Portugal, de luto após incêndio grave, tenta entender o que aconteceu

Os portugueses se questionam sobre o que realmente provocou o incêndio mortal do fim de semana. Sessenta e três pessoas morreram
AFP
Publicado em 20/06/2017 às 9:28
Os portugueses se questionam sobre o que realmente provocou o incêndio mortal do fim de semana. Sessenta e três pessoas morreram Foto: Foto: PATRICIA DE MELO MOREIRA / AFP


Os portugueses se questionam sobre o que realmente provocou o incêndio mortal do fim de semana, contra o qual milhares de bombeiros ainda lutam, o que provoca dúvidas sobre a gestão das florestas e estradas do país.

As chamas ao redor de Pedrógão Grande, no centro do país, devem ser controladas nas próximas horas, afirmou Vitor Vaz Pinto, diretor da Defesa Civil, graças ao trabalho de 1.150 bombeiros, que contam com o apoio de quase 400 veículos.

As colunas de fumaça são observadas nas colinas próximas e alguns focos de incêndio ainda estão ativos.

Os aviões de combate a incêndios prosseguem com sua missão, depois de pegar água em um lago próximo à localidade de Pedrógão Pequeno.

Onze aviões foram enviados por países vizinhos. Em todo o país, quase 2.000 bombeiros estão mobilizados em 80 frentes.

O balanço do incêndio, declarado no sábado, permanece em 63 mortos. Mas o número de feridos foi revisado em alta, a 157, com sete pessoas em estado grave, incluindo uma criança.

Nos vilarejos das zonas rurais, a luta contra as chamas prossegue, mas as críticas começaram a surgir de todos os lados.

O padre José Gomes, de Figueiró dos Vinhos, disse à AFP que os moradores não receberam apoio dos bombeiros, "às vezes nem água".

"Há um ambiente de revolta contra os serviços de socorro", afirmou.

Alguns também questionam se as estradas foram bloqueadas de modo suficientemente rápido no sábado.

Um total de 47 vítimas morreram na estrada nacional 236, 30 delas cercadas pelo fogo. De acordo com as autoridades locais, em sua maioria eram famílias que pretendiam passar a tarde em uma praia da região.

Eucaliptos inflamáveis 

Na imprensa portuguesa, ao lado de relatos e fotos das vítimas, também há espaço para a polêmica.

"O plano de combate a incêndios não foi revisado nos últimos quatro anos", "Falha na comunicação para combater o incêndio", "A floresta na armadilha dos eucaliptos", eram as manchetes dos jornais.

O jornal Público recorda que o plano de luta contra as chamas deve ser atualizado a cada dois anos, mas que recentemente a questão dos incêndios florestais "não foi considerada urgente" pelo Parlamento.

O Jornal de Notícias destaca o problema das antenas de comunicação do serviços de emergência, que parecem ter sido danificadas pelo calor do incêndio, o que teria atrasado o trabalho dos bombeiros.

Também aparece no debate a questão dos eucaliptos, altamente inflamáveis. Para João Camargo, especialista em mudanças climáticas citado pelo Público, as plantações industriais não regulamentadas são, em grande parte, responsáveis pelo problema.

"Nas últimas décadas observamos um aumento na frequência dos incêndios florestais em Portugal, mais que em outros países do sul da Europa", afirma. 

E com o esvaziamento do campo, há menos pessoas para limpar os matagais, terreno ideal para os incêndios florestais.

As críticas também surgiram no âmbito político.

"Não pode ser culpa de ninguém. Não basta que o presidente da República dê beijos de lamento. Dizer que não se pode fazer nada não é suficiente", escreveu no Facebook Helder Amaral, deputado do partido conservador de oposição CDS.

As chamas já consumiram quase 26.000 hectares de floresta, de acordo com o Sistema Europeu de Informação sobre Incêndios Florestais.

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