Os 27 líderes da União Europeia (UE) reiteraram neste sábado (25) em Roma o compromisso com o projeto europeu, apesar do futuro divórcio com o Reino Unido, em uma declaração conjunta na qual afirmam: "A Europa é nosso futuro comum"."Depois de de Roma, a união deve ser mais do que antes uma união com os mesmos princípios, uma união com soberania externa, uma união com unidade política", afirmou o presidente do Conselho Europeu, Donald Tusk, aos líderes reunidos no imponente Capitólio da Cidade Eterna.
Um a um, entre muitos aplausos, os governantes europeus e os líderes das instituições do bloco assinaram a declaração conjunta, no mesmo salão, decorada com afrescos do século XVI, onde foi assinado o tratado constitutivo em 25 de de março de 1957. A grande ausente da cerimônia foi a primeira-ministra britânica, Theresa May, que deve anunciar oficialmente na quarta-feira a decisão do Reino Unido de abandonar a UE, o que dará início a um complexo processo de divórcio de dois anos.
Há 60 anos, os governantes da Alemanha, França, Itália, Holanda, Bélgica e Luxemburgo estabeleceram as bases de uma vida econômica comum em Roma, com o objetivo de superar décadas de guerras no continente. E, apesar da atual crise que afeta o bloco, os líderes da UE ressaltaram a aposta em uma união que "indivisa e indivisível", de acordo com o texto da Declaração.
A celebração da União Europeia também é uma oportunidade para refletir ante a discórdia, as dúvidas e a desconfiança popular provocadas atualmente pelo projeto. Na sexta-feira (24), o papa Francisco advertiu os líderes europeus recebidos no Vaticano que a UE "corre o risco de morrer" se deixar de defender os ideais dos pais fundadores. "A Europa volta a encontrar esperança na solidariedade, que também é o antídoto mais eficaz contra os modernos populismos", disse o pontífice.
Até mesmo a administração do presidente americano Donald Trump, encarnação do triunfo do populismo e partidário do Brexit, felicitou a UE por ocasião do aniversário de 60 anos e destacou o compromisso comum de promover a "liberdade, a democracia e o Estado de direito". "Roma deve marcar o início de um novo capítulo de uma Europa unida a 27", afirmou o presidente da Comissão Europeia, Jean-Claude Juncker. A homenagem a uma nova unidade é obrigada a levar em consideração a difícil realidade: do Brexit à crise migratória, passando pelos ataques extremistas, em um contexto de recuperação econômica moderada após o crash financeiro de 2008.
"Além da celebração, temos que refletir sobre nossos erros, mudar a imagem de uma Europa abstrata (...) é a única maneira para que nossos jovens voltem a sentir que participam de um grande projeto", disse o presidente da Eurocâmara, Antonio Tajani. Um dos desafios dos europeus é contra-atacar o discurso dos movimentos de extrema-direita e antieuropeus, que se encontram no auge, como a Frente Nacional (FN) da França, que denuncia em nome do "povo" as "guinadas totalitárias" da UE.
Entre as maneiras para evitar a desintegração da UE aparece o cenário da construção de uma Europa com diferentes níveis de integração. Esta possibilidade ganhou espaço nas discussões sobre a declaração, defendida principalmente pelas grandes economias do bloco: Alemanha, França, Itália e Espanha. A Europa a "várias velocidades", o litígio mais controverso, se transformou na Declaração de Roma em uma Europa com "distintos ritmos", mas com "porta aberta" para os países que desejam unir-se "mais adiante" ao grupo de membros mais avançados.
Um parágrafo que foi escrito cuidadosamente para tentar tranquilizar os países da ex-órbita soviética, como a Polônia, que temem ficar relegados a membros de segunda categoria no "clube", depois que expressaram oposição nos últimos anos aos projetos de Bruxelas sobre a crise migratória. "O futuro da Europa está em nossas mãos" e "a UE é o melhor instrumento para alcançar nossas metas", reafirmam os dirigentes na Declaração. "Para nossa sorte, estamos unidos. A Europa é o nosso futuro comum".