Nobel da Paz 2017 acredita na abolição rápida das armas nucleares

Ativistas antinucleares consideram proibição de armas nucleares pela ONU grande vitória
AFP
Publicado em 06/12/2017 às 15:30
Ativistas antinucleares consideram proibição de armas nucleares pela ONU grande vitória Foto: Foto: AFP


Os ativistas antinucleares que vão receber o prêmio Nobel da Paz 2017 no próximo fim de semana esperam que um novo tratado para a proibição dos armamentos nucleares permita deixar a bomba no passado de uma vez por todas.

Em entrevista prévia à cerimônia de 10 de dezembro, a responsável pela Campanha Internacional para a Abolição das Armas Nucleares (Ican), Beatrice Fihn, lembrou que a atitude a respeito de outras armas e comportamentos nocivos mudaram de um dia para o outro, após sua proibição.

Apesar da crise entre Estados Unidos e Coreia do Norte, que provocou a ameaça nuclear mais grave em décadas, Fihn disse à AFP que a abolição rápida das armas nucleares é "muito realista".

A Ican, que há anos alerta para o perigo desse tipo de armas, registrou uma importante vitória, quando a ONU aprovou em julho um novo tratado para sua proibição.

Adotado por 122 países apesar da oposição das potências nucleares, o documento pode levar anos para entrar em vigor, já que o texto precisa ser ratificado antes por pelo menos 50 signatários. Fihn está convencida, porém, de que já teve um impacto na opinião pública em relação às armas nucleares.

Sentada no exíguo escritório da Ican em Genebra, essa sueca cita como exemplo a mudança de atitude em relação ao cigarro.

"Não ficamos sentados esperando que os fumantes parassem de fumar. Proibimos fumar em lugares fechados e têm de sair se quiserem continuar fumando", lembrou.

"Hoje, parece ridículo pensar que ficávamos sentados nos escritórios e que fumávamos. É algo realmente louco", afirmou.

"Acho que pode acontecer algo parecido com as armas nucleares. Dez anos mais tarde, não conseguiremos imaginar que teríamos aceitado isso", completou.

'Janela de oportunidade'

Fihn acredita que o tratado de proibição e o Prêmio Nobel para a Ican tenham aberto uma "janela de oportunidade" para mudar o ponto de vista sobre as armas nucleares.

Mencionando as ameaças de intervenção militar do presidente americano, Donald Trump, contra Pyongyang, Fihn considerou a situação "extremamente preocupante" e advertiu contra o aumento do "risco de acidente, ou de erro de cálculo".

"Podemos escolher entre acabar com as armas nucleares, ou deixar que essas armas acabem conosco", completou.

"Acredito que, se preocupa você ver Donald Trump com um acesso às armas nucleares e com a capacidade de [...] destruir o mundo, então, as armas nucleares preocupam", acrescentou.

Ela também considerou ridícula a afirmação dos nove Estados que possuem a bomba atômica de que este armamento pode dissuadir conflitos e promover a paz.

"O grande problema da teoria da dissuasão é a ideia de que, se ameaçarmos cometer mais mortes, massacres, matanças cegas, a paz se imporá de um modo, ou de outro", afirmou.

Chegou o momento - segundo ela - de deixar de considerar as armas nucleares como "uma ferramenta de poder mágica", que alguns países querem possuir para "se sentirem mais importantes", enquanto, na realidade, são armas de destruição em massa.

'Ingênuo'

Fihn não esconde sua frustração a respeito de Estados nucleares que, com frequência, classificam de "ingênuos" os esforços para proibir essas armas.

"Acho que é bem mais o contrário. É ingênuo pensar que nove Estados podem possuí-las, e não o restante do mundo", rebateu.

"É ingênuo achar que podemos ter 15.000 armas nucleares e que elas nunca serão usadas", acrescentou.

Fihn avalia que sua pequena organização e as centenas de grupos antinucleares que ajuda a coordenar por todo mundo já tenham cumprido uma tarefa incrível.

"Os maiores países do mundo, os países militarmente mais potentes, os países mais ricos tentaram impedir [nosso trabalho] e trabalharam ativamente contra nós, e nós fizemos o trabalho apesar de tudo", comemorou.

"Esperemos que isso dê a outras pessoas vontade de se mobilizarem contra as armas nucleares e contra outros temas. A mudança é possível", insistiu.

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