Tropas sírias entraram na cidade de Palmira e forças iraquianas lançaram uma ofensiva contra Mossul, intensificando a pressão nos redutos do Estado Islâmico (EI).
Para tentar pôr fim ao conflito sírio, que favoreceu a escalada desta organização, capaz também de golpear a Europa, o chefe da diplomacia americana, John Kerry, se reunia em Moscou com seu contraparte russo, Serguei Lavrov, antes de se encontrar à noite com o presidente russo, Vladimir Putin.
O exército sírio, apoiado em terra pela milícia xiita libanesa Hezbollah, por um comando das forças especiais russas e pela aviação de Moscou, entrou nesta quinta-feira na cidade de Palmira, controlada há quase um ano pelo EI.
"As forças do regime entraram em Palmira pelo lado sudoeste, pelo bairro de al Gharf", afirmou à AFP o Observatório Sírio de Direitos Humanos (OSDH), com sede no Reino Unido, que informou que o exército avançava lentamente "pelas minas colocadas" pelos radicais.
Uma força militar disse à AFP que "o exército entrou pelo lado noroeste depois de ter assumido o controle de uma parte do Vale das Tumbas", onde ficam as famosas torres funerárias.
Outra fonte afirmou que um comando de forças especiais russas se encontrava no terreno, onde dirige operações e "intervém diretamente quando é necessário".
Um oficial das forças especiais russas morreu em combates perto da cidade síria de Palmira, informou um porta-voz militar russo na Síria - citado por agências russas.
Segundo o OSDH, 40 extremistas e oito membros das forças do regime morreram em combates nas últimas 24 horas.
A reconquista da cidade seria uma vitória estratégica e simbólica para o presidente sírio Bashar al Assad, já que quem controla essa posição, terá o domínio do vasto deserto que se estende da zona central da Síria até a fronteira com o Iraque, apontaram especialistas.
A cidade, declarada Patrimônio da Humanidade, continha numerosos tesouros antigos como o Arco de Triunfo, os templos de Bel e de Balshamin e as torres funerárias, símbolo da importância da cidade nos primeiros séculos depois de Cristo. Muitos dos sítios arqueológicos foram destruídos, em uma ação filmada e divulgada pelo EI.
O diretor de Antiguidades da Síria, Maamoun Abdelkarim, indicou nesta quinta-feira à AFP que dois dos maiores tesouros arqueológicos que o EI destruiu com explosivos, os templos de Bel e Baal-Shamin, serão reconstruídos sob a supervisão do Unesco depois da "libertação próxima" de Palmira.
Ao mesmo tempo, o Iraque lançou uma ofensiva para recuperar Mossul, segunda cidade do país e principal alvo das autoridades iraquianas, que buscam recuperar os territórios em mãos do EI desde 2014.
O exército e as Unidades de Mobilização Popular, coalizão de milícias principalmente xiitas, lançaram a ofensiva, contando com o apoio da coalizão internacional liderada pelos Estados Unidos, cujos aviões efetuaram oito bombardeios nos arredores de Mossul.
O primeiro-ministro iraquiano, Haider al-Abadi, felicitou em comunicado os combatentes que "tiveram seu primeiro êxito com a tomada de vários povoados" perto de Mossul.
Mossul, assim como Palmira e Raqa (norte), fazem parte do "califado" proclamado por Abu Bakr al Bagdadi, líder do EI, em 2014.
Kerry em Moscou
O chefe da diplomacia americana se reuniu com o seu colega russo, Sergei Lavrov, antes de um encontro à noite com o presidente Vladimir Putin.
"Sei que muitas pessoas estão iludidas, Sergei", disse Kerry, antes da reunião.
Em Moscou, americanos e russos devem discutir os avanços da primeira rodada das negociações inter-sírias sob os auspícios da ONU, que se encerra nesta quinta-feira, em Genebra, sem qualquer progresso substancial.
As discussões sobre uma "transição" política na Síria seguem centradas no destino do presidente Bashar Al-Assad.
Washington e a oposição síria exigem a sua partida, enquanto Moscou o apoia e argumenta que apenas o povo sírio pode decidir seu destino.
A delegação americana continua, no entanto, cautelosa sobre o resultado de sua visita à Rússia e insiste que seu objetivo é avaliar a verdadeira posição de Putin, mais do que convencê-lo a mudar de opinião.
O ciclo de negociações indiretas entre o governo e forças de forças opositoras, com a mediação da ONU e o acompanhamento de Estados Unidos e Rússia, entre outros países, chegou ao fim nessa quinta-feira.
O enviado especial da ONU, Staffan de Mistura informou nesta quinta-feira que as negociações de paz sobre a Síria devem ser reiniciadas no dia 9 de abril.
"O objetivo é começar em 9 de abril", declarou de Mistura aos jornalistas.
A delegação governamental pediu para voltar à Suíça depois das eleições parlamentares que o regime organiza em 13 de abril.
Questionado sobre esse pedido, de Mistura disse: "As únicas eleições sobre as quais estou autorizado a comentar... são as eleições que devem ser supervisionadas pelas Nações Unidas", o que significa que os comícios serão realizados depois de se chegar a um acordo de paz.
Antes de sair de Genebra, o chefe negociador do governo sírio Bashar al-Jaafari afirmou que disse a de Mistura que sua delegação não estará disponível para negociações até que haja eleições na Síria.
Mistura deixou claro que as Nações Unidas não vão considerar eleições organizadas pelo governo do presidente Bashar al-Assad.