Um capítulo da história britânica acabou nesta sexta-feira quando os mineiros do último turno abandonaram a mina de Kellingley, a única de carvão que continuava em atividade em todo Reino Unido, antes de seu fechamento definitivo.
Os mineiros deixaram um poço antes do meio-dia, pondo um ponto final a 50 anos de serviço desta mina.
"Gostaria de agradecer aos meus colegas por seu trabalho difícil e sua dedicação em tempos complicados. Como eles, pensava em acabar minha carreira aqui, mas não será possível", declarou o diretor da mina, Shaun McLoughlin.
"É um dia triste para todos que são apegados a esta mina. Mas estou orgulhoso de dizer que fizemos o trabalho de maneira profissional", acrescentou.
"Os melhores mineiros britânicos trabalham em Kellingley", anuncia, orgulhosamente, um cartaz na entrada do lugar. Os melhores, e também os últimos de uma indústria que marcou profundamente a história econômica e social do Reino Unido.
Como o resto da Europa, os rostos sujos de preto, as escavações de poços, chaminés de fumaça, a dança de empilhadeiras e caminhões carregados de carvão: tudo agora será uma recordação distante; uma imagem de outros tempos.
Para muitos, o que desaparece hoje é uma parte de suas vidas e da história de suas famílias.
"É o fim de uma era. Esta semana faremos História, a última mina profunda da Inglaterra. Nosso país se construiu sobre o carvão durante a Revolução Industrial", lamenta Tony Carter, de 52 anos, um dos 450 mineiros que ainda desciam todos os dias ao subterrâneo em busca de carvão.
"Meu pai era mineiro. A maioria das pessoas tinha pais mineiros, é nosso patrimônio. É uma vergonha que fechem a mina", desabafa Carter.
Para Keith Poulson, do Sindicato Nacional de Mineradores (NUM, na sigla em inglês), o fechamento é motivo de tristeza e frustração.
"É absolutamente revoltante pensar que vamos dar as costas a uma mina rentável, a uma indústria na qual dispomos de uma força de trabalho qualificada para extrair (carvão), e que simplesmente vamos deixar que feche. É absolutamente escandaloso", disse, indignado.
Este mineiro considera a situação absurda, levando em consideração que a mina é rodeada por três centrais elétricas a poucos quilômetros de distância, entre elas a Drax, a principal usina a carvão do Reino Unido, que abastece de 7% a 8% da demanda elétrica do país.
"Abastecemos a Drax com carvão desta mina. Dispomos de 20 anos ou mais de reservas de carvão prontas para fornecimento à Drax, mas, por alguma razão, já não necessitaremos de carvão britânico", embora a "Drax vá continuar queimando carvão nos próximos dez, quinze anos", argumenta Poulson.
O problema é que, em tempos de acordos internacionais visando conter as mudanças climáticas e a consolidação de uma transição energética, o carvão, cuja combustão gera muitos gases de efeito estufa, tornou-se impopular.
O governo britânico anunciou, em novembro, sua intenção de fechar, antes de 2025, as centrais de carvão mais poluentes.
Assim, das três centrais de carvão próximas a Kellingley, somente a Drax continuará em funcionamento depois de 2016. As importações mais baratas do exterior, especialmente da Rússia e Colômbia, e o aumento do imposto sobre o carvão decidido em abril fizeram o resto do trabalho.
Para o dirigente do NUM, os mineradores são, sobretudo, vítimas das margens industriais e dos impostos, porque o custo do carvão só aumentou nas últimas décadas.
"Quando comecei em 1977, o preço do combustível para as centrais elétricas era de 27 libras a tonelada e hoje o preço de atacado do carvão é de 30 libras a tonelada. Agora me diga, sua fatura elétrica reflete um aumento de somente três libras em 39 anos? Sinto dizer que não."
Apesar do sentimento de abandono, ele recorda das boas recordações e da camaradagem, em condições de trabalho muito duras, sem dúvida.
"Amei cada minuto de meu trabalho, era um grupo fantástico, não existe gente melhor que os mineradores", afirma Tony Carter.