O ex-chanceler alemão Helmut Kohl, um dos grandes nomes da história contemporânea e pai da reunificação alemã, morreu nesta sexta-feira, aos 87 anos, informou o jornal Bild.
Kohl, o líder alemão que mais anos permaneceu no poder desde o fim da Segunda Guerra Mundial, morreu em sua casa em Ludwigshafen, leste da Renânia-Palatinado, informou o jornal, que mantinha vínculos estreitos com o político conservador.
As primeiras reações à notícia da morte foram do ex-presidente americano George W. Bush, para quem Kohl foi um dos maiores líderes do pós-guerra, e do presidente da comissão europeia, Jean Claude Juncker, que definiu o ex-chanceler alemão como "a própria essência da Europa".
Considerado um político provinciano por alguns no microcosmos de Bonn, então capital federal, alcançou um novo patamar durante os 11 meses transcorridos entre a queda do Muro de Berlim, em 9 de novembro de 1989, e a fusão, em 3 de outubro de 1990, da República Federal da Alemanha (FRA), capitalista, com a República Democrática Alemã (RDA), comunista.
Ao tornar realidade o seu sonho de uma Alemanha unida, integrada na Europa e na Otan, ganhou o apelido de "chanceler da reunificação".
Em 10 de novembro, depois de pronunciar a palavra "reunificação" em um discurso aos berlinenses, Kohl recebeu uma sonora vaia da multidão que o ouvia e que aplaudiu com entusiasmo um pouco antes o ex-prefeito da cidade e ex-chanceler social-democrata Willy Brandt.
Entretanto, o chanceler não se deu por vencido e em 28 de dezembro apresentou no Parlamento um programa de 10 pontos até a reunificação, propondo primeiro a instauração de estruturas confederais. "Em algumas semanas começa a última década deste século, o século de tanta miséria, de sofrimento e de sangue", disse.
"Hoje há sinais promissores que mostram que os anos 1990 podem ser portadores de mais paz e liberdade na Europa e na Alemanha. É necessário - todos sentem - dar a nossa contribuição, devemos aceitar juntos o desafio da História", acrescentou.
A União Cristão Democrata (CDU) de Kohl ganhou as primeiras eleições livres na Alemanha Oriental, em 18 de março de 1990, com 40,8% dos votos, um resultado que para o chanceler teve o valor de um plebiscito. A população da RDA acreditava nos efeitos positivos de uma unificação rápida.
Propunha a paridade entre o poderoso Deutschemark ocidental e o Volksmark do leste, uma iniciativa duramente combatida pelo Bundesbank, o banco central da RFA, que considerava com toda a razão a situação econômica da república comunista muito mais desastrosa do que se poderia pensar pela sua classificação de 10º potência econômica mundial.
O gesto foi tanto uma medida de solidariedade com os alemães do leste como uma decisão destinada a evitar o seu êxodo em massa para o oeste.
"O preço político - e econômico - de uma unificação alemã ainda atrasada havia sido como toda a segurança muito mais alto do que o obstáculo financeiro que aceitamos ao optar pela via rápida da reunificação", escreveu Kohl em 1996, quando o Estado federal pagou 480 bilhões de dólares às regiões da ex-RDA.
"Inclusive se soubesse dessas cifras [o balanço econômico da RDA] na primavera de 1990, não teria agido de outra maneira nos principais pontos", acrescentou então.
A promessa de transformar os novos Länder (estados) do leste em "paisagens florescentes" não se cumpriu e a Alemanha esteve durante muito tempo impedida pelo enorme peso financeiro e social de uma transição brusca.
No exterior, o chanceler também teve que trabalhar para convencer os seus aliados, em particular o presidente francês François Mitterrand e a primeira-ministra britânica Margaret Thatcher, ambos com muitas reservas sobre a reunificação.
No entanto, se apoiou na estreita relação com o presidente dos Estados Unidos George Bush pai, e também usou os vínculos de confiança com o russo Mikhail Gorbachev para conseguir retirar as tropas soviéticas.
Graças à reunificação, sua "grande obra", Kohl deixou a chancelaria em 1998 com a Grande Cruz da Ordem do Mérito da República Federal da Alemanha, uma distinção somente obtida pelo chanceler do pós-guerra Konrad Adenauer.
Nesse mesmo ano foi recompensado com o título de Cidadão de Honra da Europa, concedido até então apenas a Jean Monet. E desde o fim de sua carreira política, a cada outono, o nome do chanceler que reunificou a Alemanha 45 anos após o nazismo, aparecia nas opções para o Prêmio Nobel da Paz.