O primeiro-ministro britânico, David Cameron, negou o risco de um motim na campanha para o referendo sobre a União Europeia ao anunciar, nesta terça-feira, que os membros de seu governo serão livres para defender a permanência ou a saída do bloco.
"Haverá uma posição clara do governo, mas os ministros ficarão livres quanto a seus planos individuais" na campanha para o referendo, declarou Cameron ante o parlamento.
A BBC já havia antecipado que Cameron daria liberdade a seus ministros.
Os ministros poderão se pronunciar em um sentido ou em outro, mas não antes da divulgação dos resultados da renegociação dos termos da adesão britânica na UE que Cameron mantém com seus sócios europeus, de acordo com a mesma fonte.
O primeiro-ministro apresentou quatro demandas para fazer campanha a favor de seguir na UE no referendo que deve ser realizado em uma data a ser informada até o fim de 2017.
Em primeiro lugar, Cameron quer que sejam garantidos os direitos dos países da UE que não usam o euro; segundo, que o Reino Unido fique fora dos passos seguintes para uma maior integração europeia; terceiro, potencializar a competitividade do mercado único, e quarto, permitir que Londres imponha limites às ajudas sociais que dá aos imigrantes europeus, o ponto mais polêmico.
PARTIDO CONSERVADOR DIVIDIDO
O resultado das negociações será divulgado na cúpula europeia de 18 e 19 de fevereiro em Bruxelas, mas Cameron disse, lembrando da cúpula de dezembro, que "existe um grande apoio para que o Reino Unido permaneça na União Europeia".
"Os líderes europeus deram início a suas declarações afirmando, não que o Reino Unido esteja melhor que a Europa, mas que a Europa está melhor com o Reino Unido", afirmou.
"Todos desejam alcançar um acordo que solucione as inquietações que levantamos", acrescentou.
"Há um caminho para este acordo", destacou Cameron, reiterando que não descarta nada, caso o resultado seja insatisfatório.
O Partido Conservador está profundamente dividido e o passo dado por Cameron anula a possibilidade de um motim. Além disso, obrigará todas as figuras conservadoras -como o prefeito de Londres, Boris Johnson, e o ministro de Finanças, George Osborne- a se posicionarem.
O deputado conservador Steve Baker, contrário à permanência na União Europeia, disse recentemente que a metade de seus colegas "se inclina fortemente" ao abandono do bloco.
Por outro lado, o primeiro-ministro John Major se mostra partidário a seguir na UE, tendo pedido a Cameron que não desse liberdade a seus ministros.
Quanto à população, as pesquisas apontam um empate entre os dois posicionamentos.
Para os analistas políticos, o primeiro-ministro não tinha escolha.
"Impor a responsabilidade coletiva aos ministros levaria a um desastre, a uma demissão em massa que poucos governos poderiam sobreviver", escreveu no jornal The Guardian o comentarista político Matthew d'Ancona.
De qualquer forma, Cameron dissociou seu futuro do resultado do referendo, durante sua presença no parlamento.
"Haja o que houver, continuarei liderando o governo da mesma maneira que tenho feito", respondeu a um deputado.