Ex-primeiro-ministro britânico Cameron abandona a política

"A realidade da política moderna tornam muito difícil continuar sem me converter em uma distração", disse Cameron
AFP
Publicado em 12/09/2016 às 14:20
"A realidade da política moderna tornam muito difícil continuar sem me converter em uma distração", disse Cameron Foto: Foto: Leon Neal / AFP


O ex-primeiro-ministro britânico David Cameron, que renunciou em junho ao perder o referendo sobre a União Europeia, anunciou nesta segunda-feira (12) que também abandona seu assento de deputado, o último cargo político que ostentava.

"Na minha opinião, as circunstâncias de minha renúncia como primeiro-ministro e a realidade da política moderna tornam muito difícil continuar (...) sem me converter em uma distração", disse Cameron em um comunicado.

Cameron defendeu a permanência do Reino Unido no bloco europeu no plebiscito de 24 de junho e saiu derrotado.

"Apoio plenamente Theresa May e tenho toda a confiança que o Reino Unido brilhará sob a sua liderança", afirmou o político de 49 anos, que disse que não sabe a que se dedicará a partir de agora.

"Obviamente, terei que começar a construir uma vida fora de Westminster", explicou, em uma entrevista à rede ITV, este homem que até agora era deputado pela rica circunscrição de Witney, no sul da Inglaterra.

"Tenho apenas 49 anos e ainda posso contribuir ao serviço público de nosso país", acrescentou na televisão. "Quero continuar fazendo campanha em nível local, nacional e internacional a favor de causas que foram parte do meu mandato", estimou.


Um legado marcado pelo Brexit

Quando a ITV perguntou como seria lembrado, Cameron afirmou: "estou certo de que se lembrarão de mim por ter honrado meu compromisso de realizar o referendo (sobre a UE), uma promessa que muitos acreditavam que não manteria".

Sob seu mandato, o Reino Unido legalizou o casamento homossexual e se recuperou economicamente da crise, através de uma austeridade orçamentária, mas muitos não o perdoam por ter convocado o referendo da UE, a segunda grande consulta de seu mandato, após a da independência da Escócia.

Cameron venceu duas eleições legislativas, em 2010 e 2015, mas renunciou no ano do início de seu segundo mandato.

"Ele nos levou a um referendo que não queria e o perdeu. Em junho abandonou seu país e agora fez o mesmo com suas circunscrições", estimou Dave Prentis, secretário-geral do sindicato Unison.

"Será lembado como o primeiro-ministro que presidiu enormes cortes de serviços públicos essenciais e tirou o país da Europa. Um legado venenoso", acrescentou o sindicalista.


Um protótipo britânico

Cameron, de uma família abastada, nunca levantou grandes paixões, nem em seu partido, nem entre seus eleitores. O político de 49 anos é pai de três filhos e estudou na prestigiada escola privada Eton.

"É educado, mas não é um intelectual, é determinado, mas não dominante, é um cavalheiro, mas não é esnobe (...) É crente, mas não muito crente. Pessoas como ele têm muitas limitações, como a falta de originalidade, a ausência de paixão e a tentação da auto-satisfação, mas outrora dominaram o mundo", escreveu seu biógrafo, Charles Moore.

Para Moore, representa "o perfeito protótipo moderno de uma espécie britânica muito antiga".

 

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