estacionado em frente à casa de espetáculos Bataclan, onde 89 pessoas foram assassinadas.
Seu irmão Brahim, de 31 anos, também de nacionalidade francesa, mas residente em Bruxelas, explodiu-se em frente a um bar no Boulevard Voltaire, na capital francesa.
Brahim havia alugado um carro Seat preto, registado na Bélgica, e encontrado em Montreuil, perto de Paris, no dia seguinte aos ataques. A bordo, três fuzis AK47, onze carregadores vazios e cinco completos.
Um outro irmão, Mohamed Abdeslam, detido em um primeiro momento na Bélgica, foi libertado nesta segunda-feira, sem qualquer acusação.
Salah Abdeslam tinha sido detido na Bélgica por roubo, informou uma fonte com acesso à investigação. Os dois irmãos estão em uma investigação aberta na Bélgica por viagens a Síria, segundo outra fonte. Vários jovens belgas viajam à Síria desde que este país está em guerra civil para se unir a movimentos radicais.
Operação infrutífera
A operação belga mobilizou neste bairro popular de Bruxelas dezenas de policiais, armados e equipados com coletes à prova de bala.
Unidades dos esquadrão anti-bombas e bombeiros também foram enviados para o local, onde um perímetro de segurança foi estabelecido.
A polícia federal pediu no Twitter "com insistência que a imprensa não divulgasse imagens ao vivo da intervenção em Molenbeek. Para a segurança de todos!".
De fato, a transmissão de imagens ao vivo das ações policiais pode ajudar os terroristas a fugir ou responder mais eficazmente às forças de ordem, baseando-se nas imagens televisionadas.
Policiais das unidades especiais cercaram um prédio de Molenbeek, onde um grande perímetro de segurança foi montado, impedindo jornalistas e moradores de se aproximar do local.
Segundo a prefeita de Molenbeeck, Françoise Schepmans, "é possível que haja outras operações. Trata-se de operações selecionadas, que devem ser realizadas na calma", acrescentou.
No sábado, um dia depois dos ataques sangrentos em Paris, a polícia encontrou em Molenbeeck um dos veículos utilizados em alguns dos ataques.
A Bélgica parece ter sido usada como base de retaguarda para alguns terroristas.
A procuradoria belga informou que além de Mohamed Abdeslam, irmão de Salah, outras quatro pessoas detidas como parte da investigação foram libertadas nesta segunda-feira.
"No total cinco pessoas foram liberadas e duas continuam em detenção provisória", indicou a procuradoria federal belga à AFP.
Mohamed Abdeslam foi interrogado por um juiz de instrução que decidiu libertá-lo, de acordo com sua advogada, Nathalie Gallant.
"Ele tem um álibi. Na sexta-feira à noite, estava com seu sócio em Liège (leste da Bélgica), onde trabalha em um projeto de restauração de um bar. As declarações do sócio" confirmam que ele "não poderia ter estado em Paris na sexta-feira", acrescentou. "Ele não estava em contato com seus irmãos nos últimos dias", garantiu.
Em compensação, os dois outros suspeitos mantidos na prisão foram acusados nesta segunda-feira por "atentado terrorista" pela justiça belga.
Os dois suspeitos, que foram detidos no sábado, "estão sob mandado de prisão por atentado terrorista e participação em atividades de um grupo terrorista", indicou a procuradoria em um comunicado.
Segundo a imprensa belga, eles seriam o proprietário e um acompanhante de um carro controlado no sábado em Cambrai (norte da França) na estrada que liga Paris a Bruxelas.