Aleppo volta a ser bombardeada e ajuda humanitária no fim

A guerra na Síria, que matou mais de 300 mil pessoas em cinco anos e meio, tornou-se a pior crise humanitária desde a Segunda Guerra
AFP
Publicado em 16/11/2016 às 11:29
A guerra na Síria, que matou mais de 300 mil pessoas em cinco anos e meio, tornou-se a pior crise humanitária desde a Segunda Guerra Foto: Foto: GEORGE OURFALIAN / AFP


Os aviões do regime sírio e de sua aliada Rússia bombardearam na madrugada de quarta-feira a província de Idleb e a área rebelde de Aleppo, onde a ajuda humanitária começa a se esgotar após um cerco de quatro meses.

Os bombardeios aéreos e de atilharia causaram a morte de 20 civis, incluindo nove crianças nas últimas 24 horas nos bairros rebeldes de Aleppo. Na província de Idleb (noroeste), seis civis, incluindo uma criança, morreram em Kafar Jales, segundo o Observatório Sírio dos Direitos Humanos (OSDH).

"Os aviões militares russos atacaram toda a noite e até a manhã várias regiões de Idleb", uma província do noroeste da Síria controlada por uma aliança de rebeldes e jihadistas, afirmou à AFP Rami Abdel Rahmane, diretor do OSDH.

"Ao mesmo tempo, a aviação do regime bombardeou os bairros do leste de Aleppo", completou, a respeito da segunda maior cidade da Síria, dividida entre setores sob controle do governo e outros dominados pelos rebeldes.

Yahya Arja, um socorrista da Defesa Civil nas áreas rebeldes indicou que os "bombardeios atingiram civis inocentes em suas casa". "Trabalhamos durante toda a noite à procura de sobreviventes", acrescentou à AFP.

'Indesculpável'

Após uma pausa de um mês, o regime de Bashar al-Assad retomou na terça-feira a campanha contra o setor rebelde da ex-capital econômica síria, no mesmo dia em que Moscou anunciou uma nova ofensiva, oficialmente contra os extremistas de Idleb e de Homs (centro).

Os bombardeios russos foram executados a partir do porta-aviões Almirante Kuznetsov, que chegou na semana passada às costas sírias para reforçar o dispositivo militar russo no país em guerra desde 2011.

Moscou apoia as forças do regime sírio, enquanto Washington auxilia a rebelião considerada moderada.

Os novos ataques foram considerados "indesculpáveis" por Washington, que apoia a rebelião dita moderada e que acusa Moscou de visar os insurgentes anti-regime.

Moscou denuncia, por sua vez, uma "retórica" baseada em "mentiras".

A retomada dos bombardeios acontece uma semana depois da eleição de Donald Trump à presidência dos Estados Unidos. Este último anunciou que sua prioridade era a luta contra os jihadistas e não para derrubar Assad como deseja Barrack Obama.

Em sua primeira reação, o chefe de Estado sírio declarou que Trump seria "um aliado natural" se lutasse contra o terrorismo, em uma entrevista transmitida na terça-feira pela televisão pública portuguesa RTP.

'Depósitos vazios'

No plano humanitário, a situação está cada vez mais crítica para os 250.000 habitantes da parte rebelde de Aleppo, submetidos a um cerco implacável desde 17 de julho.

Os seus suprimentos estão em fase de esgotamento e o Programa Alimentar Mundial (PAM) indicou à AFP no domingo ter feito a sua distribuição final.

"Os nossos depósitos estão vazios, não podemos distribuir mais nada", disse à AFP Ammar Qadah, diretor da al-Sham al-Insaniya, uma organização de caridade.

Voluntários distribuíram na terça-feira seus últimos parcos sacos de ajuda, constatou um correspondente da AFP.

A ONU já havia advertido na semana passada que as últimas porções de alimentos estavam sendo distribuídas aos moradores de Aleppo.

A guerra na Síria, que matou mais de 300.000 pessoas em cinco anos e meio, tornou-se a pior crise humanitária desde a Segunda Guerra Mundial.

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