A França bombardeou alvos estratégicos do grupo jihadista Estado Islâmico (EI) na Síria e as forças de segurança realizaram mais de 160 operações, com dezenas de detidos em território francês, em resposta aos atentados de Paris, que já tiveram cinco autores identificados.
Ao meio dia (9h de Brasília), os franceses respeitaram um minuto de silêncio para recordar as vítimas dos atentados mais violentos da história do país, que deixaram pelo menos 129 mortos e 350 feridos, muitos deles em estado grave. Várias cidades europeias seguiram a iniciativa, como sinal de solidariedade.
Apenas 48 horas depois da tragédia, aviões franceses bombardearam no domingo (15) à noite a cidade de Raqa (norte da Síria), reduto do EI, que reivindicou os atentados. Os ataques destruíram um campo de treinamento e depósitos de armas, segundo o governo da França.
O Pentágono anunciou que a coalizão antijihadista, liderada pelos Estados Unidos e que conta com a participação da França, destruiu 116 caminhões-tanque do EI, grupo também conhecido como Daesh.
Na França, o governo reforça o dispositivo de segurança, com a convocação de 3 mil soldados adicionais em seu território, o que eleva a 10.000 o total de militares mobilizados desde os atentados de janeiro.
"Sabemos que existem operações que estavam sendo preparadas e estão sendo preparadas contra a França e outros países europeus", advertiu o primeiro-ministro Manuel Valls, que recomendou "prudência e vigilância".
Diante da ameaça, o presidente francês François Hollande pedirá aos deputados e senadores a prorrogação formal do estado de emergência vigente desde os atentados, durante uma sessão excepcional do Congresso.
O estado de emergência permite, entre outras medidas, operações de busca e apreensão noturnas, como várias das 168 realizadas na madrugada desta segunda-feira.
Operações na França e Bélgica
As forças de segurança realizaram 168 operações no país após os atentados de sexta-feira passada em Paris, com 23 pessoas detidas, 104 em prisão domiciliar e 31 armas de fogo apreendidas, quatro delas de guerra, anunciou o ministro do Interior, Bernard Cazeneuve.
"Isto é apenas o início", disse Cazeneuve.
"Estas ações vão continuar. A resposta da República será de grande envergadura e será total".
Ao mesmo tempo, a polícia belga iniciou uma operação no bairro popular de Molenbeeck, em Bruxelas, considerado um reduto do jihadismo e de onde as autoridades suspeitam que operaram os autores dos ataques.
A operação terminou sem detenções, segundo a promotoria, mas os dois suspeitos já detidos foram indiciados.
As forças de segurança procuravam Salah Abdeslam, irmão de um dos homens-bomba dos atentados, considerado "perigoso" pela polícia francesa e objeto de uma ordem de prisão internacional.
A promotoria francesa anunciou nesta segunda-feira a identificação de dois homens-bomba que participaram nos ataques. Até o momento, cinco terroristas suicidas de sete foram identificados.
Um deles era francês e o outro tinha passaporte sírio, que ainda precisa ter a autenticidade comprovada. Mas as autoridades sabem que entrou na União Europeia em outubro pela Grécia, como milhares de refugiados sírios que transitaram por este país nos últimos meses.
O passaporte foi encontrado junto a seu corpo, nas imediações do Stade de France, área em que detonou os explosivos durante a disputa do amistoso entre França e Alemanha diante 80.000 espectadores. O documento está em nome de Ahmad Al-Mohammad, nascido em 1990 na cidade síria de Idlib.
Segundo um jornal sérvio, que não citou fontes, a polícia sérvia prendeu um migrante que portava um passaporte com o mesmo nome que constava no que foi encontrado em um dos locais dos atentados em Paris.
"O documento, que tinha o mesmo nome e os mesmos dados, mas uma foto diferente, foi encontrado em um centro de acolhida de Presevo e a pessoa que o portava foi interrogada", afirmou jornal Blic, sem citar fontes.
O ministério do Interior por ora não quis fazer comentários.
O outro terrorista identificado nesta segunda-feira, um dos autores do massacre na casa de espetáculos Bataclan, é Samy Amimour, um francês com antecedentes penais nascido em 1987 no subúrbio de Paris.
A Turquia anunciou que advertiu duas vezes a polícia francesa sobre as atividades de um dos terroristas suicidas do Bataclan, Omar Ismail Mostefai.
Os atentados reabriram o debate sobre a chegada nos últimos meses de centenas de milhares de refugiados, que tentam fugir das guerras em seus países, como os sírios.
Dois estados americanos, Michigan e Alabama, anunciaram que não aceitarão a entrada de refugiados sírios por medo de infiltração de integrantes do EI.
Na França, a líder da extrema-direita Marine Le Pen pediu o "fim imediato da recepção de imigrantes" .
Nesta segunda-feira, os parisienses tentavam retomar a vida normal, ainda muito traumatizados pelos ataques, mas decididos a não se deixar amedrontar.
As escolas retomaram as aulas e os museus, teatros e outros centros culturais reabriram as portas, depois de um fim de semana com atividades suspensas.