Ao menos 37 pessoas, incluindo um fotógrafo da AFP e outros nove jornalistas, morreram em uma série de atentados em Cabul e no sul do Afeganistão, nesta segunda-feira (30).
Um duplo atentado suicida atingiu a capital na parte da manhã, deixando ao menos 25 mortos, entre eles o chefe de Fotografia da AFP em Cabul, Shah Marai. Outros oito jornalistas morreram igualmente no segundo ataque.
Horas depois, outro atentado suicida em Kandahar (sul) matou 11 crianças, enquanto um repórter afegão do serviço em pastó da emissora britânica BBC foi morto a tiros em Jost (sudeste).
"É com enorme tristeza que a BBC confirma a morte do nosso repórter afegão Ahmad Shah como consequência de um atentado", disse a BBC em um comunicado.
O duplo ataque suicida em Cabul foi reivindicado pelo grupo extremista Estado Islâmico (EI). Em um comunicado divulgado por sua agência de propaganda Amaq, o grupo afirma que o primeiro atentado atingiu a sede em Cabul do serviço de Inteligência e das forças de segurança afegãs, e o segundo, os jornalistas que seguiram para o local.
"Os apóstatas das forças de segurança, dos meios de comunicação e outras pessoas compareceram ao local da operação, onde um irmão os surpreendeu com seu colete de explosivos", completou o braço do EI no Afeganistão.
O Ministério do Interior divulgou um balanço de 25 mortos e 49 feridos.
A ONG Repórteres Sem Fronteiras (RSF) e o Centro de Jornalistas do Afeganistão anunciaram que nove profissionais da imprensa morreram no atentado, entre ele Shah Marai, diretor de fotografia do escritório da AFP em Cabul.
Marai, que seguiu para o local da primeira explosão para registrar imagens, morreu na segunda detonação, que aconteceu 30 minutos após o ataque inicial.
Com 48 anos, o fotógrafo trabalhava para a AFP desde 1996 e cobriu amplamente a situação no país sob o regime talibã e a invasão americana do Afeganistão em 2001, posterior aos atentados da Al-Qaeda em Nova York e em Washington.
"Aprendi a fotografia sozinho, estou sempre tentando melhorar. Agora, minhas fotos são publicadas em todo o mundo", afirmou uma vez Shah Marai sobre seu trabalho.
De acordo com uma fonte das forças de segurança, o homem-bomba que atacou a imprensa estava disfarçado como um fotógrafo, com uma câmera.
"Essa tragédia nos recorda o perigo incessante enfrentado por nossas equipes no terreno e o papel fundamental dos jornalistas para a democracia", reagiu o CEO da AFP, Fabrice Fries.
"Estamos devastados pela morte do nosso fotógrafo Shah Marai, que era testemunha há mais de 15 anos da tragédia que afeta o país. A direção da AFP saúda o valor, o profissionalismo e a generosidade deste jornalista que cobriu dezenas de atentados antes de ser ele mesmo vítima da barbárie", declarou a diretora de Informação da agência, Michèle Léridon.
Várias mensagens de condolências foram enviadas ao escritório da AFP em Cabul. Um jornalista da agência no país, Sardar Ahmad, morreu em março de 2014 ao lado de sua família - com exceção do filho de três anos - em um atentado talibã.
Sardar era um dos melhores amigos de Shah Marai, que deixa seis filhos, a mais nova nascida há apenas 15 dias.
Marai e outros jornalistas seguiram para o local do primeiro atentado, cometido pouco antes das 8h locais em uma área próxima à sede do Serviço de Inteligência Afegão (NDS) em Cabul.
"Um homem-bomba que circulava em uma motocicleta detonou seus explosivos na área de Shash Darak", afirmou o chefe de polícia de Cabul, Hashmat Stanikzai.
A sede do NDS foi alvo de um atentado em março, que deixou três mortos e cinco feridos.
No fim da manhã, um novo atentado, cometido com um carro-bomba, matou 11 crianças que estavam próximas a um comboio de soldados romenos da Otan, perto do aeroporto de Kandahar, sul do país, informou o porta-voz do governo da província, Said Aziz Ahmad Azizi.
Outras 16 pessoas ficaram feridas, incluindo cinco soldados romenos da Otan e dois policiais afegãos.
Além disso, houve o ataque que vitimou o repórter da BBC em Jost.
Na semana passada, os talibãs anunciaram o início da ofensiva de primavera, rejeitando implicitamente os apelos recentes do governo afegão para o início de negociações de paz.
Cabul se tornou, de acordo com a ONU, o local mais perigoso do Afeganistão para os civis com um aumento dos atentados, geralmente cometidos por homens-bomba e reivindicados pelos talibãs, ou pelo grupo extremista EI.
Os atentados contra civis provocaram o dobro de vítimas nos primeiros três meses de 2018 - 763 civis mortos, 1.495 feridos - na comparação com o mesmo período de 2017.
Um ataque em 22 de abril na capital afegã deixou quase 60 mortos e 20 feridos em um bairro de maioria xiita.
Em 27 de janeiro, um atentado na cidade provocou 103 mortes e deixou mais de 150 feridos.