O papa Francisco recebeu nesta terça-feira (26) o presidente francês, Emmanuel Macron, que fez sua primeira visita à Santa Sé, um encontro que se concentrou, em especial, na questão do imigrantes.
A reunião aconteceu na biblioteca do papa e durou 57 minutos, a mais longa de Francisco com um chefe de Estado, ou de governo. Seu antecessor, François Hollande, teve um encontro de 35 minutos, enquanto o ex-presidente americano Barack Obama conversou por 50 minutos com o sumo pontífice, e o atual, Donald Trump, por meia hora.
O presidente francês não bateu, porém, o recorde absoluto de seu predecessor François Mitterrand, que teve um tête-à-tête de 1h15 com João Paulo II.
Macron e Francisco falaram de laicidade, do diálogo inter-religioso, da Europa, do clima e dos imigrantes, assim como de "temas sociais", informou o Eliseu, que descreveu uma "troca muito livre e muito intensa".
Ao final do encontro privado, sua mulher, Brigitte, e o restante da delegação francesa, incluindo o ministro do Interior, Gérard Collomb, e o das Relações Exteriores, Jean-Yves Le Drian, uniram-se a ambos.
O presidente francês ofereceu ao papa uma edição em italiano de 1949 do "Journal d’un curé de campagne", de Georges Bernanos, ardoroso escritor católico. Em troca, recebeu uma medalha de bronze de São Martinho, símbolo da generosidade do século IV.
"É a vocação dos governos proteger os pobres... e tutti siamo poveri ('e todos somos pobres', em tradução literal do italiano)", lembrou-lhe Francisco.
Antes do encontro, Macron teve um café da manhã com a comunidade de fiéis católicos Santo Egídio, muito envolvida na acolhida de imigrantes e organizadora de "corredores humanitários" que levam refugiados sírios para a Europa.
"O presidente Macron mencionou os corredores humanitários como modelo de política de imigração legal, sobretudo, para as pessoas que precisam de proteção humanitária", comentou, após a conversa, o ex-ministro italiano e fundador da comunidade, Andrea Riccardi.
Macron protagoniza uma disputa diplomática com as novas autoridades italianas, em particular com o ministro do Interior, Matteo Salvini, líder da Liga (extrema direita), que defende a linha-dura com os imigrantes que tentam chegar à costa do país, cruzando o Mediterrâneo. Salvani critica a arrogância e o egoísmo da França no tema migratório.
O papa interpela regularmente os dirigentes da União Europeia sobre os imigrantes, alegando que têm a obrigação de "acolher, acompanhar, abrigar e integrar", segundo ele. Na semana passada, considerou que é necessário "investir de maneira inteligente para lhes dar trabalho e educação" em seus países de origem.
O laicismo na França também fez parte da conversa entre Macron e Francisco.
Em um discurso no início de abril na Conferência Episcopal da França, Macron disse querer "reparar" o "vínculo" entre a Igreja católica e a República francesa, "danificado" nos últimos anos, em particular desde a autorização para adoção de crianças por parte de casais homossexuais em 2013.
Este discurso despertou várias críticas na França, enquanto o episcopado classificou como um discurso que refunda as relações entre os católicos e a República.
"A França deveria dizer que as religiões também fazem parte da cultura", afirma o papa.
Batizado na fé católica aos 12 anos, ex-aluno de um colégio jesuíta - onde conheceu sua esposa, que foi sua professora -, Macron se define hoje como "agnóstico".