Hillary reage a recuperação de Trump, mas dúvidas persistem

Pesquisa do New York Times e da CBS atribuiu 45% das intenções de voto à Hillary, enquanto Trump possui 42%
AFP
Publicado em 03/11/2016 às 22:47
Pesquisa do New York Times e da CBS atribuiu 45% das intenções de voto à Hillary, enquanto Trump possui 42% Foto: Foto: Agência Lusa


A candidata democrata Hillary Clinton lançou nesta quinta-feira uma ofensiva na mídia e mobilizou seus aliados de maior prestígio em estados-chave para as presidenciais americanas, em uma tentativa de contrabalançar a súbita recuperação de Donald Trump que continua inquietando os mercados.

O presidente Barack Obama se deslocou para a Flórida, em dois comícios concebidos para animar o eleitorado democrata e incentivar os eleitores a irem às urnas neste estado do sudeste vital para a vitória nas eleições de 8 de novembro.

A cinco dias das eleições, o jornal The New York Times e a emissora CBS divulgaram nesta quinta-feira uma pesquisa que atribuiu a Hillary 45% das intenções de voto contra 42% para o candidato republicano, uma brecha equivalente à margem de erro. 

A pesquisa anterior, divulgada em meados de outubro, dava à ex-secretária de Estado americana de 69 anos uma vantagem de 9 pontos sobre o bilionário de 70.

"Esta será uma corrida disputada e não podem dá-la como certa", advertiu Obama em Jacksonville.

Melania Trump, a ex-modelo eslovena que aspira a ser a primeira estrangeira em quase dois séculos a ser primeira-dama nos Estados Unidos, aproveitou sua estreia solo na campanha do marido para tentar atrair as mulheres, um eleitorado que majoritariamente dá as costas ao candidato republicano.

Calmaria antes da tempestade

Apresentando-se como uma mulher independente, Melania afirmou em Berwyn, Pensilvânia, que seu marido respeita "as mulheres e lhes (dá) as mesmas oportunidades" que aos homens.

A terceira mulher de Trump também insistiu em que seu marido, com quem leva uma vida de opulência distante da maioria dos americanos, quer melhorar a vida da classe trabalhadora.

"Sempre que meu marido tomava conhecimento do fechamento de uma fábrica em Ohio, na Carolina do Norte ou aqui na Pensilvânia, o vi ficar muito incomodado", disse, em alusão a três estados-chave nas presidenciais.

Os modelos de previsão de votos do jornal The New York Times e do site FiveThirtyEight preveem, ambos, uma vitória de Hillary, respectivamente com 86% e 67% dos votos.

Ainda assim, analistas afirmam que os mercados se mantêm à margem, preocupados com a recuperação de Trump, que promete sacudir as políticas econômicas e comerciais dos Estados Unidos.

Após abrir no azul, Wall Street e as bolsas europeias e asiáticas fecharam o dia com baixa modesta.

"Um dia de calmaria antes de termos mais volatilidade", disse Nicholas Colas, da casa de corretagem nova-iorquina ConcergEx.

"Isto realmente é apenas a calmaria antes da tempestade", afirmou.

"A candidata do ontem"

Nas últimas semanas, a corrida sofreu o impacto de eventos surpreendentes e os ventos eleitorais mudaram de direção mais de uma vez.

Hillary beneficiou-se de uma recuperação no começo de outubro, após a difusão de um vídeo no qual Trump falava pejorativamente sobre as mulheres e quando uma série de mulheres o acusou de assédio sexual, o republicano despencou nas pesquisas.

Mas depois que o FBI anunciou a retomada das investigações sobre o uso pela democrata de um servidor privado quando era secretária de Estado (2009-2013), Trump, que estava em desvantagem, tomou impulso e aproveitou a oportunidade para mudar o teor de sua candidatura.

No entanto, os eleitores não parecem dar muita atenção ao venenoso festival de acusações e ataques verbais: 92% dizem já ter decidido em quem votar e 62% afirmam que as revelações dos últimos dias não mudarão seu voto.

Em um duelo entre os candidatos menos populares da história americana, nenhum quer cometer um erro e a campanha tomou um tom frenético, mas previsível.

Até mesmo Trump tem evitado declarações explosivas e fala apoiando-se em teleprompters nesta reta final da campanha.

"Mantenha-se no ponto, Donald, mantenha-se no ponto, sem desvios", disse em voz alta, durante comício em Pensacola, Flórida, na quarta-feira.

Em Jacksonville, Trump tachou Hillary Clinton de a "candidata do ontem", chamando seus seguidores a votar para conseguir a "mudança que esperaram por toda a sua vida".

"Somos o movimento do futuro e representamos todos os americanos", afirmou.

Hillary Clinton lançou-se na Carolina do Norte, com vários comícios em outro estado importante nestas eleições.

"A mudança virá, isso é certo. A pergunta é: que tipo de mudança queremos?", perguntou, cortejando o voto rural em Greenville, antes de fazer campanha ao lado do ex-adversário nas primárias democratas, o popular senador Bernie Sanders, em Raleigh.

Seu colega de chapa, o senador Tim Kaine, foi para o Arizona, onde os democratas mais otimistas estão esperançosos.

Kaine, que morou em Honduras, onde trabalhou com missionários jesuítas nos anos 1970, discursou em espanhol neste estado do sudoeste americano, onde 22% dos eleitores são latinos.

No discurso, ele prometeu uma "reforma migratória integral" e assegurou que os Estados Unidos não se tornarão na "nação da deportação" proposta por Trump.

"Com tanto em jogo para a comunidade hispânica, é importante que nossa campanha se dirija em um idioma que é falado por tantas famílias através do país", disse Kaine, em um espanhol fluente.

Nunca antes um integrante de uma chapa presidencial tinha feito um discurso em espanhol, segundo fontes de sua campanha. 

"Os Estados Unidos são um país melhor graças a vocês. Hillary e eu temos uma visão positiva para o que queremos alcançar", afirmou, prometendo "lutar muito" nos cem primeiros dias de governo "para conseguir uma reforma migratória integral. E enquanto isso, faremos tudo o possível para manter as famílias unidas".

Pela fronteira do Arizona, dezenas de milhares de pessoas cruzam ilegalmente aos Estados Unidos todos os anos. Só em 2015, 64.000 migrantes, inclusive 8.000 menores de idade, foram detidos tentando entrar no país pelo inóspito deserto de Sonora.

Trump ameaça deportar 11 milhões de pessoas em situação ilegal e construir um muro na fronteira com o México, afirmando que os mexicanos são criminosos e estupradores.

A última parada dos democratas será na Filadélfia, na véspera da eleição: um comício conjunto dos Clinton e dos Obama, os dois casais mais poderosos dos Estados Unidos.

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