Trégua na Síria se mantém em meio a acusações de violação

Nos bairros rebeldes de Aleppo, estudantes, que costumam andar colados aos muros para se esquivar de bombardeios, caminhavam hoje tranquilamente pelas ruas
AFP
Publicado em 28/02/2016 às 14:27
Nos bairros rebeldes de Aleppo, estudantes, que costumam andar colados aos muros para se esquivar de bombardeios, caminhavam hoje tranquilamente pelas ruas Foto: Foto: AFP


Os protagonistas do conflito sírio acusaram-se mutuamente, neste domingo, de terem violado a trégua acordada, em seu segundo dia, embora tenham reconhecido que a mesma está sendo respeitada no geral. Nas grandes cidades, moradores tiveram uma noite tranquila e saíram na manhã deste domingo para fazer compras, aproveitando a calma rara.

Nos bairros rebeldes de Aleppo, estudantes, que costumam andar colados aos muros para se esquivar de bombardeios, caminhavam hoje tranquilamente pelas ruas. Da parte russa, o general Serguei Kuralenko, responsável pelo centro de coordenação russo na Síria, acusou os rebeldes de terem violado nove vezes a trégua. Mas disse que, "no geral, o acordo de cessar-fogo na Síria está sendo respeitado."

O porta-voz do Alto Comitê para as Negociações (HCN), instância com sede na Arábia Saudita que reúne os grupos políticos e armados da oposição, anunciou que, ontem, houve 15 violações da trégua pelas forças do regime e seus aliados, duas delas na localidade de Zabadani.

"Mas em termos gerais, está bem melhor do que antes, e as pessoas se sentem melhor", disse Salem Al-Meslet em Riad. A Arábia Saudita, que apoia a oposição síria, acusou hoje "a aviação russa e a aviação do regime sírio" de terem violado o cessar-fogo. 

Segundo o Observatório Sírio de Direitos Humanos (OSDH), aviões bombardearam na manhã de hoje seis localidades das províncias de Aleppo e uma de Hama, deixando um morto.  O diretor da ONG, Rami Abdel Rahman, explicou que apenas um dos povoados bombardeados, Kafar Hamra, está sob o controle dos jihadistas da Frente al-Nosra, braço sírio da Al-Qaeda. Os demais estão nas mãos dos rebeldes, mas os jihadistas se encontram em regiões vizinhas.

O acordo de trégua inclui apenas os combates entre os rebeldes sírios e as forças do regime, apoiadas pela aviação russa, e exclui os grupos jihadistas Estado Islâmico (EI) e Frente Al-Nosra, que controlam mais de 50% do território sírio.Segundo o diretor da agência de notícias pró-rebeldes Sahba, os bombardeios foram realizados por aparelhos russos. "Trata-se de uma violação flagrante (...) Em Darat Azza, os aviões atacaram uma padaria. Vocês acham que os combatentes da Al-Nosra vão buscar pão de manhã? Nunca acreditamos que a aviação russa interromperia os ataques", disse Maamun Al-Khatib à AFP.

Nos Estados Unidos, um funcionário do alto escalão tentou minimizar a fragilidade da trégua neste domingo, afirmando que "estes reveses são inevitáveis. Mesmo nas melhores circunstâncias, não esperamos que a violência termine imediatamente. Estamos certos de que continuará havendo confrontos, em parte devido a organizações como EI e Al-Nosra."

 - Silêncio estranho -

O regime sírio se mostrou cauteloso, e, segundo o jornal Al-Watan, ligado ao poder, "há uma calma rara nas cidades, mas deve-se esperar dois ou três dias para garantir que se mantêm o fim das hostilidades e o compromisso das partes envolvidas".

"Há algo de estranho neste silêncio. Estamos acostumados a dormir e acordar com o barulho dos bombardeios e da artilharia", comentou Abu Omar, 45, que gerencia uma padaria no setor leste da cidade de Aleppo, controlado pelos rebeldes. "Estou feliz, mas triste pelas regiões que não participam da trégua e cujos moradores estão sofrendo."

A AFP constatou que a calma nos arredores de Damasco era total, e que havia, inclusive, alegria nas ruas. O estudante Mahdi Al-Ani, 25, que mora em Dummar, noroeste da capital, quer acreditar na trégua. "No meu bairro, estamos acostumados com o barulho dos obuses. Ontem, ouvi duas deflagrações, mas pensei: 'Não, não ouvi nada, a trégua vai continuar, se Deus quiser'." 

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