Alvo de críticas internacionais por denúncias de repressão e violência, o governo da Nicarágua do presidente Daniel Ortega deteve a documentarista brasileira Emilia Mello. A expectativa é que ela seja expulsa do país a qualquer momento, segundo Paulo Abrão, da Comissão Interamericana de Direitos Humanos (CIDH), na sua conta no Twitter.
Emilia Mello foi presa no momento em que se preparava para filmar um protesto e levada ao Departamento de Migrações para ser deportada. O episódio ocorreu no sábado (25) e provocou reações entre entidades de defesa dos direitos humanos e da cultura.
A Associação Nicaraguense de Cinematografia (Anci) condenou a ação e considerou o ato uma forma de censura. “Isso estabelece um precedente muito perigoso para futuros cineastas que queiram tentar entrar no país para documentar o que sucede e contar ao mundo a história do que estamos vivendo e registrar qualquer violação dos direitos humanos”, informa o comunicado da Anci.
Recentemente, a Comissão Interamericana de Direitos Humanos (CIDH), ligada à Organização dos Estados Americanos (OEA), informou que 322 pessoas morreram em quatro meses de protestos contra o governo de Ortega, das quais 21 eram policiais e 23, crianças e adolescentes.
A estudante brasileira de medicina Raynéia Gabrielle Lima foi morta a tiros no final de julho. As autoridades nicaraguenses negam perseguição política, assim como o uso da força e da violência.
Os protestos na Nicarágua começaram no dia 18 de abril contra a reforma da Previdência, que acabou sendo revogada diante da pressão social. Mas as manifestações se intensificaram e houve repressão da polícia e de grupos paramilitares ligados ao governo.
Ortega rejeitou a proposta feita por setores da sociedade civil (estudantes, agricultores, organizações de defesa dos Direitos Humanos e empresários) e pela Igreja Católica, de antecipar as eleições para acabar com a crise.
Líder da Revolução Sandinista de 1979, que derrotou a ditadura de Anastásio Somoza, Ortega está sendo acusado até por ex-aliados de querer instalar o autoritarismo semelhante ao que ele combateu. Ele foi reeleito em 2016, mas a votação, sem a presença de observadores internacionais, foi questionada pela oposição.
Na sexta-feira (24), a CIDH alertou que os direitos humanos continuam sendo violados pelo governo nicaraguense, com “estigmatização e criminalização do protesto social”.