O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, e o primeiro-ministro do Canadá, Justin Trudeau, divergiram sobre políticas migratórias nesta segunda-feira em uma coletiva após encontro bilateral, mas pareceram baixar o tom do discurso sobre o tema.
Eles evitaram críticas diretas após se reunirem na Casa Branca. No entanto, deixaram claro que não estão de acordo sobre os esforços de Trump em barrar refugiados e nacionais de países de maioria muçulmana.
Trump classificou seu controverso decreto de imigração como "senso comum" e esquivou-se quando perguntado se as políticas de portas abertas do Canadá representam uma ameaça para os Estados Unidos.
"Você nunca pode estar totalmente confiante", disse Trump, perguntado sobre a fronteira ao norte do território americano.
Nos últimos dias centenas de imigrantes sem documentos foram detidas em todo os EUA.
"Nós realmente estamos pegando pessoas criminosas - alguns crimes bem graves em alguns casos, com um grande histórico de abusos e outros problemas - e colocando para fora", resumiu Trump.
Grupos de direitos civis denunciam que imigrantes sem antecedentes criminais também estão sendo presos.
"O Canadá sempre entendeu que manter os canadenses seguros é uma das responsabilidades fundamentais de qualquer governo", disse Trudeau.
"Ao mesmo tempo, continuamos a buscar nossas políticas de abertura sem comprometer a segurança", completou.
Há um abismo entre os vizinhos no que se refere à questão: enquanto Trump classificou refugiados sírios como terroristas Trudeau foi ao aeroporto internacional de Toronto para recebê-los.
Após estabelecer uma relação de camaradagem com o presidente Barack Obama, o primeiro-ministro canadense foi a Washington conquistar o septuagenário republicano, com quem tem pouco em comum.
Trudeau é o terceiro líder estrangeiro recebido pelo magnata republicano desde que assumiu o cargo em 20 de janeiro, depois de reuniões com a britânica Theresa May e o japonês Shinzo Abe.
A visita de Trudeau teve um começo complicado. Ele chegou mais cedo que o combinado à Casa Branca e sua limousine teve que aguardar na entrada por cerca de cinco minutos antes de Trump aparecer. Os dois trocaram um aperto de mão e entraram no Salão Oval.
Embora a margem de negociação sobre migração seja estreita, Trudeau e Trump parecem ter reduzido as lacunas sobre comércio.
Trump, que prometeu colocar os EUA "em primeiro lugar" e tirar seu país do Nafta, baixou o tom do seu discurso após o encontro com Trudeau.
Trump disse que o comércio bilateral precisa ser "recíproco".
"Os Estados Unidos são muito sortudos de terem um vizinho como o Canadá", disse Trump em coletiva de imprensa celebrada por ocasião da visita de Trudeau, que ressaltou a oportunidade de "construir ainda mais pontes" de comércio.
"Achamos que nossos países são mais fortes quando juntamos nossas forças em matéria de comércio internacional", disse Trump.
Os laços econômicos entre a América e seu vizinho do Norte - que compartilham a fronteira comum mais longa do mundo - são fortes: três quartos das exportações do Canadá vão para os EUA e o Canadá é o principal destino das exportações para muitos estados dos EUA.
Trudeau, um fervoroso defensor do livre comércio, enfatizou a importância do Nafta e emitiu uma sutil advertência sobre os riscos do protecionismo para os Estados Unidos.
"Não se engane, no fim das contas Canadá e EUA sempre continuarão sendo os principais parceiros um do outro", disse Trudeau.
"Como sabemos, 35 estados dos EUA listaram o Canadá como seu maior mercado de exportação, e nossas economias se beneficiam dos mais de US$ 2 bilhões no comércio bilateral que acontece todo santo dia", acrescentou.
"Milhões de produtos, empregos da classe média nos dois lados da fronteira dependem dessa parceria fundamental".
Trump não foi específico sobre como ele quer que sejam as negociações do Nafta, mas ele frequentemente critica o acordo de 23 anos, classificando-o de "catástrofe" para os empregos do país e ameaçando taxar as importações do México.
Trump e Trudeau são dois polos opostos, de seu caminho ao poder a suas posições políticas e estilos pessoais.
O magnata americano venceu as eleições acirradas em novembro com a democrata Hillary Clinton após pintar um tenebroso cenário para o país e insistir no lema "os Estados Unidos em primeiro lugar".
Trudeau, filho do admirado ex-primeiro-ministro Pierre Trudeau, chegou ao poder prometendo "um bom governo para os canadenses" e melhorar a imagem do país no exterior.