O presidente americano, Donald Trump, indicou nesta quarta-feira (26) na ONU que até as "opções mais fortes" estão sobre a mesa com relação à Venezuela, cujo presidente confirmou a sua participação na Assembleia Geral.
"Todas as opções estão na mesa, todas. As mais e menos fortes", declarou Trump à margem da Assembleia Geral da ONU.
"E já sabem o que quero dizer com forte", ameaçou em referência tácita a uma intervenção militar americana.
"Só quero que a Venezuela se endireite. Quero que as pessoas estejam seguras. Nos ocuparemos da Venezuela. O que acontece na Venezuela é uma desgraça", acrescentou.
O presidente Nicolás Maduro anunciou que está viajando a Nova York para participar da maior reunião diplomática do planeta, onde deve fazer um discurso na tarde desta quarta diante de 130 chefes de Estado e de Governo, chanceleres e embaixadores. O governante participou da assembleia pela última vez em 2015.
"Venho à Assembleia Geral das Nações Unidas para defender a verdade da Venezuela. Venho carregado de emoção, de paixão, de verdades para que o mundo todo saiba que a Venezuela está de pé", declarou à emissora estatal pouco antes de aterrissar, junto com sua esposa, Cilia Flores, sancionada recentemente pelos Estados Unidos.
Após duas décadas de governos chavistas, a economia venezuelana está à beira do colapso: o país com as maiores reservas de petróleo do mundo atravessa uma forte escassez de alimentos e remédios que empurrou ao exílio 1,6 milhão de venezuelanos desde 2015, e a inflação poderia chegar a 1.000.000% este ano, segundo o FMI.
De Caracas, o governo de Maduro acusou Donald Trump de promover uma "insurreição militar" no país.
"A Venezuela manifesta a sua mais enérgica rejeição ante as declarações belicosas e ingerencistas emitidas pelo presidente dos Estados Unidos (...), orientadas a promover uma insurreição militar no país", assinalou a Chancelaria em comunicado.
Pouco após a declaração de Trump, o presidente de Chile, Sebastián Piñera, disse na ONU que uma "opção militar é uma opção ruim" na Venezuela.
"Nós acreditamos que a opção militar é uma opção ruim porque sabe-se como elas começam, mas nunca se sabe como elas terminam e que custos elas terão em termos de vidas humanas e de sofrimento", disse Piñera à imprensa, à margem da Assembleia Geral das Nações Unidas, em Nova York.
A região também aumenta a sua pressão: os líderes de seis países - Argentina, Canadá, Chile, Colômbia, Paraguai e Peru - enviaram nesta quarta-feira uma carta à promotora do Tribunal Penal Internacional (TPI), Fatou Bensouda, pedindo que investigue o governo de Maduro por crimes contra a humanidade desde 12 de fevereiro de 2014, e que denuncie os responsáveis.
Na Venezuela, há sérias denúncias de "prisões arbitrárias, assassinatos, execuções extrajudiciais, tortura, abuso sexual, estupro, ataques flagrantes contra o devido processo", inclusive contra menores de idade, afirmou o chanceler argentino, Jorge Faurie, na declaração.
O pedido ao TPI se baseia em dois relatórios "sólidos e contundentes" sobre a violação de direitos humanos na Venezuela, um da Organização dos Estados Americanos e outro do Alto Comissariado de Direitos Humanos da ONU, explicou o chanceler do Chile, Roberto Ampuero.
"Há um amplo e crescente corpo de evidência de que o regime de Maduro cometeu grandes violações dos direitos humanos contra o seu próprio povo", sustentou a chanceler do Canadá, Chrystia Freeland.
Em fevereiro, o TPI realizou investigações preliminares por "supostos crimes" na Venezuela durante manifestações contra Maduro que deixaram 125 mortos em 2017.
A carta enviada hoje pelos países-membros obriga o TPI a acelerar essa investigação e a apresentar as suas conclusões.
Nesta quarta-feira, Trump disse que "estaria disposto" a se reunir com o seu homólogo venezuelano se assim Maduro desejar, mas não há planos para isso.
"Certamente estou aberto a isso. Eu estaria disposto a me reunir com qualquer pessoa", declarou ao ser consultado sobre um possível encontro. O próprio Maduro havia apresentado essa possibilidade na terça-feira.
Na mesma terça, Trump disse que o governante venezuelano poderia ser derrubado "rapidamente" se os militares desse país assim quisessem, e anunciou sanções contra a sua esposa e três de seus mais próximos colaboradores.
"Aos Estados Unidos não interessam a democracia, se assim fosse não teriam financiado golpes de Estado nem apoiado ditadores, não ameaçariam com intervenções militares governos democraticamente eleitos, como fazem contra a Venezuela", disse o presidente boliviano, Evo Morales, ao sair em defesa de Caracas, nesta quarta, em uma reunião do Conselho de Segurança da ONU.
Há um ano, Trump já havia indicado que os Estados Unidos tinham "uma opção militar" na Venezuela, uma declaração que foi condenada por aliados americanos na América Latina.
O jornal The New York Times informou este mês que diplomatas americanos se reuniram três vezes em segredo com militares que planejavam um golpe contra Maduro.
Mas Washington não deu nenhum apoio material aos dissidentes e os planos de um golpe foram arruinados após a prisão de dezenas de militares rebeldes, assegurou o Times.