Madre Teresa, uma vida a serviço dos pobres

Agraciada com o Prêmio Nobel da Paz em 1979, Madre Teresa será declarada santa 19 anos após sua morte, em 1997
Da AFP
Publicado em 18/12/2015 às 17:10
Agraciada com o Prêmio Nobel da Paz em 1979, Madre Teresa será declarada santa 19 anos após sua morte, em 1997 Foto: Foto: JOYCE NALTCHAYAN / AFP


Madre Teresa de Calcutá, a religiosa que dedicou a vida a serviço dos pobres, será canonizada em 2016 pelo papa Francisco, que a considera um exemplo de solidariedade e de entrega, mas também de tenacidade e pragmatismo.

Sempre trajando seu sári de algodão branco com bordado azul, Madre Teresa foi, durante a segunda metade do século XX, o símbolo da defesa incansável dos pobres.

Agraciada com o Prêmio Nobel da Paz em 1979, Madre Teresa será declarada santa 19 anos após sua morte, em 1997.

A canonização, obtida graças a um segundo milagre registrado no Brasil - uma cura inexplicável -, será celebrada justamente no ano dedicado à Misericórdia pelo papa argentino, com um Jubileu Extraordinário.

Nascida em 26 de agosto de 1910 em uma família albanesa em Skopje, capital da atual república da Macedônia, que pertencia à então Albânia, Gonxhe Agnes Bojaxhiu entrou em 1928 para a ordem Irmãs da Nossa Senhora de Loreto, com sede na Irlanda, e tomou o nome de Teresa em homenagem à Santa Teresa de Lisieux.

Enviada a Calcutá, na Índia, lecionou ali durante vários anos em uma escola para meninas da classe alta, antes de receber o "chamado dos chamados", ou seja, a vocação de servir a Deus por intermédio dos pobres.

O arcebispo de Calcutá neste momento, Fernando Periers, recusava-se a deixá-la sair de sua ordem. Afirmava que ela era jovem demais para este trabalho, apesar de ter 37 anos, tachando-a de "novata incapaz de acender corretamente uma vela".

Mas ela conseguiu o apoio de seus superiores e, inclusive, do papa Pio XII.

No começo de 1948, foi viver nos bairros pobres de Calcutá, onde suas ex-alunas se tornaram, ao lado dela, as primeiras Missionárias da Caridade.

Em 1952, após ter de assistir a uma mulher que agonizava abandonada na rua, com os pés roídos por ratos, algo que a tocou profundamente, decidiu se dedicar completamente a uma nova tarefa: ajudar os mais pobres entre os pobres.

Após insistir com as autoridades da cidade, conseguiu que lhe cedessem um antigo prédio para cuidar dos doentes de tuberculose, disenteria e tétano, ou seja, aqueles que nem os hospitais queriam atender.

Dezenas de milhares de necessitados passaram por este local: muitos encontraram uma morte digna, sempre com respeito à sua religião, outros se recuperaram graças aos cuidados das freiras.

Em Calcutá, Madre Teresa também abriu um orfanato, o Sishu Bhavan, e um leprosário, o Shantinagar, onde atualmente são tecidos os sáris brancos com bordado azul usado pelas 4.500 Missionárias da Caridade em mais de 100 países.

 

Vida austera

Na sede da congregação, em Calcutá, situada em uma avenida da megalópole indiana, a Madre Teresa, famosa e premiada em todo o mundo por seu trabalho, sempre levou uma vida austera, compartilhada com noviças e candidatas, trabalhando sem descanso.

Ali morreu em 5 de setembro de 1997, aos 87 anos, e seu túmulo costuma estar coberto de pétalas de flores, em homenagem à sua figura.

Com tino para os negócios, em uma ocasião perguntou ao papa João XXIII se as riquezas do Vaticano poderiam ser usadas para ajudar os pobres.

O papa, então, doou a ela um Rolls Royce, o qual vendeu rapidamente a um bom preço em um leilão.

Durante o pontificado de Paulo VI, a congregação se espalhou pelo mundo e chegou a fundar casas na América Latina, particularmente na Venezuela.

João Paulo II reconheceu publicamente sua admiração por esta pequena e firme mulher e, em meados dos anos 1980, abençoou a pedra fundamental da casa aberta pela freira em Roma para acolher moradores de rua.

O papa Francisco, que a conheceu em 1994, reconheceu ter ficado impressionado com seu caráter forte, que lhe teria despertado medo se fosse sua superior.

Madre Teresa costumava dizer que sua contribuição era apenas uma "gota em um oceano de sofrimentos", mas que "se não existisse, essa gota faltaria no mar".

Seus críticos acusavam-na de receber presentes sem perguntar de onde vinham e de ter sido uma opositora fervorosa ao aborto e à pílula, bem como de usar seu prestígio para denunciar essas práticas em todo o mundo.

Durante o processo para sua beatificação, descobriu-se que ela sofria de crises religiosas e que chegou até a questionar a existência de Deus.

"Nunca vi que me fechassem uma porta. Acho que isto acontece porque veem que não vou pedir, mas dar. Hoje em dia, está na moda falar dos pobres. Infelizmente, não falar com eles", afirmou em uma ocasião.

Ao morrer, o governo indiano lhe concedeu um funeral de Estado e seu caixão foi levado por grande parte da cidade na mesma carruagem em que foram levados os restos de Mahatma Gandhi.

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