Jovem palestina que agrediu dois soldados israelenses deixa prisão

Ahed Tamimi, 17 anos, adolescente que se tornou ícone da resistência palestina, deixou a prisão nesse domingo (29), após oito meses
AFP
Publicado em 30/07/2018 às 1:29
Ahed Tamimi, 17 anos, adolescente que se tornou ícone da resistência palestina, deixou a prisão nesse domingo (29), após oito meses Foto: Foto: ABBAS MOMANI / AFP


Ahed Tamimi, adolescente que se tornou ícone da resistência palestina ao agredir e repreender dois soldados israelenses, deixou a prisão neste domingo (29), após oito meses de detenção.

A jovem de 17 anos e sua mãe, que também foi presa após o incidente, foram levadas para Nabi Saleh, na Cisjordânia, um território ocupado por Israel, indicou o porta-voz da penitenciária israelense de Sharon, Assaf Librati.

Ao chegarem ao povoado, foram abraçadas por parentes e amigos que vieram recebê-las. A adolescente, sua mãe e seu pai entraram em casa sob os gritos: "Queremos viver em liberdade!".

"A resistência continua até que a ocupação acabe", disse Tamimi, aplaudida por seus partidários e diante de inúmeros jornalistas reunidos no local.

Em uma entrevista coletiva dada pouco depois no povoado, Tamini disse estar muito feliz de voltar para casa, mas que "essa alegria se vê ofuscada, porque continua havendo prisioneiros detidos".

Tamini se negou a responder perguntas de jornalistas de veículos israelenses pela cobertura injusta - segundo ela - de seu caso.

Questionada sobre seu futuro, a adolescente disse que querer estudar Direito para poder defender "a causa palestina".

Antes da coletiva, Tamimi visitou parentes que perderam um membro da família em junho em confrontos com soldados israelenses. Depois seguiu para Ramallah, onde depositou uma coroa de flores no túmulo do líder palestino Yasser Arafat.

Ela então foi para a sede da Autoridade Palestina, onde se reuniu com o presidente palestino, Mahmud Abbas.

O chefe da Autoridade Palestino saudou a adolescente, "um modelo da luta palestina pela liberdade, independência e estabelecimento do nosso Estado palestino", segundo comunicado divulgado pela agência Wafa.

As autoridades israelenses tentaram limitar a midiatização da libertação e deram informações contraditórias sobre o lugar onde iriam entrar na Cisjordânia.

Antes da libertação, a polícia israelense prendeu, no sábado (28), dois italianos e um palestinos que pintaram no muro de separação um retrato gigante de Tamimi. Os três foram soltos neste domingo.

 Vídeo viral

A jovem foi presa em 19 de dezembro de 2017, alguns dias após a gravação de um vídeo em que aparece batendo em dois soldados israelenses e que viralizou.

Nas imagens, ela é vista se aproximando com sua prima Nour Tamimi de dois soldados israelenses que estavam no quintal de sua casa em Nabi Saleh.

As duas adolescentes pedem que eles saiam e depois batem neles. Ahed Tamimi tinha 16 anos quando foi presa.

Em 21 de março, ela foi condenada a oito meses de prisão. Sua prima foi solta em março.

A jovem, cuja família é conhecida por seu ativismo contra a ocupação israelense, já havia estado envolvida em vários outros incidentes com soldados.

Enquanto muitos palestinos veem em Ahed Tamimi um exemplo de coragem contra os abusos israelenses nos territórios ocupados, muitos israelenses consideram o contrário, como um exemplo de como os palestinos incitam seus jovens ao ódio.

O julgamento da adolescente em um tribunal militar recebeu uma grande cobertura da mídia.

A sentença de Tamimi (oito meses de prisão) é quase tão importante quanto a do soldado israelense Elor Azaria, condenado a nove meses por executar um palestino que estava ferido no chão e que não representava perigo.

"Não se pode transformar em heroína uma pequena terrorista, mas é o que estão fazendo", disse Oren Haza, um deputado do Likud (direita), o partido do primeiro-ministro Benjamin Netanyahu.

"É muito perigosa (...) A maioria dos israelenses vai dizer que gostariam de vê-la na prisão por 20 anos", acrescentou.

Para os defensores dos direitos humanos, o caso de Tamimi destacou as práticas dos tribunais militares israelenses com índices de condenação de palestinos de até 99%.

Como a Cisjordânia é um território ocupado militarmente por Israel, os palestinos que vivem lá são julgados pelos tribunais militares.

"Centenas de crianças palestinas estão atrás das grades e não recebem nenhuma atenção", disse o diretor da Human Rights Watch em Israel, Omar Shakir, denunciando os "maus-tratos endêmicos" de menores.

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