Célula terrorista preparava atentados contra monumentos na Espanha

Um dos suspeitos disse que a célula preparava um "atentado mais importante", com a fabricação de "bombas para por em monumentos"
AFP
Publicado em 22/08/2017 às 18:40
Um dos suspeitos disse que a célula preparava um "atentado mais importante", com a fabricação de "bombas para por em monumentos" Foto: Foto: LLUIS GENE / AFP


Um dos quatro suspeitos dos atentados que deixaram 15 mortos e 120 feridos na Catalunha, Mohamed Houli Chemlal, admitiu nesta terça-feira (22) a um juiz espanhol que ele e os demais integrantes da célula terrorista planejavam um atentado de maior envergadura com bombas em monumentos.

Chemlal, ferido em uma explosão acidental em uma casa em Alcanar (200 km ao sul de Barcelona), onde o grupo fabricava explosivos, ato que teria precipitado os ataques, fez a afirmação diante de um juiz em Madri, relatou uma fonte judicial.

Ele e outros três suspeitos sobreviventes da célula terrorista responsável pelos atropelamentos em Barcelona e Cambrils, desbaratada pela Polícia catalã foram levados nesta terça-feira à Audiência Nacional de Madri, jurisdição encarregada dos casos de terrorismo.

Todos foram acusados de "integrar organização terrorista, danos e posse de explosivos", informou à AFP uma fonte judicial.

Os outros oito integrantes do grupo morreram, seis deles executados pela Polícia e dois na explosão em Alcanar.

Os detidos, Driss Oukabir, Mohammed Aallaa, Mohamed Houli Chemlal e Salh El Karib, foram levados em camburões da Guarda Civil, escoltados por inúmeros carros da polícia.

O juiz Fernando Andreu determinou a prisão provisória de Mohamed Houli Chemal, um espanhol de 21 anos, e de Driss Oukabir, marroquino de 27.

O primeiro fez parte do grupo diretamente envolvido na preparação de dispositivos explosivos na residência de Alcanar.

O segundo alugou em seu nome a van usada para atropelar a multidão em Barcelona na quinta-feira, provocando 13 das 15 mortes dos atentados.

Por outro lado, o magistrado decidiu libertar sob controle judiciário o marroquino Mohamed Aalla, um terceiro suspeito dos quatro apresentados diante dele nesta terça. Ela é o proprietário do veículo usado no segundo ataque em Cambrils, balneário ao sul de Barcelona.

Durante pouco mais de uma hora, Chemlal deu muitos detalhes ao juiz da Audiência Nacional de Madri, a jurisdição encarregada de casos de terrorismo.

Nascido no enclave espanhol de Melilla há 21 anos, Chemlal ficou ferido em uma explosão acidental na noite de quarta-feira em uma residência de Alcanar (200 km ao sul de Barcelona).

Ele confirmou ao juiz o que já tinha dito à Polícia: que a célula preparava nesta casa um "atentado mais importante", mediante a fabricação de "bombas para por em monumentos", explicou a fonte judicial.

A suspeito salvou-se de morrer na explosão, que matou outros dois membros do grupo, porque "tinha jantado e estava no alpendre" da casa, contou.

Segundo a Polícia, a explosão acidental precipitou os ataques, pois ao ficar sem explosivos, o grupo optou por realizar atentados mais rudimentares.

Nesta residência, a Polícia encontrou 120 botijões de gás e restos de um poderoso explosivo caseiro bastante usado pelo grupo Estado Islâmico, que reivindicou o duplo atentado na Catalunha.

Ramificações internacionais

Chemlal tentou pôr a culpa no imã marroquino Abdelbaki Es Satty, considerado o principal doutrinador do grupo, morto na explosão em Alcanar.

Depois de Chemlal, o juiz escutou os outros três suspeitos: Driss Oukabir, Mohammed Aallaa e Salh El Karib, todos marroquinos.

Oukabir admitiu ter alugado a van usada no atropelamento maciço nas turísticas Ramblas de Barcelona na quinta-feira passada, deixando 13 mortos e mais de cem feridos. Mas assegurou que o tinha feito para uma mudança.

Aallaa, de 27 anos, dono do Audi A3 utilizado no ataque em Cambrils, explicou que o veículo estava em seu nome por uma questão de seguro, mas realmente quem usava o automóvel era seu irmão, Said, de 19 anos, morto pela Polícia neste atentado, juntamente com outros quatro membros da célula.

A Polícia considerou desarticulada a célula na tarde de segunda-feira, depois da execução perto de Barcelona, após uma intensa busca, do marroquino de 22 anos Younes Abouyaaqoub, o autor material do atropelamento em massa em Barcelona. Na fuga, ele esfaqueou mortalmente uma pessoa para roubar-lhe o veículo.

A Polícia investiga agora as possíveis ramificações internacionais da célula, cujos vários de seus membros viajaram para o exterior.

Pelo menos um dos suspeitos, cujo nome não foi divulgado, viajou para Zurique em dezembro, segundo a Polícia federal suíça. O imã Abdelbaki Es Satty esteve na Bélgica entre janeiro e março de 2016.

E o Audi A3 usado no ataque em Cambrils foi detectado por satélite perto de Paris em 12 de agosto com quatro pessoas a bordo.

Novas revistas

A Polícia também continuava a fazer revistas na Espanha, anunciando na tarde desta terça-feira batidas em Vilafranca del Penedès, perto de onde Younes Abouyaaqoub foi executado, e em Ripoll, pequena cidade dos Pirineus catalães, onde cresceram quase todos os suspeitos.

Em Barcelona, a cidade mais turística da Espanha, as homenagens às vítimas se multiplicaram, com altares floridos e velas coloridas nas Ramblas.

A Espanha não vivia um ataque similar desde 11 de março de 2004, quando uma série de bombas explodiram em trens nos subúrbios de Madri, matando 191 pessoas, um ataque reivindicado pela Al Qaeda.

O chefe de governo espanhol, o conservador Mariano Rajoy, insistiu na unidade política na Espanha, enquanto o governo separatista catalão quer organizar um referendo de secessão em 1º de outubro.

"Parabéns mais uma vez aos Mossos [a Polícia catalã] e ao resto dos Corpos de Segurança por seu magnífico trabalho. Juntos venceremos o terrorismo", escreveu Rajoy em sua conta no Twitter.

As 15 vítimas fatais dos ataques já foram totalmente identificadas: são cinco espanhóis, entre eles um menino de três anos, uma hispano-argentina, três italianos, dois portugueses, uma belga, um americano, um canadense e um menino britânico-australiano de sete anos.

Seguem hospitalizadas 46 pessoas, das quais sete em situação crítica.

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