Donald Trump, questionado dentro e fora dos Estados Unidos por não condenar enfaticamente atos de violência racial, causou mais uma polêmica nesta quinta-feira (17) ao lamentar a remoção de estátuas de personagens que apoiaram a escravidão, renovando as críticas em suas próprias fileiras.
Depois de culpar igualmente supremacistas brancos e ativistas anti-racismo pelos violentos distúrbios em Charlottesville, o presidente americano considerou uma "besteira" a retirada de monumentos de figuras da Confederação sulista, contrária a abolir a escravidão e perdedora na Guerra de Secessão (1861-65).
"Triste ver a história e a cultura de nosso grande país sendo destruídas pela remoção de nossas belas estátuas e monumentos", escreveu Trump no Twitter.
"Não se pode mudar a história, mas pode-se aprender com ela. Robert E. Lee, Stonewall Jackson - quem é o próximo, Washington, Jefferson? Que besteira!", continuou, referindo-se às estátuas dos generais confederados Lee e Jackson, cuja remoção esteve no olho do furacão.
Trump já havia se referido aos pais fundadores do país na terça-feira, quando lembrou que tanto George Washington como Thomas Jefferson eram donos de escravos e perguntou se por isso suas estátuas deveriam ser derrubadas.
A preservação dessas obras virou uma bandeira de supremacistas brancos, neonazistas e grupos como a Ku Klux Klan (KKK), que no sábado marcharam na cidade de Charlottesville contra os planos de retirar uma estátua do general Lee.
O protesto terminou em tragédia quando um simpatizante neonazista jogou seu carro contra manifestantes anti-racismo, matando uma mulher de 32 anos e deixando outras 19 pessoas feridas.
Trump demorou 48 horas para condenar o episódio, mas um dia depois afirmou em uma improvisada e incoerente entrevista coletiva que havia "gente muito boa" em ambos os lados.
Trump foi criticado por sua retórica complacente com a extrema-direita. E nesta quinta-feira, políticos republicanos questionaram até sua idoneidade para governar.
"O presidente ainda não pôde demostrar a estabilidade nem algumas das competências que precisa demostrar para ter sucesso", disse o senador Bob Corker, presidente da comissão das Relações Exteriores do Senado.
Tim Scott, único republicano afro-americano no Senado, questionou a liderança de Trump depois de sua resposta a Charlottesville. "O que queremos ver do nosso presidente é clareza e autoridade moral", disse.
Por sua vez, Nancy Pelosi, líder democrata na Câmara de Representantes, pediu que as estátuas confederadas sejam retiradas do Capitólio.
"Não há lugar para celebrar a violenta intolerância dos homens da Confederação nos sagrados corredores do Capitólio dos Estados Unidos", disse.
Do exterior, sem comentar as controversas declarações de Trump, o presidente francês Emmanuel Macron se referiu ao tema em um tuíte, no qual se declarou "junto aos que combatem o racismo e a xenofobia. Nosso combate comum, ontem e hoje. #Charlottesville".
O chefe da diplomacia alemã, Sigmar Gabriel, foi mais longe e denunciou o "enorme erro" de Trump ao não se distanciar claramente dos neonazistas depois do que aconteceu em Charlottesville. Além disso, lembrou que o estrategista de Trump, Steve Bannon, é "próximo" da extrema-direita.
O controverso conselheiro, acusado por vários setores de ser um supremacista branco apesar de suas reiteradas negativas, defendeu o mandatário.
"O presidente Trump, ao perguntar, 'Onde termina tudo isso? Washington, Jefferson, Lincoln' - se conecta com o povo americano sobre sua história, sua cultura e suas tradições", disse o jornal The New York Times.
Uma pesquisa da NPR/PBS NewsHour/Marist revelou na quinta-feira que a maioria dos americanos (62%) é favor de manter como símbolos históricos as estátuas dos protagonistas da guerra civil associadas com a defensa da escravidão.
Segundo a ONG Southern Poverty Law Center (SPLC), especializada em movimentos radicais e direitos civis, há mais de 1.500 símbolos confederados no espaço público dos Estados Unidos, a maioria no sul.