O exército turco, apoiado por forças da coalizão internacional antijihadista, iniciou uma operação chamada "Escudo de Eufrates", com aviões de combate, tanques e forças especiais para expulsar o grupo Estado Islâmico (EI) de Jarablos, uma localidade próxima da fronteira com a Turquia.
No início da tarde, os rebeldes sírios apoiados por Ancara expulsaram o EI de Keklija, uma aldeia a 5 km de Jarablos, durante uma ofensiva lançada ao amanhecer para afastar os extremistas da zona fronteiriça, anunciou a agência Anatólia.
Pouco depois, segundo a imprensa turca, os rebeldes atingiram o centro de Jarablos.
"Entramos na cidade pelo lado sul", declarou à AFP Ahmad Othmane, um comandante rebelde à AFP em Beirute, enquanto a agência de notícias pró-governo Anatólia, anunciando igualmente a entrada dos rebeldes nesta localidade.
Os Estados Unidos fornecem apoio à operação em matéria de inteligência, vigilância e com conselheiros militares.
Também poderiam passar a fornecer um apoio aéreo em caso de necessidade, explicou uma autoridade americana, que viaja com o vice-presidente Joe Biden, que chegou na Turquia nesta quarta para discutir uma solução para a guerra na Síria, na qual Ancara declarou quer ter "um papel mais ativo".
"Queremos ajudar os turcos a limpar a fronteira do EI", explicou esta autoridade que não quis se identificar.
Mas o presidente turco, Recep Tayyip Erdogan, declarou que o seu objetivo é acabar com os problemas na fronteira, tendo como alvos o grupo extremista EI e as milícias curdas.
"Nossas forças iniciaram uma operação contra os grupos terroristas do Daesh (acrônimo árabe do EI) e do PYD (Partido da União Democrática, curdo)", declarou Erdogan em um discurso em Ancara.
A Turquia considera o EI e o PYD como organizações terroristas, enquanto seu aliado americano apoia, para o desgosto de Ancara, os curdos, que infligiram importantes derrotas aos extremistas islâmicos na Síria.
Somente combatentes do EI estão presentes em Jarablos, mas Ancara teme ver os rebeldes curdos se aproximar de sua fronteira, especialmente porque eles têm registrado importantes avanços no norte recentemente.
Neste contexto, Washington alertou as milícias curdas para não atravessar o Eufrates pela zona oeste, segundo declarou nesta quarta o vice-presidente americano Joe Biden, durante coletiva de imprensa em Ancara com o primeiro-ministro turco Binali Yildirim.
"Dissemos claramente que essas forças devem atravessar de novo o rio", declarou Biden à respeito da coalizão das Forças Democráticas Sírias.
Várias horas após o início da operação na madrugada, uma dúzia de tanques turcos entraram na Síria e dispararam em direção a posições do EI em Jarablos, constatou um fotógrafo da AFP em Karkamis, pequena cidade turca do outro lado da fronteira, evacuada no dia anterior.
"Esta ameaça será erradicada dentro de um curto espaço de tempo", disse o ministro do Interior Ala Efkan, sugerindo uma operação militar rápida.
Um pequeno número de forças especiais turcas tinham penetrado vários quilômetros dentro do território da Síria para limpar a área antes do ataque.
Em seguida, caças F-16 turcos, apoiados por aeronaves da coalizão, lançaram bombas em Jarablos - pela primeira vez desde a destruição, em novembro de 2015, pela aviação turca de um caça russo ao longo da fronteira turco-síria, de acordo com a televisão.
A cidade de 30.000 habitantes - muitos dos quais turcomanos, minoria de língua turca da Síria - é o último ponto de passagem controlado pelo EI na fronteira.
Depois de ter sido por muito tempo acusado de complacência ante os jihadistas, a Turquia diz que pretende erradicar o EI.
Um novo atentado no sábado em Gaziantep (sudeste), perto da fronteira, causou 54 mortos durante um casamento curdo, e carrega a marca do grupo extremista.
Mas a Turquia também quer impedir o avanço das Forças Democráticas da Síria (FDS) de Minbej para Jarablos. As FDS é uma aliança de combatentes curdos e grupos armados árabes que lutam contra o EI.
Ancara vê com ansiedade as tentativas dos curdos sírios de criar uma unidade territorial autônoma ao longo da fronteira.
Saleh Muslim, co-presidente do PYD, denunciou com veemência a operação no Twitter: "A Turquia no pântano da Síria será derrotada como o Daesh".
Já a França "saudou a intensificação dos esforços da Turquia, parceiro na luta contra o Daesh", pela voz de um porta-voz das Relações Exteriores.
A Síria condenou a operação turca como uma "flagrante violação" do seu território.
A situação na Síria, bem como a questão da extradição do ex-clérigo Fethullah Gülen, exilado nos Estado Unidos e acusado pelas autoridades turcas de ser o mentor do golpe fracassado de 15 de julho, devem figurar na agenda da reunião do vice-presidente dos Estados Unidos em Ancara.
Este visitou pela primeira vez o Parlamento bombardeado pelos golpistas, antes de uma reunião com o chefe de governo e com o presidente Erdogan.