O Reino Unido celebrou nesta terça-feira (26) as expulsões de supostos espiões russos ao redor do mundo como um "ponto de inflexão" na atitude do Ocidente em relação a uma Rússia temerária. Vinte países, incluindo Estados Unidos e 16 membros da União Europeia, decidiram na última segunda-feira (26) expulsar pelo menos 116 supostos agentes russos que trabalhavam sob cobertura diplomática, em uma retaliação coordenada sem precedentes, inclusive no período da Guerra Fria.
Nesta terça-feira (27), a Irlanda se uniu ao movimento e anunciou a expulsão de um diplomata russo. "Nunca antes tantos países haviam se unindo para expulsar diplomatas russos", escreveu o ministro britânico das Relações Exteriores, Boris Johnson, em um artigo publicado no jornal The Times, no qual afirma que este "é um golpe do qual a inteligência russa levará muitos anos para se recuperar".
"Acredito que os acontecimentos de ontem podem virar um ponto de inflexão. A aliança ocidental tomou ações decisivas e os sócios do Reino Unido se uniram contra a ambição temerária do Kremlin", completou.
As expulsões foram uma resposta ao envenenamento com um agente neurotóxico do ex-espião russo Serguei Skripal e sua filha Yulia em 4 de março em Salisbury, sul da Inglaterra. Os dois permanecem em estado crítico em consequência do ataque, atribuído por Londres a Moscou.
Skripal, um oficial de inteligência militar russo detido por Moscou por repassar informações sobre agentes russos a vários países europeus, chegou ao Reino Unido em 2010 graças a uma troca de espiões.
O Reino Unido já havia ordenado a expulsão de 23 diplomatas russos após acusar a Rússia pelo ataque. Moscou negou a acusação e apontou para o serviços de inteligência britânico.
Na segunda-feira, os aliados da Grã-Bretanha seguiram o exemplo, liderados pelos Estados Unidos, que ordenaram a expulsão de 60 russos de seu território, em um novo golpe para as relações entre Washington e Moscou menos de uma semana depois do presidente americano Donald Trump ter felicitado o colega russo Vladimir Putin por sua reeleição.
Outros países se uniram imediatamente à retaliação e anunciaram expulsões em menor escala, um movimento que o chefe da diplomacia russa, Serguei Lavrov, atribuiu à pressão dos Estados Unidos.
"É o resultado de pressões colossais, uma chantagem colossal que constitui, infelizmente, a principal arma de Washington no cenário internacional", afirmou Lavrov durante uma visita ao Uzbequistão.
A Rússia já advertiu que está preparando uma resposta de represália para os países que "se submetem" sem, afirma Moscou, entender totalmente o que está acontecendo.
Em um artigo para o jornal russo Vedomosti, o analista Fiodor Lukianov afirma que as expulsões, "particularmente destrutivas para as relações entre Rússia e Estados Unidos, levam as relações entre Moscou e o Ocidente a um novo período de Guerra Fria".
"Não é o fim da escalada, está claro que vai se agravar, prevemos medidas ainda mais severas, sanções econômicas contra a Rússia", advertiu, enquanto o jornal Izvestia denunciou uma ação de "russofobia".
Ao anunciar as respectivas expulsões, no entanto, as autoridades ocidentais deixaram claro que compartilham a afirmação britânica de que apenas o Kremlin poderia estar por trás do envenenamento de Skripal.
Em seu artigo no jornal The Times, Johnson considera que "o uso de um agente neurotóxico proibido em território britânico é parte da tendência mais amplia de um comportamento temerário de Vladimir Putin".
Ele cita a anexação da Crimeia, o apoio russo ao regime sírio de Bashar al-Assad e as supostas interferências em eleições em outros países. "O fio condutor é a vontade de Putin de desafiar as regras essenciais das quais dependem a segurança de cada país", escreveu.
E, ao criticar as várias teses de Moscou para explicar o envenenamento, o chefe da diplomacia britânica respondeu: "Houve um tempo em que a tática de espalhar a dúvida poderia ser eficaz, mas agora ninguém se deixa enganar".