Extremistas do EI prestes a perder cidade-chave na Síria

As Forças Democráticas Sírias controlam agora 80% de Tabqa, ao norte da Síria
AFP
Publicado em 01/05/2017 às 16:20
As Forças Democráticas Sírias controlam agora 80% de Tabqa, ao norte da Síria Foto: Foto: DELIL SOULEIMAN / AFP


Combatentes apoiados pela coalizão internacional na Síria atacavam nesta segunda-feira (1º) os extremistas do grupo Estado Islâmico (EI) nas últimas trincheiras em Tabqa, cidade-chave no caminho rumo a Raqa, seu principal reduto no país em guerra. As Forças Democráticas Sírias (FDS), uma aliança de soldados curdos e árabes, controlam agora 80% de Tabqa e arrancaram uma grande bandeira do EI que tremulava nesta cidade do norte da Síria.

Apoiadas pelo ar pela coalizão internacional comandada pelos Estados Unidos e por terra por assessores militares americanos, as FDS lançaram no dia 6 de novembro uma grande ofensiva para recuperar Raqa. Desde então, conseguiram se apoderar de zonas em direção à capital do EI na Síria.

Tabqa, onde as FDS entraram pela primeira vez há uma semana, constitui uma importante linha de defesa para Raqa, situada 55 km mais a nordeste, e capital da província de mesmo nome controlada em sua maioria pelo EI desde 2014. Os combatentes curdos e árabes avançam do sul ao norte de Tabqa, encurralando o EI em dois últimos bairros contíguos às margens do rio Eufrates, disse à AFP o diretor do Observatório Sírio de Direitos Humanos (OSDH), Rami Abdel Rahman.

"As FDS já controlam 80% de Tabqa", declarou. "Em toda a cidade, o EI possui apenas os dois distritos de Wahda e Hurriya", indicou Abdel Rahman.

Segundo sua ONG, 35 extremistas morreram na batalha nas últimas 24 horas.

O 'Daesh está acabado'

Na rotatória de Al-Alam, no oeste de Tabqa, um soldado das FDS subiu em uma escada colocada em um alto poste para arrancar a bandeira negra do EI que ondeava no céu da cidade, constatou um correspondente da AFP. "Retiramos a bandeira do Daesh e vamos colocar a nossa, a das FDS", indicou à AFP um dos combatentes, Zaghros Kobane. "O Daesh - acrônimo em árabe do EI - está acabado", afirmou

Em Tabqa, onde vivem 85.000 pessoas, incluindo os extremistas, famílias inteiras fugiram diante do avanço das FDS, levando consigo galões com gasolina, malas e cobertores. Mas outros civis decidiram permanecer nos bairros conquistados pela aliança curdo-árabe.

A cidade, que foi uma base do EI e chegou a abrigar a principal prisão do grupo extremista, está situada perto de uma grande represa, ainda em poder dos combatentes radicais. Para ultrapassar este obstáculos, as FDS utilizam embarcações improvisadas no lago Assad, uma enorme reserva criada no rio Eufrates, com o objetivo de abastecer seus companheiros de armas. 

Novas táticas

"Tabqa é a batalha mais dura que já lançamos", disse o comandante Jako Zerkeh, apelidado de "o lobo". Segundo ele, as FDS utilizaram novas táticas - o abastecimento via Lago Assad e o transporte aéreo atrás das linhas inimigas - para lançar a ofensiva. "Foi uma enorme surpresa para os extremistas e minou seu moral. Dezenas de extremistas se renderam. Houve mais rendições do que em qualquer outra cidade", acrescentou o comandante Zerkeh.

No domingo (30), um correspondente da AFP em Tabqa viu membros das FDS detendo um grupo de homens, apresentados por um dos responsáveis como combatentes do EI. Eles esperavam ser transferidos pelo Lago Assad às regiões controladas pelas FDS. Em Washington, o Pentágono anunciou que os ataques da coalizão internacional já deixaram 352 civis mortos erroneamente desde 2014 na Síria. Mas o número de vítimas civis seria ainda mais elevado segundo grupos de defesa dos direitos humanos.

A ONU anunciou a criação de um grupo de trabalho encarregado de identificar as pessoas responsáveis pelas atrocidades cometidas na Síria. Seus integrantes começarão logo seu trabalho, a primeira etapa antes de levar à justiça os eventuais culpados por crimes de guerra no país árabe.

A ONG Human Rights Watch (HRW) afirmou que o exército sírio utilizou gás neurotóxico no suposto ataque contra a cidade rebelde de Khan Sheikhun, deixando mais de 80 mortos, no início de abril e em outras três ofensivas que lhe são atribuídas. Há uma "tendência clara" da utilização de armas químicas que poderiam custar ao governo sírio acusações de crimes contra a humanidade, de acordo com um relatório desta organização de defesa dos direitos humanos com sede em Nova York.

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