Cinco dias após o assassinato de um sacerdote, crime que abalou a França, muitos muçulmanos manifestaram neste domingo (31) seu horror ante o terrorismo ao participar de missas em homenagem ao religioso ao lado de católicos.
Dois mil fiéis católicos e uma centena de muçulmanos acompanharam neste domingo a missa organizada na catedral de Rouen, no noroeste da França, para prestar homenagem ao sacerdote Jacques Hamel, degolado na terça-feira por dois terroristas em uma igreja.
Às 08h00 GMT (05h00 de Brasília), 900 fiéis se reuniam no interior da catedral, onde foram reservados assentos para os habitantes de Saint Etienne du Rouvray, também no noroeste do país, onde se encontra a igreja na qual o padre foi assassinado quando celebrava uma missa.
Do lado de fora, militares vigiavam a entrada do templo.
Entre os fiéis, uma centena de muçulmanos responderam ao chamado do Conselho Francês do Culto Muçulmano (CFCM), que convidou os responsáveis de mesquitas, imãs e fiéis a assistir a missa para expressar sua "solidariedade e compaixão".
"Amor a todos, ódio a ninguém", afirmava um cartaz pendurado dentro da catedral por uma associação muçulmana.
No sábado ocorreram vigílias interreligiosas por todo o país, abalado pelo assassinato, na manhã de terça-feira, do padre Jacques Hamel, de 85 anos, por Abdel Malik Petitjean e Adel Kermiche, ambos de 19 anos.
O ataque foi reivindicado pelo grupo extremista Estado Islâmico (EI).
Em outra igreja de Saint Etienne du Rouvray, diante de um retrato do padre assassinado cercado por flores, fiéis católicos e muçulmanos ouviram com atenção as palavras do padre Auguste Moanda, que lembrou que "a fraternidade existe entre as duas religiões".
Em Bordeaux, no sudoeste, 400 pessoas de diferentes confissões participaram de uma oração conjunta na igreja de Notre Drame e em Nice (sudeste), cidade ainda em luto pelo atentado de 14 de julho que custou a vida de 84 pessoas, muitos muçulmanos acompanharam uma missa na igreja de Saint-Pierre-de-l'Ariane, que contou coma presença do imã Otman Aissaoui.
"Construir um pacto"
No plano político, o primeiro-ministro Manuel Valls considerou em um artigo publicado no Journal du Dimanche (JDD) que, embora "o islã tenha encontrado seu lugar na República", é urgente "construir um verdadeiro pacto" com a segunda religião da França.
Segundo Valls, apesar do fracasso da Fundação pelo Islã na França, criada há mais de dez anos "para reunir com toda transparência os fundos necessários" para seu desenvolvimento, será preciso "revisar algumas regras para esgotar o financiamento externo e aumentar, para compensar, a possibilidade de recolher fundos" no país.
Em outro artigo do JDD, quarenta personalidades muçulmanas da França disseram estar "consternadas pela impotência da organização atual do Islã na França, que não tem nenhuma influência nos acontecimentos".
Por sua vez, a polícia investiga o entorno dos autores do ataque, que haviam sido fichados de forma separada pelos serviços de inteligência, embora não tenha sido possível detectar que fossem passar à ação.
A investigação permitiu estabelecer que os dois assassinos do sacerdote, Abdel Malik Petitjean e Adel Kermiche, entraram em contato através do aplicativo de mensagens Telegram dias antes de agir, segundo vários meios de comunicação. Kermiche teria descrito o "modus operandi" do atentado nestas conversas, mencionando uma faca e uma igreja.
Um primo de Petitjean que estava detido deveria se apresentar ao juiz neste domingo para a acusação formal. Segundo a procuradoria de Paris, este homem de 30 anos, Farid K., "tinha perfeito conhecimento, ainda que não do dia e local precisos, ao menos da iminência do projeto de ação violenta por parte de seu primo".
Por sua vez, o refugiado sírio e o menor de 16 anos que foram detidos anteriormente foram libertados, mas a polícia analisa documentos de propaganda jihadista que encontrou no telefone e no computador deste último.