Com o casaco impermeável aberto, um homem entra rapidamente na Comissão Europeia. Um jornalista pergunta: "Você é britânico?". Ele, corado, assente. A vergonha e a amargura são visíveis em Bruxelas horas depois da vitória do Brexit.
São centenas de britânicos que trabalham no bairro europeu da capital belga, que concentra o conjunto de instituições europeias. Mas nesta sexta-feira (24), parecem se esconder.
"Prefiro não falar", confirma um deles, um alto funcionário da Comissão. "Só posso dizer que para mim é um momento profundamente triste".
Também há vergonha em outra funcionária europeia, aos prantos. É alemã, mas passou grande parte de sua vida na Grã-Bretanha e guarda agora rancor dos partidários do Brexit.
Inclusive os eurocéticos parecem absortos com os resultados, como o grupo de Conservadores e reformistas do Parlamento Europeu, que reagrupa, entre outros, o partido do primeiro-ministro, David Cameron.
"Me surpreendi", confirmou seu líder, o britânico Syed Kamall. "Não esperava esse resultado", acrescenta comentando de maneira improvisada no salão de um grande hotel de Bruxelas os resultados do referendo diante de uma imprensa tão surpresa quanto ele.
"É um sinal forte enviado ao resto da Europa", alardeou. Mas "espero que mantenhamos boas relações com ela", acrescentou.
"Um dia muito triste"
A poucas ruas dali, um edifício imenso, mas vazio ao amanhecer desta sexta-feira, em particular num dia como o de hoje: é o Parlamento Europeu, um "formigueiro" durante a semana onde se cruzam eurodeputados, funcionários, lobistas, representantes da sociedade civil e jornalistas.
"Agora é a vez da Dinamarca!", exclamou em voz alta um jovem de terno escuro.
Um pouco mais longe, um grupo de alemães comenta: "Um referendo na Escócia certamente, também na Irlanda do Norte (ambas votaram para permanecer na UE) e em Gales (que votou para sair). Veja, assim enxergariam as coisas".
Um francês comemorou: "É um grande passo para a francofonia" na Europa, antes de se corrigir: "mas também para os alemães", cuja influência crescente é notada em Bruxelas e na UE.
Também se fala em "demissão" do presidente da Comissão Europeia, Jean-Claude Juncker, embora ninguém tenha visto isso ocorrer tão rápido quanto com o primeiro-ministro David Cameron.
Ainda que esse dia seja histórico, os deputados europeus são somente um grupo em Bruxelas nesta sexta.
Somente os mais conhecidos estão presentes, como o presidente da instituição, o socialista alemão Martin Schulz ou o ex-primeiro-ministro liberal belga, Guy Verhofstadt.
Alguns estão reunidos em coletivas de imprensa, outros repetem seus elementos de comunicação em todos os idiomas que podem falar. Recitam quase palavra por palavra os comunicados já enviados à imprensa um pouco antes.
Por exemplo Rebecca Harms, presidente dos Verdes, visivelmente consternada, diz: "Um dia muito triste. Tinha esperança até o final".
O seu homólogo do Partido Popular Europeu (PPE), a direita europeia, Manfred Weber, disse amargurado: "O maior problema, por agora, é o da Grã-Bretanha. A libra está em queda".
Repetem, ainda, os discursos sobre o que deveria ou haveria que ser feito. Nada muito concreto: no Parlamento Europeu, como no resto das instituições, ninguém sabe o que vai acontecer.