O candidato conservador presidência da França, François Fillon, suspeito de desvio de fundos públicos, sofreu um novo golpe judicial nesta quinta-feira, depois que a Procuradoria Nacional Financeira anunciou que prosseguirá com sua investigação.
"O número de elementos reunidos não deixa entrever pelo momento que o procedimento será arquivado", indicou em um comunicado a Procuradoria Nacional Financeira (PNF), encarregada do caso.
"Prosseguiremos com a investigação em rígido cumprimento das normas que regem o código de procedimento penal", explicou a procuradora Eliane Houlette, depois de receber na quarta-feira o relatório da polícia anticorrupção.
A PNF abriu no dia 25 de janeiro uma investigação preliminar por desvio de fundos públicos, abuso de bens públicos e acobertamento depois que a imprensa revelou que a esposa do candidato, Penelope Fillon, recebeu mais de 800.000 euros como assistente parlamentar em um suposto emprego fictício.
Os investigadores não encontraram "a menor prova material dos quinze anos" de suposto trabalho da esposa de Fillon como sua assistente parlamentar, e posteriormente de seu suplente no assento, afirmou na semana passada o semanário Le Canard Enchaîné, que trouxe o caso à tona.
A investigação também se concentra nas atividades que Penelope Fillon teria desempenhado na publicação literária Revue des deux mondes, pelas quais recebeu cerca de 100.000 euros entre maio de 2012 e dezembro de 2013. O dono desta revista é o empresário Marc Ladreit de Lacharrière, um amigo próximo do candidato.
Outro tema que está sendo investigado são os empregos de assistentes parlamentares de dois filhos do casal, Charles e Marie Fillon, que teriam trabalhado para seu pai quando este último era senador, entre 2005 e 2007.
A procuradoria tem agora duas opções. Enviar diretamente os protagonistas do caso ante um tribunal ou encarregar a investigação a um juiz de instrução.
François Fillon prometeu que se retirará da corrida presidencial se for indiciado pela justiça.
A decisão dos procuradores representa um novo revés para Fillon, que na semana passada tentou enterrar este escândalo financeiro questionando a validade da investigação.
Segundo ele, as investigações da Procuradoria Nacional Financeira são ilegais, já que estima que esta entidade não é competente neste caso, e também viola o princípio de separação de poderes entre o poder judiciário e o legislativo.
Este caso afetou profundamente a campanha do ex-primeiro-ministro de Nicolas Sarkozy (2007-2017), considerado há até pouco tempo o favorito para ocupar o Eliseu.
As pesquisas agora apontam que ele seria eliminado no primeiro turno das eleições de 23 de abril, superado pela líder da extrema-direita Marine Le Pen e pelo ex-ministro da Economia do governo socialista Emmanuel Macron.
Vários políticos, inclusive dentro de seu próprio partido, Os Republicanos, mencionam a possibilidade de substitui-lo por outro candidato, a apenas um mês do encerramento oficial das candidaturas às presidenciais.
Para sufocar uma tentativa de rebelião interna, Fillon solicitou na quarta-feira a ajuda de Sarkozy, que apesar de ter sido derrotado nas primárias internas por seu ex-primeiro-ministro ainda conta com um núcleo duro dentro do partido conservador.
Para garantir seu apoio, Fillon propôs baixar a 16 anos a maioridade penal na França, uma polêmica proposta do ex-presidente.
Segundo algumas fontes, seu acordo também inclui um pacto secreto. Em caso de vitória, Fillon nomeará como primeiro-ministro François Baroin, um aliado de Sarkozy.