O presidente da Nicarágua, Daniel Ortega, anunciou neste domingo (22) a revogação da reforma previdenciária que originou a violenta onda de protestos, que deixou ao menos 24 mortos, o que motivou seis países sul-americanos, entre eles o Brasil, a pedir a deposição dos confrontos.
Em um encontro com empresários de zonas francas em Manágua, Ortega disse que o Instituto Nicaraguense de Seguro Social (INSS) tomou a decisão, "revogando a resolução anterior de 16 de abril passado, que foi a que serviu como detonador para que se iniciasse toda esta situação" de protestos.
Naquela data, o organismo de seguridade social reformou o sistema de pensões para aumentar as contribuições dos trabalhadores e dos patrões a fim de dar estabilidade financeira à Previdência. A reforma desencadeou uma onda de protestos que mergulharam a Nicarágua no caos, com confrontos violentos entre manifestantes e policiais, saques de comércios e destruição de edifícios públicos.
Segundo o presidente, a revogação do decreto permitirá abrir o diálogo com os setores que foram às ruas protestar contra a medida, criada para restabelecer o equilíbrio financeiro do INSS. Ortega criticou duramente os manifestantes e os comparou a membros de gangues como os que atuam no norte da América Central.
"Isto nos obriga a por em nossa agenda o combate às gangues. Combatê-las para que não continuem atuando da forma como atual, que não continuem se matando entre si e que não vão assaltar estabelecimentos", disse Ortega durante a reunião. A respeito, acrescentou que "temos que restabelecer a ordem, nós não podemos permitir que aqui se imponha o caos, o crime, o saque".
Antecipou que o governo buscaria outras formas de dar estabilidade financeira ao sistema de pensões e anunciou que convidaria o arcebispo de Manágua, cardeal Leopoldo Brenes, a participar de uma mesa de diálogo que vai analisar o tema.
Em Santiago, seis países sul-americanos pediram a deposição do confronto e a cessação dos atos de força nos protestos na Nicarágua. Segundo um comunicado da Chancelaria chilena, os governos de Brasil, Argentina, Colômbia, Chile, Paraguai e Peru expressaram preocupação e lamentaram os atos de violência registrados no país.
Os seis países "fazem um apelo urgente a todos os setores a depor o confronto e cessar os atos de força" e fizeram um chamado especial às forças de segurança para que exerçam "suas faculdades com a maior prudência para evitar o uso excessivo da força e uma escalada da crise".
Durante as manifestações ocorreram saques e violentos confrontos, que deixaram uma lista de vítimas que inclui estudantes que iniciaram os protestos, policiais e jovens simpatizantes da governista Frente Sandinista, acusados de atacar os manifestantes. Diante disto, países sul-americanos expressaram "suas condolências e solidariedade às vítimas da violência e seus familiares". Os Estados Unidos também lamentaram a violência e a perda de vidas na Nicarágua e fizeram um apelo às autoridades para julgar os responsáveis.