Trump defende 'direito' de compartilhar informações com Rússia

Na semana passada, Trump recebeu o chanceler russo, Serguei Lavrov no Salão Oval da Casa Branca
AFP
Publicado em 16/05/2017 às 22:50
Na semana passada, Trump recebeu o chanceler russo, Serguei Lavrov no Salão Oval da Casa Branca Foto: Foto: SAUL LOEB / AFP


O presidente americano, Donald Trump, defendeu-se nesta terça-feira (16) da acusação de ter passado informações sigilosas para a Rússia, alegando que tem o "direito absoluto" de compartilhar dados reservados da Inteligência, em um caso que surpreende inclusive seus aliados no Congresso.

"Como presidente, quis compartilhar com a Rússia [em um evento aberto da Casa Branca], como é meu direito absoluto, fatos sobre terrorismo e segurança aeronáutica", escreveu Trump em uma série de tuítes. Além disso, expressou o presidente, queria que a "Rússia aumentasse de forma importante sua participação na luta contra o EI [Estado Islâmico] e o terrorismo".

Desde a tarde de segunda-feira (15), Trump se encontra no centro de um escândalo de alcance imprevisível por denúncias de ter dado ao chanceler russo, Serguei Lavrov, informações da Inteligência consideradas extremamente secretas.

Na semana passada, Trump recebeu o chanceler no Salão Oval e, de acordo com relatos de vários jornais, nesta conversa, o republicano mencionou que o EI planejava ataques contra os Estados Unidos, usando laptops em voos.

Segundo fontes de alto escalão do governo, a informação foi oferecida aos Estados Unidos por um aliado com a condição de não repassá-la a ninguém, nem mesmo a outros países aliados, para não expor a fonte.

Durante uma cerimônia junto com o presidente turco, Recep Tayyip Erdogan, Trump disse nesta terça-feira que "tivemos uma reunião bem-sucedida com o ministro russo das Relações Exteriores", mas sem dar mais detalhes.

Diálogo apropriado

Em uma tentativa de dirimir as suspeitas, o conselheiro de Segurança Nacional, general Herbet McMaster, negou nesta terça que Trump tenha dito algo "inapropriado" a Lavrov, reiterando que as denúncias se baseiam em uma história "falsa".

"De nenhuma maneira, o presidente manteve um diálogo inapropriado, ou que resultasse de qualquer forma em uma exposição da segurança nacional", disse McMaster.

Não obstante, o conselheiro da Presidência admitiu que Trump não havia sido informado de que a fonte desse dado sobre a segurança aeronáutica era extraordinariamente sensível.

Na visão de McMaster, Washington e Moscou possuem "interesses comuns" sobre o Estado Islâmico, e os dois países se beneficiariam de dados de Inteligência sobre como melhorar sua segurança aérea.

Por isso, é "completamente apropriado" compartilhar informações com a Rússia, disse McMaster.

Moscou também optou por minimizar todo o episódio. O porta-voz do Kremlin, Dmitri Peskov, opinou que todo caso era "um grande absurdo" e que "não é um tema que possamos confirmar, ou negar".

Maria Zakharova, porta-voz da chancelaria russa, afirmou no Facebook que esse escândalo não passa de uma "notícia falsa".

Terremoto político

Este novo escândalo surge em meio ao terremoto político gerado há uma semana pela demissão de James Comey como diretor do FBI (a Polícia Federal americana). Ele investigava os contatos entre a Rússia e o comitê de campanha de Trump nas eleições do ano passado.

Em um gesto que acelerou as tensões políticas em um país com os nervos à flor da pele, Trump recebeu Lavrov na Casa Branca um dia depois de demitir Comey.

O influente senador republicano John McCain afirmou nesta terça-feira que as denúncias são "profundamente perturbadoras".

Já o ex-diretor da CIA Leon Panetta disse à imprensa que os gestos e declarações de Trump "minam a credibilidade do gabinete da Presidência. É o presidente dos Estados Unidos, não um astro de um reality show".

No plenário do Senado, o legislador democrata Tom Udall foi mais brutal: "não acredito que haja um paralelo em nossa história de semelhante falta de discrição presidencial ou tão perigosa incompreensão sobre como administrar informações secretas".

O chefe do bloco democrata no Senado, Chuck Schumer, disse que a gravidade das denúncias tornou necessário que "o governo forneça ao Congresso a transcrição da conversa do presidente Trump com os funcionários russos".

Até o líder da Comissão de Relações Exteriores, senador Bob Corker, admitiu que a Casa Branca está em uma "espiral descendente" e considerou urgente que "façam algo para recuperar o controle e a ordem. É o que tem que acontecer".

O mais antigo senador no cargo, o democrata Patrick Leahy, disse à imprensa que "nossas instituições estão caindo aos pedaços".

Já o senador conservador Jim Risch concentrou sua fúria nos funcionários da Casa Branca que vazaram para a imprensa o que aconteceu na conversa entre Trump e Lavrov. Para Risch, foi um gesto típico de "algum traidor".

A Comissão de Assuntos de Inteligência da Câmara de Representantes confirmou que o diretor da CIA, Mike Pompeo, comparecerá a uma audiência na próxima terça.

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