A guerrilha das Farc manifestou nessa sexta-feira (23) seu apoio unânime ao acordo de paz alcançado com o governo de Juan Manuel Santos para por fim a 52 anos de conflito armado na Colômbia.
"Referendamos unanimemente o Acordo final para o fim do conflito e a construção de uma paz estável e duradoura", disse Timoleón Jiménez, máximo líder das Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia, diante de centenas de guerrilheiros reunidos em uma isolada localidade do sudeste colombiano.
'Timochenko' discursou no encerramento da Décima Conferência Nacional Guerrilheira, que deliberou durante seis dias em Llanos del Yarí, tradicional bastião da guerrilha.
"Em nosso horizonte sempre esteve a perspectiva da solução política. Por isto, a paz é a mais bela das vitórias", declarou o máximo líder das Farc.
"Por fim temos uma segunda oportunidade sobre a terra!" - disse Timochenko ao concluir seu discurso, evocando Gabriel García Márquez.
Iván Márquez, chefe negociador da paz, também citou o escritor colombiano: "Acabou-se a guerra. Digam a Mauricio Babilônia que já pode soltar as borboletas amarelas".
"Viva a Colômbia! Viva a paz!" - gritou Márquez ao lado de 30 dirigentes rebeldes que formam o Estado-Maior das Farc.
Militantes políticos, entre eles a ex-senadora e ativista Piedad Córdoba, líderes bascos ligados ao ETA, defensores da independência da Cataluña e até lendário goleiro René Higuita participaram da cerimônia.
"Estou feliz! Estamos muito contentes para dar a boa notícia à Colômbia", disse Márquez aos jornalistas. "Nos vemos em Cartagena".
A cidade de Cartagena será palco, na próxima segunda-feira, do ato de assinatura do acordo de paz entre o governo e as Farc, que entrará em vigor após ser ratificado em um plebiscito no dia 2 de outubro.
A transformação da guerrilha marxista em um movimento político legal mobilizou os debates do encontro iniciado no sábado passado, que reuniu 207 delegados das Farc de toda a Colômbia.
A reunião também reafirmou a "confiança" na direção das Farc, declarou Márquez, ao destacar que esta "conduziu com acerto o processo de reconciliação".
A conferência decidiu ampliar os atuais 29 membros do Estado-Maior para 61 e acertou a realização, "nos próximos meses", de um congresso que terá a missão de decidir os trabalhos políticos "por vir".
Segundo fontes da guerrilha, este "congresso" será "em abril ou maio", assim que for concluída o abandono das armas e a reincorporação à vida civil dos ex-combatentes.
Márquez defendeu "um grande acordo político nacional" que inicie o processo para se convocar uma Assembleia Nacional Constituinte na Colômbia.
"Convocamos a tornar realidade este apelo (...), para um grande acordo político nacional (...) para atender os desafios que a paz exige".
"As condições propícias para este propósito se encontram no impulso de um processo constituinte aberto que conduza à convocação e à realização de uma Assembleia Nacional Constituinte".
"É algo emocionante. O país esteve em busca da paz por 70 anos. Não há garantia de que a democracia vá funcionar, mas há sim uma possibilidade de se criar um sistema político onde todos possam participar, e sem armas", disse à AFP o analista americano Marc Chernick.