Em um contexto de recuperação econômica moderada, a Comissão Europeia pediu nesta quarta-feira aos 28 países-membros que enfrentem o desemprego de longa duração e o risco de pobreza, especialmente nos países do sul da Europa, os mais castigados pela crise de 2008.
"Nem todos os cidadãos europeus se beneficiaram da recuperação em igual medida", indicou a comissária europeia de Emprego, Marianne Thyssen, para quem uma maior igualdade gera inclusão social e torna as economias "mais resistentes" diante de eventuais "choques econômicos".
Thyssen fez estas declarações em uma coletiva de imprensa durante a apresentação de um relatório do Executivo comunitário, conhecido como "pacote de inverno", destinado a alentar os países da União Europeia (UE) e, especialmente, os 19 da zona do euro, com o objetivo de convergir suas economias.
Em suas previsões econômicas trimestrais, apresentadas na semana passada, a Comissão destacou que "pela primeira vez desde 2008" todos os países da zona do euro registraram uma expansão de sua economia no período 2016-2018, situando-se no prognóstico de 1,6% de crescimento médio para 2017.
Como consequência desta expansão moderada, o nível de desemprego nos 19 países do euro deveria ser reduzido progressivamente para 9,6% em 2017 e 9,1% em 2018. No auge da crise da dívida, o desemprego alcançou o recorde de 12,1% em abril, maio e junho de 2013.
"Apesar de ter havido uma melhoria geral no âmbito do emprego, continua existindo desafios econômicos e sociais, como o elevado desemprego e a pobreza", apontou o vice-presidente da Comissão, Valdis Dombrovskis, que pediu para "aproveitarem este momento para abordar" o resto "do legado da crise".
Este "legado" é mais visível nos países do sul da Europa. Após anos de crise e de políticas de rigor orientadas a corrigir o déficit orçamentário, a Espanha poderia registrar um crescimento de seu PIB de 3,2% em 2016, 2,3% em 2017 e 2,1% em 2018, acima da média da zona do euro.
Em seu "pacote de inverno", a Comissão destaca esta "forte recuperação" da economia espanhola, em parte pelas reformas estruturais dos últimos anos, mas adverte que o desemprego "continua sendo muito alto" e "a pobreza e a desigualdade de investimentos se encontram entre as mais altas da UE".
"O risco de pobreza ou exclusão social começou a diminuir em 2015. Entretanto, se manteve muito alto, especialmente o infantil". A pobreza entre os trabalhadores "continua aumentando", aponta também o relatório, que destaca as consequências de "maiores riscos de pobreza" por conta dos contratos temporários.
Entre 2010 e 2015, o número de menores de idade em risco de exclusão social e de pobreza passou na Espanha de 33,3% para 34,4%, uma tendência registrada especialmente nos países do sul da Europa, como Portugal (de 28,7% para 29,6% no mesmo período), apesar desse número ter caído ligeiramente no conjunto da UE, segundo a Eurostat.
Em dezembro, o desemprego nestes países continuava acima da simbólica barreira dos 10%, chegando a 10,25% em Portugal e 18,4% na Espanha - a segunda maior da UE atrás da Grécia -, enquanto a média da zona do euro é de 9,6%.
Em relação a Portugal, que conta com "cifras alentadoras de crescimento e de redução do déficit", nas palavras do comissário europeu Pierre Moscovici, sua homóloga de Emprego destacou que a "pobreza trabalhista (...) continua sendo bastante elevada".
"A pobreza das pessoas com emprego (em Portugal) se manteve como uma das mais elevadas da UE em 2015, devido, em parte, à baixa qualidade dos empregos e do alto volume de trabalho involuntário em tempo parcial", aponta o relatório apresentado nesta quarta-feira.
Após a apresentação do relatório, a Comissão Europeia deverá iniciar um diálogo com os diferentes governos nacionais, que devem dar suas respostas em abril.