O regime de Xi Jinping está reforçando na China sua influência no mundo dos negócios, graças a empresários bilionários aduladores do Partido Comunista da China (PCC), às células partidárias nas empresas estrangeiras e às companhias estatais submetidas à ideologia do governo.
"Tudo deve estar sob a direção do PCC", desde o Exército, até a sociedade civil, afirmou Xi Jinping, durante seu grande discurso diante do congresso do Partido, em meados de outubro. Segundo o presidente chinês, reeleito na semana passada para liderar o gigante asiático, a "nova era" do "socialismo chinês" inclui também as empresas.
Em setembro, o PCC divulgou uma diretriz na qual exortava, entre outras indicações, a demonstração de "valores socialistas centrais" à nova geração de empresários do país.
Antes, o "Partido concentrava toda sua atenção" nas empresas do Estado, que controlavam os maiores setores da economia, explica Mark Natkin, diretor na consultoria Marbridge.
Mas, após três décadas de reformas, "o setor privado prosperou, incorporando-se ao tecido social e estimulando o Partido a se interessar mais por ele", explica.
Após o discurso de Jinping, vários bilionários líderes de emblemáticos grupos chineses se derramaram em elogios.
"Estou embargado pela emoção: como chinês, nunca estive tão orgulhoso", confirmou Wang Jianlin, presidente do grupo Wanda, que já foi o homem mais rico do país, citado pelo jornal Beijing News.
Nesta mesma publicação, compartilhavam de sua opinião Jack Ma, fundador do gigante de comércio eletrônico Alibaba, e Liu Chuanzhi, presidente da companhia de computação Lenovo, para quem o partido vai-se unir ao povo para "realizar grandes sonhos".
A Tencent, gigante de Internet, comemorou o congresso do PCC com um jogo para smartphones que permite aplaudir virtualmente o discurso de Jinping.
Todos sabem que estão submetidos à pressão: o Estado-Partido desempenha um papel-chefe para favorecer, ou dificultar, o sucesso das empresas. Por isso, exige um direito de observação sobre suas atividades, especialmente por meio dos funcionários do PCC presentes no seio de cada empresa.
O mundo empresarial não se livrou, entretanto, das investigações anticorrupção do Partido. Em 2015, o breve "desaparecimento" do cofundador do gigante privado Fosun, Guo Guangchang, forçado a cooperar com as autoridades, serviu de advertência.
Ao mesmo tempo, o partido volta a controlar as grandes sociedades do Estado, expostas às leis do mercado: uma dezena de grupos públicos de capital aberto indicou, neste ano, ter modificado seus estatutos para oficializar o papel do PCC.
Assim, o fabricante automobilístico GAC, sócio de Honda, Toyota e Fiat-Chrysler, introduziu em julho os estatutos do Partido nos da empresa, comprometendo-se a consultar a célula do PCC antes de tomar decisões importantes, ou nomear de executivos de alto escalão.
As empresas estrangeiras na China também foram afetadas. No fim de 2016, das mais de 100 mil sociedades com capitais estrangeiros, 70% tinham uma célula do Partido, segundo Qi Yu, diretor do poderoso Departamento de Organização do PCC. As empresas estrangeiras consideram as células uma "força positiva", afirmou Qi, em uma conferência durante o congresso do PCC.
Cada vez mais ativas no seio das multinacionais, essas células comunicam as prioridades políticas e podem facilitar os contatos com as autoridades governamentais. Às vezes, "querem, inclusive, pesar nas decisões econômicas", garante o economista Andrew Polk, da Trivium Research.
O fenômeno não é generalizado, mas "um punhado de empresas (europeias) recebeu pedidos para que o Partido agisse ainda mais", explicou em setembro o presidente da Câmara de Comércio da União Europeia na China, Mats Harborn.