O presidente americano, Donald Trump, fez nesta segunda-feira sua estreia na ONU com foco na crise política na Venezuela e em uma ofensiva para reformar uma organização engessada, que inicia uma semana de debates, também dominados pela Coreia do Norte, o Irã e Mianmar.
Trump e seu vice-presidente, Mike Pence, chegaram à noite a um hotel luxuoso de Manhattan para jantar com os presidentes do Brasil, Michel Temer; da Colômbia, Juan Manuel Santos; do Panamá, Juan Carlos Varela; e a vice-presidente argentina, Gabriela Michetti, com os quais deve discutir a crise política na Venezuela.
O presidente peruano, Pedro Pablo Kuczynski, também foi convidado, mas acabou ficando em Lima, depois de um confronto com o Congresso que forçou a renovação de seu gabinete ministerial.
A Venezuela "está desmoronando" e "o povo venezuelano está morrendo de fome", afirmou Trump no início do jantar.
Trump disse que o presidente venezuelano, Nicolás Maduro, "desafiou seu próprio país" e é culpado de "um governo desastroso", o que pode levar a novas sanções contra Caracas.
Os países participantes do jantar integram o Grupo de Lima, formado por 12 nações latino-americanas que, em agosto, condenaram a quebra da ordem democrática na Venezuela e se negam a reconhecer a Assembleia Constituinte, impulsionada pelo governo de Nicolás Maduro.
Pela manhã, os chanceleres da Comunidade de Estados Latino-Americanos e Caribenhos (CELAC), inclusive o chanceler venezuelano, Jorge Arreaza - que representa seu país na Assembleia - se reuniram para decidir se devem celebrar a cúpula América Latina-União Europeia prevista para outubro, mas não chegaram a um acordo.
O Grupo de Lima e o Mercosul propõem adiar o encontro. Vários de seus integrantes destacaram que não assistiriam a uma cúpula juntamente com a Venezuela.
A UE também avalia que a cúpula deveria "ser realizada no momento mais oportuno para ter êxito".
Arreaza não deu declarações após a reunião, mas retuitou uma mensagem da embaixada venezuelana na Arábia Saudita, que dizia "Apelamos ao espírito de união e integração da CELAC (em) Nova York".
A Assembleia Geral anual da ONU, na presença de 130 líderes mundiais, começará oficialmente na terça-feira, com os discursos de Temer, Trump e Santos entre os primeiros.
São vários os presidentes latino-americanos ausentes: além de Kuczynski, Maduro, o cubano Raúl Castro, o mexicano Enrique Peña Nieto e o argentino Mauricio Macri não foram ao evento, mas enviaram seus chanceleres ou vices.
À margem dos discursos dos líderes à frente da famosa parede de mármore verde, o Conselho de Segurança debaterá o reforço de sanções contra Pyongyang por seus testes balísticos e nucleares.
Trump e seu contraparte chinês, Xi Jinping, se comprometeram nesta segunda-feira em uma conversa por telefone a "maximizar a pressão sobre a Coreia do Norte", anunciou a Casa Branca.
O futuro do acordo nuclear iraniano também será discutido: a França o defende como "essencial", enquanto Israel quer derrubá-lo.
Trump, que se reuniu na segunda-feira com os líderes dos dois países, ameaça por fim ao pacto, que qualificou de o "pior acordo já negociado".
Mianmar, onde se comete, segundo os Estados Unidos, uma "limpeza étnica" depois de uma campanha militar que provocou a fuga de mais de 400.000 muçulmanos rohinya, será o centro de uma reunião convocada pelo secretário britânico de Relações Exteriores.
Trump começou o dia desta segunda-feira com uma reunião na ONU destinada a reunir apoio para uma profunda reforma da organização criada há 73 anos, depois da Segunda Guerra Mundial.
"A ONU deve se concentrar mais nas pessoas e menos na burocracia", e buscar, sobretudo, "resultados", destacou.
"A ONU foi fundada com metas verdadeiramente nobres", ressaltou, mas "em anos recentes, não tem alcançado seu potencial total, devido à burocracia e à má administração", disse Trump, que no passado denegriu a organização. comparando-a a um "clube para que as pessoas se juntem, conversem e passem um momento agradável", concluiu.
Os Estados Unidos são os principais financiadores da ONU. Mas Trump ameaça reduzir drasticamente estes recursos, o que para o secretário-geral da organização, o português António Guterres, criaria "um problema insolúvel" para a instituição.
"Nenhum Estado-membro deveria arcar de forma desproporcional com a responsabilidade, nem militarmente, nem financeiramente", disse Trump nesta segunda-feira.
Um total de 126 países se somaram a uma declaração impulsionada por Washington, que exige profundas reformas na ONU.
A embaixadora americana, Nikki Haley, convocou os 67 países que ainda não a assinaram a apoiá-la.
A diplomata foi a grande impulsionadora do corte de 600 milhões de dólares ao orçamento das missões de paz da ONU este ano.