O presidente americano, Donald Trump, está prestes a assinar nesta quarta-feira decretos que limitam a imigração e a dar os primeiros passos para construir um muro entre os Estados Unidos e o México, atacando de frente um de seus principais temas de campanha.
Cinco dias após tomar posse, o presidente americano deve comparecer à tarde no Departamento de Segurança Interna, onde implementará uma série de medidas de restrições à imigração, segundo informou a Casa Branca.
"Grande dia previsto para amanhã na SEGURANÇA NACIONAL. Entre muitas outras coisas, vamos construir o muro!", tuítou Donald Trump na terça à noite sobre esta questão altamente polêmica que foi uma de suas principais promessas de campanha.
Ele se comprometeu a expulsar os imigrantes ilegais infratores e construir um muro na fronteira de 3.200 km entre os Estados Unidos e o México, ameaçando financiá-lo por meio dos US$ 25 bilhões que os imigrantes mexicanos enviam anualmente para suas famílias.
Especialistas manifestaram sérias dúvidas quanto a sua eficácia, o custo exorbitante e o risco de processos legais de tal medida, verdadeiro cavalo de batalha da direita e da extrema direita, a base eleitoral de Donald Trump.
Até mesmo o secretário da Segurança Interna, o ex-general John Kelly, disse, durante sua recente audição de posse, que o muro na fronteira "pode não ser construído tão em breve".
Por sua vez, o México delimitou as linhas vermelhas que não devem ser cruzadas em suas discussões com a administração Trump que começa a atuar nesta quarta-feira em Washington.
Neste sentido, o México ameaçou deixar a mesa de negociações e romper com o Acordo de Livre Comércio Nafta (EUA, Canadá e México) que Donald Trump quer renegociar.
"Há linhas vermelhas muito claras que devem ser desenhadas desde o início", advertiu na terça-feira o ministro da Economia mexicano, Ildefonso Guajardo, antes de uma reunião com autoridades americanas nesta quarta e quinta-feira, ao lado do ministro mexicano das Relações Exteriores, Luis Videgaray.
Quando perguntado se a delegação mexicana deixaria as negociações se a questão do muro e das remessas dos imigrantes mexicanos fossem colocadas sobre a mesa, Guadajardo afirmou na Televisa: "Absolutamente".
Este primeiro encontro EUA-México tem o objetivo de preparar a reunião entre o novo presidente e seu colega mexicano Enrique Peña Nieto, no dia 31 de janeiro, em Washington.
Donald Trump também quer proibir a entrada de muçulmanos nos Estados Unidos, e principalmente de sírios.
Na quinta-feira, deve assinar decretos sobre a imigração e as chamadas cidades "santuários", que se comprometeram a recusar prender imigrantes ilegais quando a sua detenção tem como objetivo deportá-los.
Esses decretos devem limitar a imigração e o acesso aos Estados Unidos para os refugiados vindos do Iraque, Irã, Líbia, Somália, Síria e Iêmen, segundo Washington Post.
Os cidadãos desses países já enfrentam uma série de obstáculos para obter um visto americano, ressalta o jornal.
Donald Trump também prometeu suprimir o programa "DACA", criado por seu antecessor Barack Obama em 2012 e que ajudou mais de 750.000 imigrantes ilegais que chegaram no país ainda menores de idade a obter vistos de residência e trabalho.
Após o anúncio da retirada do acordo de livre comércio Ásia-Pacífico (TPP), Donald Trump continua a desfazer metodicamente o legado de seu antecessor democrata, como havia prometido fazer durante sua campanha.
Ele retomou o projeto do gigantesco oleoduto Keystone XL ligando o Canadá aos Estados Unidos, cuja construção foi bloqueada por Obama em nome da luta contra as mudanças climáticas.
Com 1.900 km, incluindo 1.400 nos Estados Unidos, o projeto Keystone XL tem como objetivo transportar petróleo canadense das areias betuminosas de Alberta (oeste) para Nebraska (centro dos EUA), onde poderá ir para refinarias americanas no Golfo do México.
Trump ressaltou que a conclusão do projeto Keystone XL foi condicionado a uma renegociação com a empresa canadense TransCanada.
"Vamos renegociar alguns dos termos e, se quiserem, veremos se este oleoduto pode ser construído", declarou na terça-feira durante a assinatura de documentos.
Nos Estados Unidos, se os republicanos saudaram o anúncio com entusiasmo, ambientalistas e eleitos democratas denunciaram em uníssono uma iniciativa tomada em detrimento das questões climáticas.
"Hoje, o presidente Trump ignorou as vozes de milhões de americanos e deu prioridade aos lucros a curto prazo da indústria de combustíveis fósseis em vez de o futuro do nosso planeta", lamentou o senador Bernie Sanders, ex-rival de Hillary Clinton nas primárias democratas.