Um bombardeio aéreo atingiu na terça-feira (4) por volta das 07H locais (01H de Brasília) a pequena cidade de Khan Sheikhun, controlada por rebeldes e extremistas na província de Idleb, no noroeste da Síria. Imagens de uma correspondente da AFP mostraram corpos sem vida estendidos na calçada e pessoas sofrendo convulsões e crises de asfixia.
Segundo médicos no local, os sintomas dos pacientes eram similares aos constatados em vítimas de ataque químico: pupilas dilatadas, convulsões e espuma saindo da boca. A natureza do gás tóxico ainda não foi determinada.
O número de vítimas não para de aumentar desde o ataque: na quarta-feira (5), o balanço mais recente é de ao menos 86 mortos, inclusive 30 crianças. O Observatório Sírio de Direitos Humanos (OSDH) afirma que há mais de 160 feridos e um número indeterminado de "pessoas desaparecidas".
Vários dirigentes, especialmente ocidentais, e a oposição síria acusaram o regime de Bashar Al Assad. "Todas as provas que vi sugerem que foi o regime de Al Assad.... Usando armas ilegais contra seu próprio povo", afirmou o secretário britânico de Relações Exteriores, Boris Johnson.
O presidente francês, François Hollande, fez alusão à "responsabilidade" de Assad no "massacre" e a Casa Branca denunciou um "ato odioso do regime" de Damasco. A Coalizão Nacional, grande plataforma opositora síria, questionou o "regime do criminoso Bashar" al Assad.
O secretário-geral da ONU, António Guterres, lamentou nesta quarta-feira que "continuem (sendo cometidos) crimes de guerra" na Síria, sem mencionar Damasco. E o enviado especial das Nações Unidas à Síria, Staffan de Mistura, assegurou que a ONU fará os autores deste ataque "prestar contas".
Washington, Paris e Londres apresentaram na terça-feira um projeto de resolução condenando o ataque e pedindo uma investigação completa e rápida que será votada no Conselho de Segurança.
O Exército sírio desmentiu "categoricamente ter empregado qualquer substância química em Khan Sheikhun". Na quarta-feira (5), a Rússia, principal aliada do regime, afirmou que a aviação síria tinha bombardeado "um depósito" nas mãos dos rebeldes, onde havia "substâncias tóxicas" destinadas a combatentes no Iraque.
Em agosto de 2013, o regime foi acusado de ter empregado gás sarin em um ataque contra dois setores rebeldes na periferia de Damasco, que deixou, segundo os Estados Unidos, mais de 1.400 mortos. O governo rechaçou as acusações e ratificou em 2013 a Convenção sobre a Proibição de Armas Químicas.
A Síria deveria ter destruído seu arsenal químico em virtude de um acordo entre Moscou e Washington, mas suspeita-se que o regime tenha voltado a utilizar este tipo de armamento em várias ocasiões.
Em outubro de 2016, o Conselho de Segurança recebeu um informe concluindo que o exército sírio tinha realizado cada um destes ataques com cloro em 2014 e 2015. No começo de março, a Organização para a Proibição de Armas Químicas (OIAC) informou que investigava outros oito ataques com gás tóxico cometidos na Síria desde o começo de 2017. O regime e a Rússia sempre acusaram grupos rebeldes armados ou extremistas de usar armas químicas.