O enviado especial da ONU para a Síria conclui nesta sexta-feira (18) a primeira semana de negociações em Genebra, reunindo-se sucessivamente com o regime e a oposição, que quer avançar rápido e abordar a questão central da colocação em andamento de uma transição política.
Depois de receber uma delegação de Damasco no meio da manhã e depois a do Alto Comitê de Negociações (ACN, oposição), Staffan de Mistura terá se reunido no total três vezes com cada grupo ao longo da semana.
Para a oposição, já é hora de começar a debater a questão central: as modalidades de uma transição política rápida para por fim a um conflito que esta semana entrou em seu sexto ano.
"Queremos avançar rápido. Queremos evitar um processo que continue estagnado", afirmou nesta quinta-feira Bassma Kodmani, uma representante do ACN, depois do encontro com o enviado da ONU.
Frequentemente criticado por suas divisões, sua organização caótica e sua legitimidade, o ACN, que reagrupa políticos e representantes dos grupos armados, reelaborou sua estratégia e quer apresentar-se como "um sócio sério" nas discussões.
A oposição entregou na quinta-feira um "memorando detalhado" sobre sua visão do órgão de transição, que supostamente deverá ser colocado em andamento dentro de seis meses, preparar uma nova Constituição e realizar eleições em 18 meses.
"Mantivemos discussões substanciais sobre a transição política", assegurou De Mistura, declarando-se impressionando pela preparação da oposição. "Espero conseguir a mesma clareza por parte do governo", acrescentou.
O formato do órgão de transição constitui um dos principais pontos do bloqueio. Para a oposição, é preciso excluir o presidente Bashar al-Assad, enquanto que, para o regime, a transição deve ser conduzida por um governo aberto aos opositores, mas sempre sob a autoridade do atual presidente.
- Brecha importante -
O enviado da ONU admitiu na quinta-feira que a brecha entre os dois grupos é importante, mas considerou que ambos estão de acordo sobre princípios cruciais, como a unidade e a integridade do país.
De fato, o regime e a oposição rejeitaram unanimemente o anúncio dos curdos sírios sobre o estabelecimento de um sistema federal para as zonas do norte do país sob seu controle.
Atores indispensáveis na crise, os curdos controlam atualmente 14% do território sírio (26.000 km2) e três quartos da fronteira sírio-turca. No entanto, não estão incluídos nas negociações em Genebra pela oposição taxativa da Turquia, que vê seu partido, o PYD, como uma extensão do PKK (curdos turcos), que considera terrorista.
No terreno, a trégua imposta em 27 de fevereiro por Moscou e Washington se mantém, apesar de algumas violações esporádicas.
Os últimos três dias tem sido surpreendentemente tranquilos, segundo palavras de De Mistura, que, apesar disso, lamentou a lentidão do processo de distribuição de ajuda humanitária.
Um grupo de trabalho apoiado pela ONU apresentou na quinta uma proposta à Síria para que a ajuda possa chegar a um milhão de sírios sitiados antes do final de abril, apesar de o chefe deste grupo, Jan Egeland, reconhecer que a colocação em prática desse plano depende fundamentalmente de Damasco.
De Mistura afirmou na quinta que a questão dos presos políticos - milhares de pessoas - também era uma de suas prioridades.
"Também há a questão dos sequestros", acrescentou, referindo-se aos grupos rebeldes.