A pressão internacional aumentava nesta terça-feira (5) antes da esperada decisão do presidente americano Donald Trump sobre o delicado status de Jerusalém, a fim de evitar qualquer escolha que possa arruinar as esperanças de relançar o processo de paz entre Israel e os palestinos.
"Senhor Trump! Jerusalém é uma linha vermelha para os muçulmanos", declarou nesta terça o presidente turco, Recep Tayyip Erdogan, em um discurso exibido na televisão, durante o qual ameaçou romper as relações diplomáticas com Israel se o governo americano transferir a representação diplomática para esta cidade.
Presidente em exercício da Organização para a Cooperação Islâmica, Erdogan indicou que uma cúpula dos 57 países membros será convocada "em 5 ou 10 dias" se Washington reconhecer Jerusalém como a capital de Israel.
Já a União Europeia alertou para as "graves repercussões" de uma tal decisão americana. "É preciso continuar focado nos esforços para relançar o processo de paz e evitar toda a ação que possa prejudicar esses esforços", indicou a chefe da diplomacia europeia, Federica Mogherini.
"Devemos encontrar um caminho mediante negociações para resolver o status de Jerusalém como futura capital de ambos os Estados (israelense e palestino) para que as aspirações de ambas as partes possam se concretizar", declarou Mogherini após se reunir em Bruxelas com o secretário de Estado americano, Rex Tillerson.
"Tudo o que possa contribuir para alimentar a crise é contraproducente neste momento", ressaltou o minisro alemão das Relações Exteriores, Sigmar Gabriel. "Uma solução ao problema de Jerusalém só pode ser encontrada por meio de negociações diretas entre as duas partes".
Na segunda-feira à noite, durante um telefonema com Trump, o presidente francês Emmanuel Macron "expressou sua preocupação sobre a possibilidade de que os Estados Unidos reconheçam unilateralmente Jerusalém como capital do Estado de Israel".
"Emmanuel Macron lembrou que a questão do status de Jerusalém deverá ser regulada no marco das negociações de paz entre israelenses e palestinos, aspirando especialmente a criação de dois Estados que vivam juntos em paz e em segurança com Jerusalém como capital", informou o Eliseu.
Nabil Chaath - conselheiro de alto escalão do presidente palestino, Mahmud Abbas - alertou o presidente americano que Washington acabará com os esforços de paz de sua administração, caso reconheça Jerusalém como capital de Israel.
"Não aceitaremos a mediação dos Estados Unidos, não aceitaremos a mediação de Trump. Será o fim do papel desempenhado pelos americanos neste processo", disse Chaath à imprensa.
"Não sei se isso provocará distúrbios, mas haverá, sem dúvida, manifestações populares em toda parte. Espero que não haja violência", advertiu.
A Jordânia, que é guardiã dos lugares santos muçulmanos de Jerusalém, alertou no domingo à noite que essa decisão fomentará a violência e não contribuirá para o processo de paz.
Em 1995, o Congresso americano adotou o "Jerusalem Embassy Act", que pede ao executivo a transferência da embaixada.
A lei é vinculante para o governo americano, mas uma cláusula permite aos presidentes adiar sua aplicação durante seis meses em virtude de "interesses de segurança nacional".
Trump deve decidir se adia ou não por mais seis meses os planos de trasladar a embaixada.
Todos os presidentes fizeram isso desde 1995 por considerarem que não era o momento para uma decisão dessa envergadura.
A nova data limite terminava teoricamente na segunda-feira.
"O presidente foi claro desde o início: não é uma questão de 'se' (a embaixada será deslocada para Jerusalém), mas uma questão de 'quando'. Mas nenhuma decisão será adotada hoje (segunda-feira) e faremos um anúncio nos próximos dias", afirmou ontem o porta-voz da Casa Branca Hogan Gidley.
Mas segundo vários observadores, o republicano é tentado por uma terceira opção que poderia consistir em adiar um tal deslocamento, mas reconhecendo em parte Jerusalém como capital de Israel.
Mesmo esta solução de compromisso seria um casus belli, advertem os líderes palestinos, que estimam que Jerusalém Oriental, anexada por Israel em 1967, deve ser a capital do Estado a que aspiram e que o status da cidade só pode ser resolvido como parte de um acordo de paz com os israelenses.
Os palestinos já se viram envolvidos num imbróglio de sua missão diplomática em Washington, que os Estados Unidos consideraram recentemente seu fechamento por razões relativamente obscuras antes de voltar atrás.
Os islamitas do Hamas ameaçaram uma "nova Intifada", enquanto o ministro da Defesa israelense, Avigdor Lieberman, considerou "uma oportunidade histórica para reparar uma injustiça".
Este é um dilema para o presidente americano, que luta para manter suas promessas de campanha: se cumprir o que prometeu, arrisca arruinar os esforços de seu conselheiro Jared Kushner, a quem confiou a tarefa de reconciliar israelenses e palestinos. Uma paz indispensável, aos olhos do genro do bilionário, para trazer estabilidade à região e unir israelenses e países árabes contra um inimigo comum, o Irã.