Mulheres concorrem pela primeira vez às eleições na Arábia Saudita

As eleições municipais de 12 de dezembro são as primeiras da história do país abertas às mulheres como eleitoras e candidatas
Da AFP
Publicado em 27/11/2015 às 22:23


Pela primeira vez as mulheres participam como candidatas em uma campanha eleitoral na Arábia Saudita, país ultraconservador do Golfo onde elas seguem submetidas a inúmeras restrições civis e políticas. 

Precedidas de uma campanha de doze dias, as eleições municipais de 12 de dezembro são as primeiras da história do país abertas às mulheres como eleitoras e candidatas. 

Estas eleições "nos darão confiança", já que "se queremos desenvolver ou reformar nosso país, temos que colocar as mulheres em todos os níveis de decisão", afirma Nasima al-Sadah, candidata em Qatif (leste).

O desafio é imenso neste reino que aplica uma versão rigorosa do Islã. A Arábia Saudita não tem sequer uma ministra e é o único país do mundo onde as mulheres não têm o direito de dirigir. 

Também só podem sair em público se estiverem cobertas dos pés à cabeça, não podem trabalhar, casar ou viajar sem a autorização do marido ou de um homem da família. 

Também não podem comer sozinhas em restaurantes. 

Ainda assim, o rei Abdallah ensaiou durante seu reinado de dez anos (2005-2015) um tímido processo de abertura.

Após organizar as primeiras eleições municipais, Abdallah outorgou em 2011 às mulheres o direito ao voto e à elegibilidade. Dois anos depois, nomeou mulheres para o Majlis as-Shura, um conselho consultivo. 

 

Poucas eleitoras

Sadah parece satisfeita com o número de mulheres candidatas às municipais, mas lamenta o "pequeno número" de eleitoras. 

Ao todo, 900 mulheres figuram entre os 7.000 candidatos que competem por 284 conselhos municipais, segundo números da comissão eleitoral. Mas apenas 130.600 mulheres se inscreveram nas listas eleitorais diante de mais de 1,35 milhões de homens, sobre uma população de 21 milhões de habitantes. 

Algumas mulheres lamentam os obstáculos burocráticos e a ignorância sobre a importância do processo eleitoral.

"Foi muito difícil me candidatar (como eleitora, ndlr)" e "tive que ir várias vezes para que meu nome fosse inscrito", conta Sahar Hasan Nasief, que concorrerá pela região de Yedá (oeste). 

Ainda assim, esta professora universitária aposentada estima que esta é "uma das primeiras etapas a favor dos direitos das mulheres" e conta que até mesmo sua mãe, de 95 anos, se inscreveu para votar. 

 

"Difícil" vencer

As candidatas têm um obstáculo a mais que os homens, já que a proibição de se misturar no reino as impede de falar com os eleitores do sexo oposto, sobretudo nos comícios. 

Por exemplo, Sadah poderá falar frente a frente com suas eleitoras, mas será seu porta-voz que dirigirá uma reunião pública para os homens. 

"Para nós é muito difícil chegar até nossos eleitores", ressaltou a candidata. Para tornarem-se conhecidas, deverão fazer uma campanha forte pelo Twitter e pelo Facebook. 

Também poderão usar cartazes e distribuir panfletos, mas está proibido para as mulheres e os homens exibir suas fotos. 

"Não posso prever minhas possibilidades de ganhar, mas farei meu melhor esforço", declarou Safinaz Abu-Alshamat, uma candidata de 33 anos na região de Meca. 

"Sinceramente, já seria uma surpresa imensa se uma só mulher for eleita", estimou um diplomata ocidental. 

Sadah acredita que pode sair vitoriosa, já que diz ter estabelecido uma relação de confiança com os eleitores de sua circunscrição. "Acreditam em mim", garante. 

Mesmo se for eleita, não terá muito poder: as competências dos conselhos municipais se limitam à manutenção das ruas e parques, assim como a coleta de lixo. 

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