Brasileira que mora na Cisjordânia e cujo filho está preso pelo governo israelense, Nadia Hamed diz que Israel tem fechado o cerco a cada dia e chegado mais próximo dos palestinos que moram na cidade de Silwad. Ela faz duras críticas às vistorias feitas frequentemente pelo Exército israelense sem nenhum tipo de aviso prévio.
O filho de Nadia, Islam Hamed, foi preso em 2015, após ter sido detido outras vezes e cumprir pena por mais de cinco anos. Na semana passada, a casa de Nadia foi completamente revistada pela polícia de Israel durante a madrugada. No último fim de semana, as forças israelenses voltaram a bater às portas da casa de Nadia, desta vez para intimar o outro filho dela, Bilal Hamed, para um interrogatório.
“A gente está acostumadíssimo. Eles sempre fazem isso”, afirma. Segundo ela, a primeira ação das forças israelenses ocorreu às 2h de quarta (6) para quinta-feira passada, e as autoridades não deram nenhuma explicação sobre o motivo da revista.
“Depois de levantarmos, puseram-nos para sentar na sala de jantar e começaram a revistar todos os quartos da minha casa. Se a gente abrir a boca para fazer qualquer pergunta, eles mandam você se calar e apontam armas. Eles tiraram as roupas que estavam no guarda-roupa, colocaram o sofá de cabeça para baixo”, conta.
Os homens ficaram por mais de uma hora na casa da brasileira. De acordo com Nadia, na mesma noite mais 28 casas foram revistadas pelo governo de Israel, algumas delas após a destruição da fechadura das portas.
Procurado pela Agência Brasil, o Ministério das Relações Exteriores confirmou que a casa de Nadia e outras residências foram “alvo de revista” pelas autoridades israelenses. Segundo o Itamaraty, esse tipo de ação em territórios ocupados por palestinos costuma ocorrer de forma “rotineira”.
De sábado (9) para domingo, novamente de madrugada, o Exército entrou mais uma vez em sua casa, desta vez para convocar Bilal a comparecer diante das autoridades policiais na quinta-feira da próxima semana (21).
“Cada região tem um capitão sionista [judeu nacionalista]. Quando ele é trocado, começa a chamar os jovens para conhecer. Fica umas duas horas [interrogando], [pergunta] o que faz, se estuda, se trabalha. No fim, pergunta para o moço se quer trabalhar com ele de espião”, conta.
De acordo com a brasileira, a cidade de Silwad tem sido gradualmente ocupada pelos israelenses. “Aqui é uma ocupação. Temos terra em toda essa parte. Mas os colonos construíram casas, estão pegando nossa terra e construindo casa para eles. Tenho terras nesse lugar por parte do meu pai e do meu marido. Eles pegaram a terra e hoje está uma enorme vila”, critica.
Na opinião de Nadia, as operações dos últimos dias não têm relação com o fato de o filho estar preso. No ano passado, Islam foi posto em liberdade pela Autoridade Nacional Palestina após ficar 100 dias em greve de fome, em protesto pela prisão que considerava irregular. Ele alegava que já tinha cumprido o tempo definido pela Justiça palestina.
Em outubro, Islam foi preso novamente. Nadia afirma que a família não tem permissão para visitá-lo na prisão e que o único contato que tem com o filho é nos momentos em que ocorrem audiências no tribunal. “Eles falam que ele tentou comprar arma. Prenderam Islam perto de uma casa, se ele tivesse arma, iriam encontrá-la com ele”, argumenta.
Aos 17 anos, Islam foi preso pela primeira vez sob a acusação de atirar pedras em policiais israelenses, e ficou detido por cinco anos. Após ficar nove meses em liberdade, ele foi novamente preso sem uma acusação concreta, mas por supostamente oferecer perigo à segurança da nação israelense.
“Por que eles entram? É nossa cidade. Por que ficam em volta da gente? Por que eles amanhecem cedo entrando em nossa cidade? Eles entram com o Exército. Então, quando os moços veem isso, as crianças e os adolescentes... Eles ficam procurando briga e quando acontece alguma coisa, somos nós os terroristas”, questiona.
Antes de ser preso pela última vez, Islam estava escondido dos judeus em um local desconhecido da família, informou a mãe. O brasileiro-palestino mantém uma atividade política de oposição ao governo palestino.
“Ele, como qualquer moço, procura defender a terra, um direito nosso, um direito que nós temos. As coisas são difíceis. É difícil para explicar. Só mesmo morando para ver como nós, palestinos, sofremos aqui. A gente não pode ser livre para nada. Mesmo viajar para Jordânia [país vizinho], quando chegamos na divisa, se não quiserem deixar, a gente não entra”, queixa-se.
A Agência Brasil entrou em contato com a Embaixada de Israel no Brasil para questionar os motivos das operações do Exército e também para saber a situação de Islam e as acusações movidas contra ele, mas não recebeu resposta até o fechamento desta matéria.