O presidente turco, Recep Tayyip Erdogan, viaja nesta semana aos Estados Unidos em um contexto de crescentes tensões entre os dois aliados, tanto sobre o conflito sírio quanto em temas como os direitos humanos.
Nenhuma reunião bilateral está prevista com o presidente Barack Obama nesta segunda viagem de Erdogan aos Estados Unidos desde que foi eleito presidente turco, em agosto de 2014, o que ilustra o distanciamento entre os dois países, aliados na Otan.
Para Ancara, a visita de seu presidente tem como objetivo acompanhar, com outros chefes de Estado, a quarta cúpula sobre segurança nuclear, na quinta e sexta-feira em Washington.
E também inaugurar uma grande mesquita de estilo otomano no Estado de Maryland, vizinho de Washington, o que ilustra a vontade turca de divulgar sua influência cultural para além de suas fronteiras.
Mas a inexistência de um encontro cara a cara entre os dois presidentes, enquanto é travado um combate contra o Estado Islâmico (EI) no Oriente Médio, reflete o clima entre os aliados.
No aeroporto de Istambul nesta terça-feira, pouco antes de viajar a Washington, Erdogan afirmou, no entanto, que se reunirá com seu colega americano durante esta cúpula, embora a forma desta reunião ainda precise ser definida.
Um comunicado da presidência turca, no qual a viagem era anunciada, nem mesmo citava Obama, e indicava apenas que Erdogan teria conversas de alto nível em Washington sobre a luta contra o terrorismo após os atentados de Bruxelas, Ancara e Istambul.Segundo o jornal Hürriyet, Erdogan esperava inaugurar a mesquita, a única nos Estados Unidos com dois minaretes, junto a Obama, mas ele rejeitou a ideia.
"Relações envenenadas"
A Turquia foi durante muito tempo encarada pelos Estados Unidos como uma aliada muçulmana chave, e uma força moderada de estabilização na região.
As relações se tornaram tensas nos últimos meses devido à Síria. Washington pede à Turquia que faça mais para combater o EI, enquanto Ancara expressa sua frustração pelo apoio americano aos combatentes curdos.
Derrotar o EI é a prioridade de Washington. Mas a Turquia quer, antes de tudo, a saída do poder do presidente sírio Bashar al-Assad, uma hipótese cada vez menos plausível após o apoio militar russo ao regime de Damasco.
Washington apoia ativamente os curdos sírios e seu principal partido, o PYD, já que considera que constituem a melhor opção de lutar contra o EI. Mas Ancara os considera como o braço sírio do curdo PKK, o grande inimigo interno.
A estas tensões se somam as denúncias de Washington sobre os ataques na Turquia contra a democracia e a liberdade de expressão.
"Não estamos sempre de acordo em todos os temas. A liberdade de imprensa é um exemplo disso", declarou na segunda-feira o porta-voz do departamento de Estado, John Kirby.
Durante sua viagem aos Estados Unidos, Erdogan também planeja jantar com empresários e responsáveis da comunidade judaica americana, indicou seu porta-voz, em uma tentativa de reconstruir os laços entre a Turquia e Israel.