A ex-primeira-ministra da Tailândia Yingluck Shinawatra, não compareceu nesta sexta-feira (25) à leitura do veredicto de um processo por negligência e fugiu para o exterior, ante o risco de uma pena de até 10 anos de prisão, o que abre o caminho para a junta militar dominar a vida política.
"Ela não está mais aqui", declarou uma fonte do partido Puea Thai, que pediu anonimato.
"Foi embora na quarta-feira", completou.
Ela repetiu o seu irmão Thaksin, também ex-primeiro-ministro, que em 2008 partiu para o exílio depois de ter sido condenado a dois anos de prisão por corrupção, em um julgamento que ele também denunciou como político.
O atraso de Yingluck à leitura do veredicto nesta sexta-feira provocou surpresa entre os milhares de manifestantes e vários jornalistas que estavam na Corte Suprema.
"Sua advogada declarou que ela está doente e pediu o adiamento do veredicto, mas o tribunal não acredita que esteja enferma e decidiu emitir uma ordem de prisão", declarou o juiz que preside o tribunal, Cheep Chulamon.
Milhares de simpatizantes de Shinawatra, observados por 4.000 policiais, compareceram à Corte Suprema.
Durante o processo que durou 18 meses, centenas de pessoas se reuniram diante do tribunal para oferecer flores a Yingluck, mas nesta sexta-feira o ambiente era mais sombrio.
As acusações contra a ex-chefe de Governo, derrubada por um golpe de Estado militar em maio de 2014, podem resultar em uma pena de até 10 anos de prisão e a perda dos direitos políticos por toda sua vida.
Os outros dois acusados receberam sentenças pesadas: 42 anos de prisão para o ex-ministro do Comércio Boonsong Teiyapirom e 36 para seu adjunto.
No início de agosto, Yingluck denunciou um processo "político" dirigido pela junta, que acusou de querer limpar o cenário político da influência dos Shinawatra, família que venceu todas as eleições nacionais desde 2001.
Os simpatizantes de Yingluck denunciam uma perseguição a seus partidários, agricultores e pobres, pela elite da capital e pelos militares que tomaram o poder.
Todos denunciaram a brecha aberta na sociedade tailandesa entre os simpatizantes dos Shinawatra, produtores de arroz na zona rural do país e pobres em sua maioria, e elite da capital, incluindo os generais que tomaram o poder.
O processo tem uma forte dimensão simbólica em um país profundamente dividido entre os partidários e os detratores da família Shinawatra, que usam camisas vermelhas ou camisas amarelas para uma distinção.
A ex-primeira-ministra foi julgada por negligência na adoção de um programa de subsídio de arroz.
O programa contemplava a compra de arroz dos produtores nas zonas rurais, base eleitoral dos Shinawatra, a um preço superior ao de mercado.
Mas Yingluck alega que esta foi uma ajuda necessária para os mais pobres, que historicamente recebem pouco apoio do governo.
O exílio de Yingluck, assim como o de seu irmão Thaksin, marca o fim de mais de 10 anos de domínio político por parte da família Shinawatra.
"É o fim dos Shinawatra e do partido Puea Thai na política. Com dois membros da família em fuga, a família perdeu sua legitimidade política", disse a cientista política Puangthong Pawakapan.
E a junta militar, que prometeu eleições em 2018, tem tudo para tirar proveito da deserção, ao invés de se ver obrigada a lidar com uma eventual transformação de Yingluck em um símbolo democrático caso ela fosse detida.