Papa reconhece indignação dos jovens com abusos sexuais na Igreja

O papa Francisco disse que não vê uma condenação suficientemente forte por parte da igreja
AFP
Publicado em 25/09/2018 às 12:14
O papa Francisco disse que não vê uma condenação suficientemente forte por parte da igreja Foto: Foto: AFP/Arquivos


O papa reconheceu, nesta terça-feira (25) em Tallinn, durante uma visita à Estônia, que os escândalos sexuais envolvendo a Igreja Católica são um obstáculo para uma juventude que não vê uma condenação suficientemente forte por parte da instituição.

Os jovens "estão indignados com os escândalos sexuais e econômicos, diante dos quais eles não veem uma clara condenação", constatou Francisco, diante de uma juventude cristã do país reunida em uma igreja luterana.

A uma semana de um sínodo que reunirá bispos do mundo todo em Roma para tratar dos problemas da juventude, o sumo pontífice observou que muitos jovens "consideram a presença da Igreja lamentável, até irritante".

Para Francisco, a Igreja deve restabelecer o contato e buscar ouvir melhor uma "geração da imagem e da ação, mais do que da especulação".

A Igreja católica está, atualmente, no centro de uma crise existencial devastadora, em razão da multiplicação de revelações sobre abusos sexuais.

Na terça, a Igreja católica alemã apresentou oficialmente suas desculpas, após a publicação de um relatório devastador relatando agressões sexuais a mais de 3.600 menores no período de 1946-2014.

A diferença é que, agora, muitos bispos estão na mira da Justiça de seus países por terem feito vista grossa, ou organizado transferência de padres pedófilos para outras paróquias.

O amor não morreu

O papa Francisco não respondeu às alegações incendiárias de um prelado italiano, dom Carlo Maria Vigano, segundo as quais ele teria ignorado, deliberadamente por cinco anos, sinais do comportamento predatório do cardeal americano Theodore McCarrick.

O cardeal, de 88 anos, foi acusado no final de julho por um caso antigo de abuso sexual contra um adolescente de 16 anos. O papa então o excluiu imediatamente do colégio dos cardeais, um passo quase sem precedentes.

A presidente da católica Lituânia, Dalia Grybauskaite, que recebeu o papa em seu país no sábado e no domingo, colocou-se ao lado do papa.

"Eu vi um líder que tinha uma imensa responsabilidade sobre os ombros", em especial pelos "erros passados" da Igreja que devem "ser corrigidos", declarou nesta terça em um programa de rádio, referindo-se a um caso explosivo de abuso sexual do clero.

"Isso não amedronta o papa", frisou.

Na véspera de sua viagem, o papa aceitou a renúncia de mais dois bispos no Chile, onde 119 inquéritos estão abertos no momento por agressões sexuais que teriam sido cometidas por membros da Igreja desde os anos 1960.

Em um contexto internacional carregado, o papa procurou tranquilizar a juventude cristã da Estônia nesta terça-feira.

"O amor não morreu", disse ele, contradizendo a letra de uma canção popular do país.

O papa respondia, sobretudo, ao testemunho de Lisbel, uma luterana de 18 anos, que contou a dificuldade de ter um pai alcoólatra pouco amoroso, mas que encontrou conforto na religião.

Os jovens "veem que o amor de seus pais se esgotou, que o amor dos casais se dissolve", continuou.

"Eles experimentam uma dor íntima quando eles veem que não importa para ninguém que eles tenham de emigrar para buscar trabalho", completou.

"Ele criou uma atmosfera de respeito mútuo e de compreensão entre todos", considerou Adeele, uma estudante de 18 anos de confissão luterana.

Muitos dos jovens presentes se apresentavam como não fiéis. Entre elas, Linda Pajula, de 13 anos, que comentou que essa experiência poderia ser "divertida".

"O discurso era complicado, mas eu acho que entendi o essencial", disse ela à AFP.

Com 25% de sua população de origem russa, a Estônia conta com 16% de ortodoxos, 10% de luteranos e apenas 6.000 católicos. Uma ampla maioria se diz refratária à religião.

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