A Colômbia se preparava neste domingo (28) para iniciar o cessar-fogo definitivo com as Farc, após o histórico acordo alcançado entre o governo e essa guerrilha para encerrar 52 anos de conflito.
"Chegou o fim do conflito!", tuitou o presidente Juan Manuel Santos após assinar na sexta-feira o decreto para deter a ofensiva militar contra as Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc, marxistas), principal e mais antiga guerrilha do continente.
A medida começará a valer às 00H000 (02H00 de Brasília) de segunda-feira, cinco dias depois do encerramento das negociações de paz, que se desenvolveram desde novembro de 2012 em Cuba sem uma trégua armada na Colômbia.
Abramos juntos una nueva etapa de nuestra historia. Hagamos de nuestra nación el país que hemos soñado: ¡UN PAÍS EN PAZ! #AdiósALaGuerra
— Juan Manuel Santos (@JuanManSantos) 25 de agosto de 2016
Santos sempre se opôs a suspender a ofensiva militar contra as Farc, oficialmente com cerca de 7.500 combatentes, por considerar que fortaleceria os rebeldes.
Contudo, como gesto de compromisso com os diálogos, desde 20 de julho de 2015, as Farc sustentam um cessar-fogo unilateral, ao qual o governo respondeu com a suspensão dos bombardeios aéreos, embora sem deixar de combater grupos armados ilegais como esta guerrilha.
A paz "começa a se tornar realidade", publicou no Twitter Timoleón Jiménez, "Timochenko", como é conhecido Rodrigo Londoño, chefe máximo das Farc, quem, segundo meios colombianos neste domingo ordenará suas tropas, desde Havana, a tornar definitivo seu cessar-fogo.
"O cessar-fogo implica que realmente é colocado um selo a mais no final do conflito. É uma prova de fogo", disse à AFP Carlos Alfonso Velásquez, especialista em segurança da Universidade de La Sabana.
Para o acadêmico, contudo, "é praticamente um fato há um ano".
O último choque entre membros da força pública e guerrilheiros das Farc foi registrado no último 8 de julho, segundo o centro de análise Cerac, que monitora a violência de grupos armados na Colômbia.
"As Farc preparadas para o Dia D", informa o Cerac em seu último relatório.
Segundo o negociado em Cuba, o Dia D marca o cessar-fogo e o cessar das hostilidades bilateral e definitivo, assim como o início do processo de concentração e deposição de armas dos rebeldes, que devem ser realizadas em um prazo máximo de seis meses sob supervisão e verificação das Nações Unidas.
O Dia D será o dia da "assinatura solene" do acordo entre Santos e Timochenko, que ocorrerá "entre 20 e 26 de setembro", disse no sábado o ministro da Defesa, Luis Carlos Villegas.
O ministro não detalhou quem comparecerá, nem onde será realizada, embora Santos tenha indicado dias atrás que poderá ser na sede da ONU, em Nova York, em Cuba ou em Bogotá.
Villegas assegurou que, nesta segunda feira, já começarão a identificar os "corredores" por onde circulam os guerrilheiros até as 22 zonas e os seis acampamentos em todo o país onde se reunirão para seu desarmamento e posterior reinserção social.
Mas antes de se reunirem, as Farc compartilharão com suas tropas o acordo em sua décima e última conferência antes de se tornarem "um movimento político legal", segundo a convocação divulgada no sábado.
A conferência ocorrerá entre 13 e 19 de setembro em Llanos del Yari, em San Vicente del Caguán, ex-reduto da guerrilha no sul da Colômbia, e na presença de 200 delegados das Farc, entre eles os 29 membros de seu comitê central.
A conferência, que, excepcionalmente, incluirá convidados internacionais e jornalistas, será realizada antes do plebiscito fixado para 2 de outubro, no qual os colombianos deverão se pronunciar sobre o acordo com as Farc.
Para ganhar, o "Sim" precisa de ao menos 4,4 milhões de votos (13% do padrão eleitoral), que não podem ser superados pelo "Não". Embora se desconheça a pergunta exata que será apresentada aos cidadãos no plebiscito.
"Estamos prestes a tomar, talvez, a decisão política mais importante de nossas vidas", disse o presidente Santos ao inaugurar um conclave regional da Igreja Católica, no qual chamou a escolher o voto sem medo e com esperança.
Além das Farc, do conflito colombiano de mais de meio século participaram outras guerrilhas, como o Exército de Libertação Nacional (ELN), ainda ativo, paramilitares e agentes do Estado, com um balanço de 260.000 mortos, 45.000 desaparecidos e 6,9 milhões de deslocados.