Líder de Mianmar denuncia 'desinformação' sobre crise dos rohingyas

A compaixão internacional em relação aos muçulmanos rohingyas é resultado de um 'enorme iceberg de desinformação criado para gerar problemas entre as diferentes comunidades e promover os interesses dos terroristas'
AFP
Publicado em 06/09/2017 às 9:26
A compaixão internacional em relação aos muçulmanos rohingyas é resultado de um 'enorme iceberg de desinformação criado para gerar problemas entre as diferentes comunidades e promover os interesses dos terroristas' Foto: Foto: K M ASAD / AFP


A líder de fato de Mianmar, Aung San Suu Kyi, denunciou nesta quarta-feira (6) um "grande iceberg de desinformação" que, segundo ela, dá uma visão equivocada da crise dos muçulmanos rohingyas, situação que deixa a ONU em alerta.

Este foi o primeiro comentário oficial da vencedora do Nobel da Paz desde o início da crise, no fim de agosto. Suu Kyi tem sido muito criticada no exterior por seu silêncio sobre o destino da minoria rohingya. Milhares de pessoas fugiram para o vizinho Bangladesh.

A compaixão internacional em relação aos muçulmanos rohingyas é resultado de um "enorme iceberg de desinformação criado para gerar problemas entre as diferentes comunidades e promover os interesses dos terroristas", afirmou Suu Kyi durante uma conversa por telefone com o presidente turco, Recep Tayyip Erdogan, segundo uma transcrição divulgada por sua assessoria de comunicação.

Em várias ocasiões, Erdogan condenou a resposta do governo birmanês à crise e chegou a mencionar um "genocídio no estado de Rakhine", na região noroeste de Mianmar.

Aung San Suu Kyi, que sempre defendeu a ação do Exército, rebateu a acusação e afirmou que seu país faz "o necessário para proteger os direitos de todos os habitantes".

"Sabemos muito melhor do que terceiros o que significa estarmos privados de direitos e de proteção democrática", completou, em uma referência a seus anos de luta contra a junta militar birmanesa, que a deixou por muitos anos em prisão domiciliar.

Milhares de refugiados

A violência explodiu em 25 de agosto, quando os rebeldes do Exército de Salvação Rohingya de Arakan (ARSA, na sigla em inglês), que afirmam defender a minoria muçulmana, atacaram dezenas de delegacias de polícia.

O Exército birmanês reagiu com uma grande operação em Rakhine, uma área pobre e remota do país, o que obrigou a fuga de dezenas de milhares de pessoas.

De acordo com o Exército de Mianmar, o balanço é de 400 mortos, quase todos muçulmanos.

Até o ano passado os rohingyas não haviam recorrido à luta armada, uma situação que mudou em outubro com os primeiros ataques do ARSA.

Segundo as organizações humanitárias, 125.000 refugiados entraram em Bangladesh desde 25 de agosto, e milhares de pessoas estariam a caminho do país vizinho, algumas delas bloqueadas na fronteira.

Nesta quarta-feira, ao menos cinco crianças morreram no naufrágio de uma embarcação de rohingyas que fugiam de Mianmar, segundo a Guarda Costeira de Bangladesh.

De acordo com o guarda de fronteira Aloysius Sangma, pelo menos três barcos repletos de refugiados rohingyas afundaram no rio Naf, que estabelece a fronteira entre Bangladesh e o extremo sudeste de Mianmar.

Considerados estrangeiros em Mianmar, onde mais de 90% da população é budista, os rohingyas — quase um milhão de pessoas - são considerados apátridas, apesar da presença de algumas famílias há várias gerações no país.

Eles não têm acesso ao mercado de trabalho, às escolas, nem aos hospitais. O avanço do nacionalismo budista nos últimos anos aumentou a hostilidade.

A situação torna o silêncio de Aung San Suu Kyi inaceitável no exterior.

Alguns analistas consideram que ela é impotente diante do auge dos budistas extremistas e de um Exército que continua muito forte, inclusive politicamente, em um país que durante 50 anos foi uma ditadura militar.

Depois de investigar uma crise de violência anterior, a ONU denunciou uma grande operação de repressão "generalizada e sistemática", realizada essencialmente pelo Exército contra os rohingyas.

A ONU considerou que a repressão teve como consequência uma "limpeza étnica" e, "muito provavelmente", crimes contra a humanidade.

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