Crise entre Arábia Saudita e Irã preocupa a comunidade internacional

Washington, Moscou e vários países europeus apelaram para a calma e contenção
Da AFP
Publicado em 05/01/2016 às 11:09
Washington, Moscou e vários países europeus apelaram para a calma e contenção Foto: Foto: ATTA KENARE / AFP


A comunidade internacional está cada vez mais preocupada com a crise entre o Irã e a Arábia Saudita, que ganhou mais um capítulo nesta terça-feira (5) com a decisão do Kuwait de retirar seu embaixador em Teerã.

Vizinho e aliado tradicional de Riad, o Kuwait se tornou o quinto país árabe a romper ou reduzir as suas relações com a República Islâmica do Irã, depois da Arábia Saudita, Bahrein, Emirados Árabes Unidos e Sudão.

O Kuwait retirou seu embaixador para protestar contra os ataques contra as missões diplomáticas sauditas no Irã na sequência da execução do clérigo xiita Nimr al-Nimr no sábado (2) na Arábia Saudita.

Teerã minimizou o efeito desses anúncios, afirmando que a Arábia Saudita será quem mais pagará caro.

"A ruptura das relações pela Arábia Saudita e seus vassalos não tem efeito sobre o desenvolvimento do Irã", afirmou Mohammad Bagher Nobakht, o porta-voz do governo iraniano.

Esta escalada entre os dois rivais xiita e sunita é acompanhada com grande preocupação pela comunidade internacional, que teme uma acentuação na desestabilização e nos conflito no Oriente Médio.

Washington, Moscou e vários países europeus apelaram para a calma e contenção.

"A crise nas relações entre a Arábia Saudita e o Irã é muito preocupante" e poderia levar a "uma série de consequências adversas na região", advertiu a ONU.

'Profunda preocupação'

Reunido nesta segunda-feira à noite em Nova York, o Conselho de Segurança também expressou sua "profunda preocupação" após os ataques no Irã. Ele pediu a Teerã para "proteger as instalações diplomáticas e consulares e seus funcionários" e "respeitar plenamente as suas obrigações internacionais" nesse sentido.

A Arábia Saudita instou o Conselho a condenar o ataque a suas missões diplomáticas, que constituem uma "grave violação das Convenções de Viena", de acordo com o seu embaixador na ONU, Abdallah al-Muallimi.

A missão iraniana na ONU expressou o "lamento" de Teerã e prometeu "tomar as medidas necessárias para assegurar que tais incidentes não se repitam".

A declaração do Conselho, adotada por unanimidade pelos seus 15 membros, não fez, no entanto, nenhuma menção a execução do clérigo Nimr al-Nimr.

Este saudita opositor do regime foi executado no sábado com 46 outras pessoas condenadas por "terrorismo".

O presidente iraniano, Hassan Rohani, voltou a reagir na terça-feira, dizendo que a Arábia Saudita não podia responder "aos críticos cortando suas cabeças". "Espero que os países europeus que sempre reagem às questões relacionadas com os direitos Humanos façam o seu dever", acrescentou.

O Irã está entre os países que mais executam condenados à morte, juntamente com a própria Arábia Saudita, China e Estados Unidos.

A execução na Arábia Saudita de Nimr al-Nimr provocou protestos em todo o mundo xiita, principalmente em Teerã, onde 3.000 pessoas manifestaram na segunda-feira contra a família sunita que governa o reino saudita.

No Iraque, país vizinho do Irã e de maioria xiita, milhares de partidários do clérigo xiita Moqtada Sadr protestaram em Bagdá, pedindo que seu governo rompa relações com a Arábia Saudita.

Duas mesquitas sunitas foram alvo de ataques, e o muezim de uma terceira derrubado.

Síria em jogo

O embaixador saudita na ONU afirmou que a ruptura das relações com o Irã não impediriam Riad de "continuar a trabalhar duro para apoiar os esforços de paz na Síria e no Iêmen", e que a Arábia participaria nas próximas conversações de paz sobre a Síria, previstas para 25 de janeiro, em Genebra, sob a égide das Nações Unidas.

O Irã, junto com a Rússia, são os principais aliados de Damasco, enquanto a Arábia Saudita apoia a oposição síria.

Neste contexto, o mediador da ONU para a Síria, Staffan de Mistura, reuniu-se nesta terça-feira em Riad  com diplomatas e representantes da oposição síria.

Ele deve viajar para Teerã e depois Damasco no fim de semana.

A missão de Mistura se anuncia particularmente difícil. Porque, "para obter uma solução política na Síria, seria necessário que os Estados-chave que suportam ambos os lados façam concessões mútuas, e forcem seus aliados sírios a fazer o mesmo", declarou Noah Bonsey, especialista do International Crisis Group.

Mas "as coisas estão se movendo na direção oposta."

 

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