A oposição venezuelana, descomposta após perder as eleições regionais de 15 de outubro, corre contra o relógio para decidir se irá participar das eleições municipais de dezembro, para as quais deve inscrever seus candidatos até esta segunda-feira (30).
Os partidos opositores se reuniram no fim de semana para discutir o que fazer, sem ter muito tempo, pois só na quinta-feira a toda-poderosa Assembleia Constituinte governista convocou as eleições e na sexta-feira o poder eleitoral anunciou a inscrição das candidaturas.
Uma fonte da coalizão opositora Mesa da Unidade Democrática (MUD) - que pediu para preservar seu nome - afirmou à AFP que tenta-se chegar a uma decisão de consenso. "É difícil, uns querem ir, outros não", acrescentou.
Uma posição em bloco parece complicada, pois os quatro principais partidos da MUD - Ação Democrática, Primeiro Justiça, Vontade Popular e Um Novo Tempo - divergem: dois consideram que não se deve disputar o pleito, pois acreditam que não há condições, e os outros são mais inclinados a fazê-lo.
Os partidos minoritários que integram a coalizão também estão divididos.
A decisão se complicou porque a oposição não reconheceu os resultados das eleições regionais, vencidas esmagadoramente pelo chavismo, ao vencer em 18 dos 23 estados contra apenas cinco da MUD.
Os opositores denunciaram irregularidades com a cumplicidade do Conselho Nacional Eleitoral (CNE) - ao qual acusam de servir ao governo de Nicolás Maduro -, como as mudanças dos centros de votação de última hora ou a "usurpação de identidade" dos eleitores.
Um Novo Tempo e Ação Democrática estão na mesma linha, consultado suas equipes regionais para definir se participam, enquanto os líderes do Primeiro Justiça e do Vontade Popular expressaram que não se deve participar.
"Temos disposição de participar. Estamos esperando a decisão da Ação Democrática e de outros. Estamos fazendo consultas", disse à AFP Enrique Márquez, presidente executivo do Um Novo Tempo.
O Primeiro Justiça não emitiu posição formal. Juan Carlos Caldera, um de seus dirigentes, afirmou à AFP que ainda estão decidindo.
"Se não conseguirmos dar uma luta que mude as condições eleitorais, nós não podemos ir a um processo que vai estar marcado, como esteve o dos governadores, pelo oportunismo, pela fraude", disse Julio Borges, fundador do PJ e presidente do Parlamento de maioria opositora.
Só o Vontade Popular, fundado pelo opositor preso em casa Leopoldo López, antecipou que não vai participar.
"O Vontade Popular não vai participar desse processo (...) Acreditamos que o que faz falta é uma luta por condições eleitorais nas quais possamos votar livremente", expressou Freddy Guevara, porta-voz da organização.
O secretário-geral da OEA, Luis Almagro, afirmou no sábado que "não faz nenhum sentido" que a oposição participe sem garantias às eleições municipais.
"Não se pode brincar com o voto do povo", disse Almagro à AFP durante uma assembleia na Sociedade Interamericana de Imprensa (SIP), em Salt Lake City (EUA).
O secretário-geral da AD, Henry Ramos Allup, foi dos que mais defendeu participar das regionais, nas quais seu partido venceu em quatro dos cinco estados opositores.
A decisão destes quatro governadores de tomar posse perante a Constituinte - integrada exclusivamente por governistas, pois a oposição a desconhece - rachou a MUD. Henrique Capriles, um dos líderes da oposição, anunciou sua saída da coalizão enquanto Ramos Allup estiver ali.
O CNE anunciou que no dia das municipais - ainda sem data marcada - se repetirá a eleição no estado de Zulia (noroeste), que as autoridades declararam vaga porque o governador eleito - do Primeiro Justiça - recusou-se a se subordinar à Constituinte.
A MUD tampouco definiu se inscreverá um candidato para esta eleição.
A analista Colette Capriles considera que a oposição deve se concentrar em conseguir melhores condições eleitorais, com as eleições presidenciais de 2018 como norte.
"Não se pode não inscrever candidatos, é a única forma de poder lutar por condições eleitorais para esta e para as próximas eleições. O problema não são as municipais, mas as presidenciais", acrescentou.
O analista Luis Vicente Leon advertiu que a MUD deve trabalhar na unidade porque seus partidos em separado não têm chances de vitória diante da máquina do Partido Socialista.