Últimos meses para o presidente dos EUA, Barack Obama, deixar um legado

A possibilidade de um fim de mandato melancólico foi apontada por parte dos analistas políticos quando o presidente Obama perdeu o controle do Senado, em novembro de 2014
MARCOS OLIVEIRA
Publicado em 28/02/2016 às 15:30
A possibilidade de um fim de mandato melancólico foi apontada por parte dos analistas políticos quando o presidente Obama perdeu o controle do Senado, em novembro de 2014 Foto: Foto: Divulgação da Camapanha de 2008 e AFP


Na busca por um legado administrativo, as últimas semanas reforçam a tônica do que devem ser estes últimos meses de mandato do presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, no posto até 20 de janeiro de 2017. O democrata, que teve a vitória em 2008 transmutada em fato histórico capaz mudar a geopolítica mundial, recebendo o prêmio Nobel da Paz em 2009, tem na agenda a conclusão de planos ambiciosos para que não passe para a História como o que na política americana é conhecido como “lame duck - pato manco”.

 

São ações que mereceram manchetes só nas das últimas duas semanas: o anúncio da viagem A Cuba, o envio ao Congresso de proposta para fechar o complexo de Guantánamo – uma das suas principais promessas de campanha há sete anos –, e a tentativa de levar para mesa de negociações os atores, ou parte deles, envolvidos na guerra da Síria. Sobre o Estado Islâmico, Obama afirmou que “não haverá cessar-fogo com relação ao Isis, continuamos a ser implacáveis na busca deles.” A evolução do grupo terrorista é lembrada constantemente em debates entre os pré-candidatos à presidência pelo partido Republicano como responsabilidade e o maior ponto falho da política externa do democrata. 


A possibilidade de um fim de mandato melancólico foi apontada por parte dos analistas políticos quando o presidente Obama perdeu o controle do Senado, em novembro de 2014. No afã dos republicanos de tirar o partido Democrata do poder, era grande a chance de o chefe de Estado ter barrado qualquer movimento e se ver sem grandes ações para mostrar no final do mandato. Daí o motivo de se voltar à política externa e adotar internamente uma série de decretos polêmicos – como o que visa regularizar até 5 milhões de imigrantes –, observou, por e-mail ao, o cientista político pela Yale University, Stevem Smith. A medida imigratória está suspensa e espera apreciação da Suprema Corte. Os próprios republicanos conhecem bem a figura do “lame duck”, com o fim de mandato apagado do ex-presidente George W. Bush, antecessor de Obama. 

“O fato de Obama ter perdido o controle total do Congresso em 2014, de fato, fez as suas ações de maior impacto serem dirigidas para a política externa nesses dois anos, como a reaproximação com Cuba e com o Irã”, explica Smith. Mesmo que, no essencial, algumas precisem da aprovação do Congresso. No caso de Cuba, por exemplo, a queda do embargo econômico necessitará do apoio de parte dos republicanos. “Porém, o movimento de reaproximação fica como legado seu, mesmo que a queda dos embargos não saia este ano.” O pesquisador, inclusive, acha impossível que seja aprovado com um Congresso dominado pelos republicanos, aquecidos pela disputa presidencial extremada como esta. “É um tema delicado mesmo se o ano não for eleitoral.”

Fora o “legado Cuba”, a pauta de Obama segue outras missões (veja arte) não tão difíceis de serem concluídas. Para o cientista político e pesquisador da Universidade de Lisboa Pedro Cunha, o acordo da Parceria Trans-Pacífica (TPP, na sigla em inglês) se enquadra nessa situação: “Por ser de interesse do partido Republicano, a maior resistência para aprovação vem justamente da base do próprio presidente.”

Com mais onze meses de mandato e sem o controle do Congresso, Obama tenta entrar para a galeria ao lado de nomes como Franklin D. Roosevelt e Ronald Reagan. Que, embora tenham governado em tempos de guerra, também não tiveram controle do Congresso – em parte dos mandatos – e são lembrados como grandes presidentes. 

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